O período de suspensão de atividades presenciais nas universidade públicas brasileiras pode não ter tempo certo para chegar ao fim, mas as instituições não estarão desprevenidas quando as condições de reabertura chegarem e começam a planejar como será o retorno de milhares de alunos, professores, técnicos e terceirizados que ocupam os câmpus ao redor do país.
O temor de que uma possível volta às aulas ocasione mais casos de contágio por coronavírus é presente em docentes, servidores e estudantes em todo o país. O planejamento do retorno deve ser feito com cautela e seguindo todas as orientações de saúde.
Priorizando evitar uma nova onda de contaminações, o “novo normal” das universidades públicas tem desde ensino híbrido, mesclando aulas presenciais e a distância, até conferências on-line com a participação de toda comunidade acadêmica. Confira como instituições ao redor do país estão agindo nesta fase de preparação:
Centro-Oeste
UnB e IFB fazem consulta à comunidade
Na Universidade de Brasília (UnB), a fase é de planejamento. Em carta aberta, a reitora Márcia Abrahão deu detalhes das ideias que estão sendo traçadas para o retorno, ainda sem data definida. A instituição montou o Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR), dividido em subcomitês, com diferentes atribuições administrativas e acadêmicas.
“Todas as nossas ações vêm sendo compartilhadas e discutidas com a comunidade universitária. Realizamos reuniões de conselhos superiores e outras específicas com diretores de institutos e faculdades, nas quais debatemos os possíveis cenários para o retorno às atividades acadêmicas”, declarou a reitora na mensagem. A última reunião do comitê aponta para uma possível retomada não presencial das atividades, com a adoção do ensino remoto emergencial.
“Um raio X inicial feito pelo Decanato de Ensino de Graduação (DEG) demonstrou que 55% das disciplinas ofertadas no primeiro semestre deste ano poderiam ser realizadas por meio de exercícios domiciliares. É preciso, no entanto, garantir que todos possam cursá-las. Ninguém será deixado para trás”, afirma.
UFG se estrutura com grupos de trabalho
Com aulas suspensas e sem atividades remotas até o momento, a Universidade Federal do Goiás (UFG) lançou pesquisa para estudantes para saber se eles têm acesso a internet e dispositivos digitais. Também instituiu grupo de trabalho para estruturar a retomada quando ela for possível. Esse grupo tem pautado reuniões no conselho máximo da universidade para tratar do assunto.
O resultado é um documento com resoluções sobre atividades acadêmicas remotas, mas a vice-reitora da universidade, Sandramara Matias, esclarece que não há previsão de retomada das aulas nem de início de atividades a distância.
“Essa possibilidade foi bastante discutida no conselho acadêmico, mas a adoção dessa medida precisa ser consensual entre todos os diretores e comunidade acadêmica”, afirma.
Sudeste
A Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) optaram por manter as atividades em sistema de ensino remoto emergencial. Confira detalhes de como está o funcionamento de cada uma:
As fases da Unicamp
Rita de Cássia Ietto Montilha é professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp) e relata preocupação com uma possível volta antes da hora. “Nós nos preocupamos com a segurança dos alunos, com os residentes, com o corpo docente em geral. Torcemos para que o sucesso do planejamento coordenado com a comunidade acadêmica”, diz.
A Unicamp paralisou as aulas em 12 de março, sendo uma das primeiras do país a suspender atividades presenciais por causa da pandemia. Reitor da instituição, Marcelo Knobel conta que a retomada será dividida em fases. A fase 0 é de preparação, incluindo compra de insumos, álcool em gel, sabonete, verificação da limpeza, contato com fornecedores para treinamento de funcionários da limpeza e vigilantes para evitar aglomerações.
“Planejamos um retorno escalonado de três ou quatro meses para poder acompanhar e testar os nossos estudantes, funcionários e professores”, declara o reitor. Ele ainda informa que um estudo muito cuidadoso será feito antes de qualquer consulta à comunidade acadêmica sobre um possível retorno. Na universidade, as aulas estão suspensas pelo menos até 30 de junho.
A decisão de oferecer aulas a distância é polêmica para a maioria das universidades do país. Knobel conta que para oferecer o ensino remoto, a Unicamp precisou fazer uma série de adaptações, entre elas fornecimento de recursos para que estudantes tivessem acesso às aulas e flexibilização de tempo para trancamento de disciplinas, sem prejuízo para a vida acadêmica do aluno.
