Por meio de um ofício enviado ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) pediu a suspensão completa das atividades de ensino na universidade por tempo indeterminado. O calendário acadêmico será rediscutido quando a situação de circulação de pessoas estiver regularizada.
As atividades presenciais da universidade estão suspensas desde a última sexta-feira (13), devido ao risco de exposição ao novo coronavírus. Entretanto, as aulas foram substituídas por atividades virtuais. De acordo com a ADUnB, a medida prejudica os estudantes que não têm acesso livre à internet em casa.
Confira o ofício na íntegra:
Ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB
Reitoria em Cópia
Senhores e Senhoras Conselheiros,
A Associação de Docentes da Universidade de Brasília tem acompanhado de perto as medidas coletivas de proteção à nossa comunidade e vem partilhar com os senhores e senhoras algumas preocupações no interesse da categoria docente.
Todos e todas estamos cientes da gravidade dessa pandemia, sem precedentes na história, e que começa a se espalhar pelo nosso país, tornando imprescindível reduzir rapidamente a circulação de pessoas para reduzir, consequentemente, a velocidade de contágio. A Resolução do CEPE 0011/2020, de 14 de março, suspendeu até o dia 29 do mesmo mês as atividades presenciais de ensino, pesquisa e extensão e o DEG emitiu comunicado orientando a substituição das aulas presenciais por atividades virtuais por meio do uso de ferramentas e plataformas de EAD, disponibilizadas pela universidade.
Nós estamos compreendendo essas medidas como uma solução temporária para manter os alunos em atividade neste primeiro período de interrupção. Mas, acreditamos que elas não poderão dar conta de manter qualidade de ensino e equidade de acesso, caso seja necessário um prolongamento de maior duração das atividades presenciais. Enumeramos abaixo as razões principais que nos fazem pensar assim:
1. Existe um conjunto de conhecimentos e técnicas em torno de textos e aulas em EAD desenvolvidos ao longo do tempo, demonstrando que para garantir qualidade de ensino nesta modalidade não se pode, simplesmente, fazer o mesmo que se faria em sala diante de uma câmera de computador ou dentro de uma sala virtual de debate. É verdade que muitos de nossos professores tem experiência anterior em EAD, o que torna mais fácil para eles, na dependência da natureza dos conteúdos, adaptar as aulas ao formato virtual. Entretanto, essa não é a realidade, talvez, da maioria dos nossos docentes e suas dificuldades com essas ferramentas não permitirão, por um lado, a isonomia na qualidade da oferta e, por outro lado, não pode expô-los ao conjunto dos estudantes como docentes despreparados, ou negligentes.
2. A UnB não dispõe de nenhum estudo sobre inclusão digital de seus estudantes, no que se refere à qualidade da acessibilidade domiciliar dos mesmos. É sabido, entretanto, que muitos deles dependem de conexões disponibilizadas publicamente, cuja possível radicalização das medidas de isolamento os impedirá de acessá-las, prejudicando exatamente o grupo dos estudantes mais vulnerável, em um contexto, onde já estão suspensos os passes estudantis de transporte público. Ou, poderá ainda, forçar esse grupo a procurar os locais com sinal aberto, obrigando-os a gastos e expondo-os a maiores riscos, o que também vai de encontro à equidade das oportunidades.
Saiba Mais
3. Não parece evidente que o nosso provedor e nossa rede suportarão, de uma só vez, todas as disciplinas de todos os cursos usando plataformas abrigadas em nosso CPD. Do mesmo modo, nos preocupa se o suporte técnico necessário às novas demandas desse uso generalizado das plataformas on line poderá ser mantido diante da redução de efetivos técnico-administrativos presenciais necessários à proteção desse setor. Devemos notar que problemas com quedas temporárias de conexão não chegam a ser raras em condições normais na UnB, o que causa maiores inseguranças para longos períodos de sobrecarga do sistema.
4. Entre as medidas do governo pensadas para reduzir nossa jornada para 30 horas e baixar 25% de nossos salários, encontra-se a proposta de transformar 40% de todos os cursos em atividade EAD. Assim sendo, se no esforço de respondermos às demandas emergentes da pandemia, nós transformarmos, ainda que sem condições, os cursos presenciais de todo um semestre em modalidade EAD, estaremos reforçando essa perspectiva irreal e contrária aos interesses de toda a comunidade universitária.
No dia de ontem surgiu o primeiro caso comunitário no Distrito Federal e as estimativas de especialistas apontam para 4.900 casos no Brasil até o fim desse mês. Desta maneira, acreditamos que no dia 29 de março deverá estar mais claro para todos e todas que o rigor nas medidas de isolamento físico necessário só aumentará nas semanas seguintes. Neste sentido, solicitamos aos conselheiros e conselheiras, que ao fim desse período determinem a suspensão completa das atividades de ensino por tempo indeterminado, com posterior discussão do calendário acadêmico quando a situação de circulação de pessoas já esteja regularizada, devendo-se ter em conta que o conjunto de docentes e da comunidade acadêmica em geral não pode ser culpabilizado pela crise com perda de seus direitos.
Com votos de respeito e consideração,
Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - ADUnB
A DIRETORIA