A Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB) e a Escola de Direito de Brasília do Instituto de Direito Público (EDB/IDP) têm tradição no Exame de Ordem e, no contexto do Distrito Federal, revezam o pódio do índice de aprovação dos estudantes. Houve edições em que a faculdade particular, que tem entre seus sócios-fundadores o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, ultrapassou a federal.
Ambas as instituições tiveram nota 5 no último Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e destacam em levantamento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que considera o desempenho de escolas jurídicas com pelo menos 100 inscritos na 27ª, na 28ª e na 29ª edições do Exame de Ordem. A UnB foi a oitava colocada nacional e a primeira do DF: dos 351 inscritos da universidade, 63,5% passaram na prova.
Com melhor desempenho, só há universidades públicas. A Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto foi a melhor colocada de todo o país, com 79,5% dos 127 alunos aprovados. O IDP, com taxa de aprovação de 50,3% entre seus 191 concorrentes, ficou em 28º lugar nacionalmente e no segundo lugar em Brasília. A escola se sobressai na rede privada: o IDP ficou em segundo lugar entre as instituições particulares, atrás das Faculdades Integradas de Vitória (10º colocada nacionalmente no ranking geral).
Fórmulas de qualidade
Para o diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Mamede Said Maia Filho, a boa performance da UnB se deve, primeiramente, à qualidade dos alunos. “O processo de entrada no curso é muito disputado. Então, é natural que recebamos um contingente de estudantes muito preparados”, explica. Segundo Mamede, carências de estrutura acabam sendo superadas. “Temos problemas de ordem material e de manutenção, mas isso é suprido pela qualidade dos alunos, pela qualidade dos professores e pelo nosso projeto pedagógico.”
Na visão dele, o Exame de Ordem é relevante, e o bom desempenho nele revela a excelência da graduação. Mamede elogia também o segundo colocado no DF, o IDP. “Embora seja novo, é um bom curso, com corpo docente qualificado. Boa parte dos professores, são nossos ex-alunos de graduação ou são mestres e doutores pela UnB”, observa. Marcelo Proença, coordenador da graduação em direito do IDP, está feliz com o resultado da instituição, mas não surpreso, nem satisfeito. “Ser a segunda melhor faculdade particular de direito do país é excepcional. Existem mais de 1.000 instituições privadas em direito no Brasil”, diz.
O feito, porém, não gera surpresa, pelo fato de a instituição estar constantemente avançando. Isso também não é motivo para se acomodar. “Não estamos satisfeitos porque queremos ser melhores ainda”, explica. “Ficamos em segundo lugar entre as privadas do Brasil, em primeiro lugar entre as privadas do Centro-Oeste e somos a primeira colocada entre as particulares fora da região Sudeste”, comemora. “Estamos obtendo resultados típicos de universidades públicas. Os que mais aprovam no Exame de Ordem no DF são UnB e IDP. No Centro-Oeste, são UnB, UFMT e IDP.”
A fórmula para entrar na lista das melhores com pouco tempo de existência (o curso foi aberto em 2011), explica Marcelo, está na qualidade dos funcionários, dos professores e dos alunos. “Uma das nossas principais tarefas é selecionar, treinar e motivar nossos 88 docentes, que se colocam como um dos melhores grupos acadêmicos do país, tanto do ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista do entusiasmo e da paixão pelo direito, do engajamento e do carinho com os alunos”, afirma.
Paixão pela área
O grupo de 1.000 estudantes do IDP, segundo Marcelo, é muito diverso e plural. “É um conjunto heterogêneo de pessoas, de todas as idades, crenças, origens e orientações, que nos enche de orgulho. A única coisa que traz eles para um lugar comum é a paixão pelo estudo do direito.” O diretor também cita a estrutura física de ponta e os valores da instituição como ingredientes importantes. “Sempre ouvimos dos fundadores: não queremos ser os maiores, queremos ser os melhores. Não buscamos quantidade, mas qualidade”, explica.
Renato Bastos Abreu, 27 anos, é aluno do 10º semestre de direito do IDP. Ele fez o Exame de Ordem ainda no 9º semestre e foi aprovado. O apoio da faculdade foi fundamental: para a primeira fase, contou com a ajuda de um coach que dava direcionamentos em grupo e individuais. Para a segunda fase, em que escolheu direito penal, foi assessorado por duas professoras — uma juíza e uma advogada — e havia momentos para tirar dúvidas individualmente.
Ele também recebeu um vade mecum exclusivo a fim de levar para a etapa discursiva. Essa é a segunda graduação de Renato, que se formou em ciência política pela UnB. “A diferença de estrutura entre as duas é um pouco gritante”, diz. Na Universidade de Brasília, ele frequentava, por exemplo, salas não climatizadas e tinha dificuldade de acesso a wi-fi.
Fundamental para um bom desempenho no Exame de Ordem, acredita Renato, foi a participação em projeto de iniciação científica no IDP. O estudante se adaptou bem às aulas digitais durante a pandemia de coronavírus, e avalia que algumas matérias podem continuar a distância até mesmo quando a crise de Covid-19 passar.
E a pandemia?
Na UnB, as aulas estão suspensas, e a última turma de direito colou grau por meio de cerimônia virtual recentemente. A expectativa de Mamede Said Maia Filho, diretor da FD, é de que tudo seja reposto. E a instituição tem experiência com isso, pois já precisou repor atividades após várias greves. “Esperamos que o semestre seja retomado sem férias no meio do ano e invada um pouco do segundo semestre, que deve se estender até fevereiro do ano que vem”, projeta. No IDP, as atividades continuam normalmente on-line, como explica o coordenador Marcelo Proença. “A gente migrou tudo para o digital. Damos aulas ao vivo. Eu ligo meu computador às 8h, e todos os alunos estão me esperando.”