“A palavra chave neste momento é flexibilidade. É preciso dar flexibilidade para o estudante nesse momento tão complexo”, defende Knobel. Para outras instituições que querem se adaptar ao método de ensino remoto, ele aconselha: “É uma outra maneira de dar aula e requer uma adaptação que não é simples nem trivial. Não adianta tentar passar uma aula que em sala duraria quatro horas para uma atividade on-line”.
Além de adaptar os conteúdos ao formato, é fundamental considerar o contexto. “Cada universidade tem realidade, momento e dificuldade próprios. Nós não tínhamos muito preparado [para o ensino remoto emergencial], mas ponderamos diversas questões, como nossa obrigação como instituição pública, de manter o funcionamento de algumas atividades (como nossos hospitais) e acreditamos que o ensino também é parte das coisas fundamentais de serem mantidas”.
O reitor reafirma que, no planejamento para o retorno, a principal preocupação é com a saúde e a vida. “Por isso mesmo, gosto de ressaltar que a palavra-chave é flexibilidade e também compreensão para este momento que estamos vivendo.
A realidade da USP
Na USP, mais de 90% das aulas teóricas dos cursos de graduação e mais de 900 disciplinas de pós-graduação estão sendo ministradas on-line. A instituição distribuiu mais de 2 mil kits de internet para os estudantes com necessidades socioeconômicas acompanharem as aulas.
Com atividades suspensas desde 17 de março e sem previsão de retomada, um grupo coordenado pelo vice-reitor da universidade, Antonio Carlos Hernandes, está elaborando com diretores das unidades de ensino, um planejamento para a retomada das atividades presenciais. Em 16 de junho, os dirigentes devem se reunir virtualmente para discutir o plano.
Unesp: normalidade só depois de 2020
A pró-reitora de graduação da Unesp, professora Gladis Massini-Cagliari, afirma que será impossível voltar a qualquer situação de normalidade em 2020. A docente reforçou que a instituição realizou a compra de chips para telefones celulares, que serão distribuídos aos estudantes que não têm acesso à internet de casa. A universidade também vai iniciar um grande treinamento com docentes para o uso das tecnologias de apoio ao ensino.
UFRJ: conselhos refletem sobre ações
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) optou por suspender as atividades presenciais sem aplicar ensino remoto emergencial. A utilização de plataformas virtuais só é permitida em turmas que faziam uso dessa tecnologia anteriormente. A reitoria está fazendo pesquisa junto à comunidade universitária sobre acesso a recursos remotos.
No Conselho de Ensino de Graduação (CEG) e o Conselho de Ensino para Graduados (Cepg), há grupos de trabalho que estudam questões relacionadas ao calendário acadêmico e assuntos correlatos. Uma comissão também analisa formas complementares de educação ao ensino presencial.
UFMG consulta estudantes
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) suspendeu atividades presenciais e não recorreu ao ensino remoto emergencial. Recentemente, a universidade mineira abriu consulta sobre as condições dos estudantes de acesso à internet e meios digitais. Além disso montou também grupos de trabalho para pesquisar e estruturar um retorno, quando for oportuno e permitido pelas autoridades de saúde.
A UFMG estrutura um planejamento de retorno gradual das atividades em curto, médio e longo prazo. A proposta prevê adaptações na infraestrutura física da instituição, além de rigorosos protocolos sanitários para toda comunidade acadêmica. Ainda em junho, o Comitê Permanente planeja organizar conferências on-line para debater temas relacionados à nova fase de enfrentamento da pandemia e reflexões sobre o “novo normal”. O comitê de enfrentamento do coronavírus propôs 14 orientações iniciais para o combate à doença.
Entre as instruções, estão o reforço e a adesão a medidas de proteção individual, reorganização e adequação dos ambientes acadêmicos e administrativos, respeitando a distância de dois metros entre as pessoas, estabelecimento de rodízios e escalas de horários para a ocupação das salas de aula, disponibilização de álcool em gel em todos os espaços, exigência de uso de máscaras, adoção de protocolos sanitário e comportamental, divulgação de campanhas educativas e elaboração de cuidados com o transporte coletivo e de recomendações para organização de eventos, atividades culturais e esportivas.
Sul
UFSC tem comitês de confiança para se orientar
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a suspensão das atividades é por tempo indeterminado. Entretanto, a instituição iniciou na quarta-feira (3/6) uma ampla pesquisa com a comunidade acadêmica a respeito da realização de atividades remotas.
