A Faculdade Zumbi dos Palmares junto à ONG Afrobras lançaram nesta terça-feira (30/6) manifesto com ações práticas para combater o preconceito e a discriminação racial contra negros, chamado de Movimento AR. A declaração contém 10 ações estratégicas a serem atingidas em cinco anos, com uma meta de alcançar 30% dentro de um ano. A primeira ação começa a ser posta em prática na quinta-feira (2/7), por meio de reunião com o Comando Geral da Polícia Militar de São Paulo.
As mudanças que o manifesto propõe têm em vista possibilitar que pessoas negras tenham acesso à educação e à renda, por meio de parcerias e políticas públicas, levando em consideração tanto o cenário antes e pós-pandemia. “Nós, parte da população negra, já vínhamos de uma realidade em que 70% dos mais de 13 milhões de desempregados eram pretos ou pardos e, após a pandemia, sabemos que quem vai sofrer com o novo cenário são jovens e cidadãos negros”, afirma o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente.
José Vicente, que é também um dos idealizadores do Movimento AR, diz que o projeto ganhou mais estatura após o acontecimento do assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. “No Brasil também tivemos outros ‘George Floyd’, que foram assassinados da mesma maneira, seja pela polícia militar, civil, exército ou seguranças privadas”, relembra.
A população brasileira é composta por 56,10% de pessoas que se consideram pretas ou pardas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad - Contínua) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, segundo o estudo de Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, também realizado pelo IBGE, evidencia que a taxa de homicídio entre a população negra é quase três vezes maior do que a de brancos, 43,4 mortes para cada 100 mil habitantes contra 16 mortes para cada 100 mil habitantes, respectivamente.
José Vicente conta que a ideia do movimento é educar para transformar. “Inspirado com o que ocorreu nos Estados Unidos, nós achamos que aqui também é possível reunirmos formadores de opinião, e assim fazer com que ocorram mudanças e transformações”, acredita.
Alcançando mais pessoas e entidades
Algumas entidades como a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Luiza Helena Trajano - Presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil e as escolas de samba Mangueira e Vai Vai assinaram o manifesto.
Para chegar a toda sociedade, os idealizadores do projeto ganharam o reforço da Agência Grey, que desenvolveu uma campanha publicitária do Movimento AR, com filme e peças de mídia impressa e on-line, além do site. A logomarca foi criada pelo designer gráfico Oga Mendonça. O vídeo da campanha tem Martinho da Vila fazendo a locução do manifesto.
Personalidades brasileiras declararam apoio ao Movimento AR, atores e atrizes como Beth Goulart, Monica Martelli, Paulo Betti, Sérgio Loroza, Veralindá Menezes e Zezé Motta, profissionais da música como Gabi Amarantos, Neto Fagundes, Serginho Moah, Sandra de Sá, da cultura Alan Victor, Deise Nunes, Neilda Fabiano e políticos como a deputada federal Benedita da Silva e o senador Paulo Paim, entre outros.
Para assinar o manifesto e saber como pode ajudar, basta acessar o site do Movimento Ar.
Leia o manifesto na íntegra:
O Manifesto - Ações e estratégias:
Ação Zero: Prorrogação da Lei de Cotas nas universidades públicas federais.
1. Mudança nos protocolos policiais para impedir técnicas de sufocamento e estrangulamento em abordagens policiais, bem como disparos de arma de fogo em invasões ou ocupação de favelas e comunidades.
2. Mudança nos protocolos da segurança privada para acabar com a hostilização, perseguição e constrangimentos nos ambientes públicos e privados, incluindo a eliminação da sala de agressão e tortura presente nos Bancos, Shoppings e Supermercados.
3. Criação de 500 mil bolsas de estudos para qualificação de jovens negros em graduação, pós-graduação, pesquisa, formação tecnológica, economia criativa, negócios e empreendedorismo.
4. Criação de 300 mil vagas de estágios, trainees e profissionais negros nas empresas públicas e privadas.
5. Formação e qualificação de um milhão de quadros corporativos em Discriminação e Racismo e Gestão da Diversidade Racial.
6. Implementação de recursos por meio de ferramentas, mecanismos, metodologia de gestão, gerenciamento da inclusão, desenvolvimento de carreira, ações e políticas de diversidade racial em 300 empresas públicas e privadas.
7. 300 milhões em compras corporativas do ambiente público e privado, de serviços e produtos de empresas e empresários e profissionais negros.
8. Fundo Vidas Negras Importam de R$ 200 milhões para o fomento, apoio e financiamento educacional, empreendedor, tecnológico e de economia cultural criativa para jovens negros.
9. Implementação integral da Lei da História do Negro e história da África e da disciplina de relações étnico-raciais em todo ambiente escolar e universitário público e privado do país.
10. Campanha de instalação da Rua Zumbi do Selo da Igualdade Racial, ampliação e expansão da Virada da Consciência.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá