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Alunos afirmam que UniCeub não tem condições de oferecer aulas on-line

Instituição opta por substituir aulas presenciais por atividades a distância e alunos pontuam prejuízos. Em nota, centro universitário afirma que manterá decisão

Alunos do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) reclamam da falta de organização da instituição de ensino superior perante a substituição imediata das aulas presenciais por atividades em meios digitais. Segundo denúncia feita pelo movimento estudantil Ágora, a instituição não preparou os profissionais e estudantes para continuar os cursos de forma on-line. 

Em medida publicada na última quarta-feira (18) no Diário Oficial da União (DOU), o Ministério da Educação (MEC) autorizou a suspensão ou substituição das atividades acadêmicas presenciais por aulas on-line enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus. A decisão é válida ao sistema federal de ensino, composto pelas universidades e institutos  federais, Colégio Pedro II, Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), Instituto Benjamin Constant (IBC) e instituições de ensino superior particulares. 
 
No mesmo dia da publicação, o Uniceub comunicou aos alunos a decisão de manter atividades acadêmicas enquanto durar a pandemia e pediu ao discentes uma ‘dose extra de compreensão’. Os cursos de graduação presencial e programas de mestrado e doutorado passaram a ser on-line no dia seguinte, 19 de março,  pelas ferramentas do Google For Education.

 
Não satisfeitos com a medida, representantes da organização estudantil  Ágora se reuniram com a coordenação dos cursos de direito e relações internacionais e apresentaram as preocupações dos estudantes. Entre os principais pontos discutidos está a qualidade do ensino. Segundo Gabriel Nicolini, estudante de direito do Uniceub e consultor de insights estratégicos do Ágora, os educadores não receberam treinamento para dar atividades em meios digitais. “A metodologia é complicada, não é uma coisa que você faz do dia para a noite. Além disso, os professores não têm estrutura em casa. Fazer uma boa aula [on-line] depende de uma boa internet”, afirma. “Não se cria educação a distância da noite para o dia”, completa. 
 
Para Rodrigo Cabral, aluno de direito e coordenador de articulação política do Ágora, os professores tiveram que preparar uma estrutura de aula a qual não estão acostumados e por isso a qualidade do ensino é prejudicada. A maior reclamação de Rodrigo é o preço da mensalidade, que se mantém o mesmo, sem nenhum desconto, apesar de a instituição não ter os mesmos gastos com energia, água e segurança, por exemplo, enquanto as aulas presenciais estão suspensas. "Eu paguei por um curso presencial e não quero fazer a distância. Estou cursando o oitavo semestre, tenho monografia e muitas matérias que preciso para fazer a prova do Exame da Ordem dos Advogados (OAB)", explica. 
 
Outra estudante de direito, que prefere não se identificar, se mostra preocupada com familiarização dos alunos e professores com as plataformas on-line. Segundo ela, alguns cursos merecem uma dedicação mais intensa que só pode ser feita presencialmente. "Algumas pessoas sentem dificuldade em usar essa ferramenta. Isso pode prejudicar muita gente", alega.

O aluno de arquitetura Vitor Ferreira Clé sente que o aprendizado será prejudicado sem as aulas presencias. "O meu curso depende muito de atividades práticas e contato com o professor. Via internet, a orientação não chega de maneira adequada", pontua. 
 
Graduando também em arquitetura, Caio Guimarães, presidente do Cacau (Centro Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo), coloca em pauta os materiais que algumas disciplinas necessitam para executar as atividades, como computadores, softwares, prancheta de desenhos e outros específicos de cada matéria.
 
"Por esses motivos, muitos alunos pensam em trancar o curso ou retirar matérias que acreditam não ter a mesma eficiência de aprendizagem virtualmente, ou pela incapacidade de exercer tais matérias a distância. Entretanto, isso não é possível, por conta da retirada do prazo de matrícula do ar ao iniciar a pandemia, impossibilitado a alteração da grade curricular dos alunos", argumenta.
 
Um dos fundadores do lÁgora e estudante de engenharia da computação, Giordano Migliorini Estevão, questiona a falta de diálogo da instituição com a comunidade discente para definir  as soluções. "O problema principal é o fato de as aulas estarem sendo transferidas para o on-line e serem obrigatórias. Nós nunca fomos consultados e tivemos apenas que aceitar", afirma. Ele conta também que, em uma das aulas on-line que fez, o professor não iniciou atividade no horário combinado. 
 
Nas páginas , os alunos deixam comentários com diversas dúvidas. Confira abaixo:
  
Após tentativas de negociações com as coordenações do centro universitário, o Ágora expôs o descontentamento com a medida em uma rede social. O movimento estudantil afirma que recebeu uma ligação da coordenação solicitando que a publicação fosse retirada do ar.
 
O grupo, além de não apagar, fez uma nova postagem com todos os últimos ocorridos  e afirmaram:  “Queremos deixar claro a todos que não faremos isso sem que tenhamos o espaço para uma representação direta, realmente preocupada com o aluno, para dialogar com a reitoria”. 
 
Por outro lado, a estudante de ciências biológicas Vitória Isabela acredita que a manter as atividades por vias digitais foi a melhor alternativa possível. Ela conta que a coordenadora do curso procurou saber se todas as turmas teriam acesso à internet e disponibilidade para acompanhar as aulas e teve um retorno positivo. “Com o atual cenári,o não há muito o que fazer, nós precisamos nos resguardar e ficar em casa. Essa é uma forma de não nos distanciarmos tanto dos conteúdos que estávamos aprendendo”, explica. 
 
Em nota para o Eu, Estudante, o Centro Universitário Ceub afirma que manterá decisão até que as atividades presenciais sejam liberadas pelo Ministério da Saúde e Governo do Distrito Federal.

Confira a nota do Centro Universitário na íntegra:

"Em 19/03/2020 o Centro Universitário adotou o uso temporário de recursos para mediação do ensino e aprendizagem com a plataforma Google for Education para oferecer as atividades da Graduação Presencial e Pós-Graduação Stricto Sensu, como as aulas, trabalhos, avaliações, TCC's e Monografias. As demais aulas de laboratório e de campo serão repostas após o retorno regular, em datas a serem combinadas. Esse modelo será mantido até que sejam liberadas as atividades presenciais por parte do Ministério da Saúde e do GDF.
 
A diretoria do CEUB reitera o esforço de seu corpo docente para que a adaptação a este modelo acontecesse da forma mais rápida e eficiente possível, e informa que tem encontrado novos e surpreendentes caminhos para manter o ensino estimulante e producente. A Instituição agradece ainda a compreensão e receptividade por parte dos alunos presentes nas salas virtuais que, em sua imensa maioria, demonstram empatia e compreendem a necessidade inexorável desta decisão."
 
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá. 

Gabriel Nicolini/ Reprodução -
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