O conselho universitário tem baseado as ações em estudos realizados por comitês formados em 18 de maio. Essas informações nortearão as ações, seja para o retorno presencial, seja para implementação de atividades à distância, inclusive aulas.
UFRGS avisará alunos sobre aulas 15 dias antes
Já na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as aulas estão suspensas até 30 de junho. Entretanto, isso não é sinal de que as atividades serão retomadas após a data. Em portaria divulgada pela instituição, a administração informou que, quando o retorno for certo, os alunos serão avisados com 15 dias de antecedência. A vice-reitora da UFRGS, Jane Tutikian, coordena um grupo de trabalho sobre a retomada das atividades presenciais.
Nordeste
UFPE tem EAD na pós-graduação
Com aulas presenciais suspensas por tempo indeterminado, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) retomou o calendário acadêmico da pós-graduação com aulas a distância na quarta-feira (4/6). Os encontros serão ministrados seguindo o modelo de ensino remoto emergencial. A instituição não tem previsão para o retorno presencial das atividades, nem previsão de aulas remotas para a graduação por enquanto.
UFBA: sem aulas, mas com várias ações
Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), as atividades da graduação e da pós-graduação podem estar suspensas, mas a instituição segue operando ações variadas no combate ao covid-19 e reportando no portal [coronavirus.ufba.br].
Além disso, a pesquisa das condições de acesso e uso de ferramentas digitais por professores e estudantes foi aplicada em abril. Entre 18 e 29 de maio, a universidade promoveu um congresso virtual, com mais de 38 mil inscritos, para debater com os estudantes as questões atuais.
UFC organiza reposição para volta dos estudos em julho
Desde terça-feira (2/6), a Universidade Federal do Ceará (UFC) oferece intensa programação on-line para a comunidade: são 19 weboficinas, webconferências, webinários e lives pelo YouTube abordando temáticas e difundindo conhecimentos relacionados a letramento digital e tecnologias educacionais. A iniciativa faz parte do Plano de formação para o apoio e acompanhamento das atividades educativas em tempos de pandemia de Covid-19 e está entre as medidas de apoio para garantir condições de amplo acolhimento e conectividade digital aos estudantes.
Durante o mês de junho, a universidade estabeleceu um período de planejamento rumo à reposição da jornada acadêmica e à conclusão do primeiro semestre letivo de 2020. O plano de retomada deverá contar com atividades remotas, a UFC oferecerá aos estudantes, servidores docentes e técnico-administrativos uma série de ações formativas, além de apoio pedagógico e tecnológico, dando suporte para que a comunidade possa voltar, gradativamente, à rotina de estudos a partir de julho.
A instituição está avançando nas discussões coletivas para a construção da Proposta Pedagógica de Emergência (PPE), que visa a estruturação de mecanismos para a reposição de aulas e para a conclusão do primeiro semestre letivo de 2020. A PPE passa por apreciação de diretores e vice-diretores de unidades acadêmicas e coordenadores de programas acadêmicos (CPACS), que tiveram a oportunidade de analisar as principais premissas da proposta.
De acordo com a versão preliminar da PPE, algumas disposições estão asseguradas: tempo para organização das turmas que retomarão as atividades, formação pedagógica e tecnológica para professores, suporte pedagógico para estudantes e pacotes de inclusão digital para alunos em vulnerabilidade socioeconômica, entre outras. O Conselho Universitário garante que nenhum aluno será prejudicado por não ter conseguido participar de atividades remotas durante a suspensão das atividades presenciais.
Norte
Debates para o retorno na UFAC
A região Norte é uma das mais afetadas pela pandemia, por lá a Universidade Federal do Acre (UFAC) ainda não tem previsão de volta. No entanto, estão estabelecidos dois grupos de trabalho, um administrativo e outro acadêmico.
O objetivo dos grupos é discutir medidas para a volta às atividades presenciais, assim que for decretado pelo estado o fim das medidas de distanciamento. A instituição não adotou o ensino remoto emergencial, mas promoveu alguns eventos de cunho acadêmico durante a suspensão.
A instituição SADEBR preparou um manual para ajudar instituições de ensino a se planejarem e se prepararem para o tal do "novo normal". O Guia de ações práticas para o retorno das aulas no cenário pós-pandemia pode ser acessado gratuitamente no link. O documento traz 28 passos para as faculdades adotarem antes do retorno presencial.
>> Colaborou Ana Paula Lisboa
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa