De acordo com levantamento da empresa de pesquisas educacionais Educa Insights, em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), 94% dos alunos que cursam graduação presencial em instituições de ensino superior particulares pretendem continuar estudando, mesmo com os impactos da crise do novo coronavírus. Entre os estudantes que cursam ensino a distância (EAD), esse índice é de 96%. Os dados foram apresentados em uma coletiva de imprensa on-line nesta quinta-feira (2).
O levantamento mostra que 57% dos alunos têm a intenção de seguir com os estudos, independentemente do cenário; 37% querem continuar a graduação, mas consideram que há risco de desistência. Apenas 6% afirmaram que provavelmente desistirão devido ao contexto atual. A maioria dos estudantes do último grupo (58,4%) aponta a preocupação com a manutenção do emprego como o principal fator que poderia levá-los a deixar o curso. Outros fatores apresentados pelos alunos são o temor de que os pais ou responsáveis não consigam arcar com as mensalidades (11,9%) e a dificuldade de se adaptar às aulas virtuais (15,3%).
Há, ainda, uma parcela (7,5%) que pensa em desistir da faculdade para usar o dinheiro para cobrir despesas e outra que deixaria a graduação caso não fossem interrompidas as aulas presenciais diante do risco de contaminação ao novo coronavírus (6,9%). O sócio-fundador da Educa Insights Daniel Infante analisa os números da pesquisa de maneira positiva. “Esse é um resultado muito importante e significativo para as instituições”, afirma. Ele reconhece que, apesar dos impactos na economia, a situação ainda é “bastante controlável” no setor educacional. “No momento em que estourou a pandemia, nós buscamos maneiras de ajudar o setor a reagir da forma mais estruturada possível.”
Impacto nas matrículas
Ainda segundo Infante, o impacto da crise na captação de novas matrículas é mínimo. “Boa parte de quem entraria (em uma faculdade) já havia se inscrito quando a situação começou”, explica. O levantamento da Educa Insights e da ABMES também ouviu pessoas que pensam em começar um curso de ensino superior, presencial ou a distância, nos próximos 12 meses. Entre os entrevistados, 43% preferem esperar a situação se normalizar para começar a graduação; 22% pretendem começar no meio deste ano; 30%, no início de 2021; 6%, na metade do ano que vem.
O sócio-fundador da Educa Insights explica que, embora haja outras demandas mais importantes para as instituições de ensino superior no momento — como a adaptação para o modelo de aulas virtuais —, o foco em captação de novos estudantes também precisa entrar no planejamento. Afinal, quase um quarto dos entrevistados pretende começar a graduação já na metade deste ano.
Valor das mensalidades
Desde que as faculdades particulares substituíram as atividades presenciais por aulas on-line, grupos de estudantes têm cobrado a redução da mensalidade para o valor de graduações a distância. O presidente da ABMES, Celso Niskier, explica, entretanto, que o modelo adotado atualmente pelas instituições de ensino superior não é EAD. “As faculdades estão implementando aulas presenciais de forma remota, o que é diferente do ensino a distância tradicional. Não cabe essa comparação.”
Há um movimento, inclusive, de assembleias legislativas para tentar aprovar descontos coletivos. De acordo com Niskier, essa medida está “completamente fora do escopo da realidade”. Ele explica que o problema é pontual, não generalizado. “Se a gente horizontalizar os descontos, oferecendo 30% para todos os estudantes, por exemplo, não conseguiremos atender àqueles que necessitam de mais do que 30% e atenderemos quem tem condições de pagar o valor integral”, justifica. “Individualizar o tratamento é melhor do que judicializar essa questão”, acrescenta.
O presidente da ABMES destaca que as entidades ligadas à educação estão negociando soluções de créditos para que o percentual de alunos que não terá condições de bancar os estudos nos próximos meses possa ser atendido. Ele aconselha que esses estudantes procurem suas faculdades e discutam formas viáveis de continuar a graduação. “Vocês serão ouvidos”, garante. Ainda de acordo com Niskier, as faculdades estão se movimentando para auxiliar os alunos que não têm acesso a aparatos tecnológicos em casa. “Nenhum deles vai ficar para atrás se depender das instituições de ensino superior.”
Sobre a pesquisa
O levantamento “Coronavírus e Educação Superior: o que pensam os alunos?” foi realizada virtualmente entre 20 e 23 de março. A pesquisa ouviu homens e mulheres, entre 17 e 50 anos, das classes sociais A, B, C e E. Participaram do estudo 485 alunos de graduação, matriculados em cursos presenciais ou EAD de instituições particulares, há pelo menos 6 meses.
Também foram entrevistadas 512 pessoas que pensam em começar um curso de ensino superior, presencial ou a distância, nos próximos 12 meses. Estão previstas outras duas etapas da pesquisa, que deverão ser realizadas na segunda quinzena de abril e em meados de maio de 2020.
Confira a pesquisa completa no link.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá