Ana Isabel Mansur*
postado em 15/07/2019 17:16
Iago Montalvão, 26 anos, é estudante de economia da Universidade de São Paulo (USP), militante da União da Juventude Socialista (UJS) e filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde 2012. Eleito no último domingo, durante a plenária final do 57; Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), em Brasília, com 4.053 votos (70,92%), ele será o 54; presidente da UNE, em mandato pelos próximos dois anos.
Natural de Goiânia (GO), Iago é envolvido com o movimento estudantil desde cedo. Atuou no Grêmio do Colégio Aplicação, escola pública da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, na direção do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFG, na vice-presidência da UNE Goiás e no Centro Acadêmico Visconde de Cairu, na USP. Era diretor de memória estudantil na gestão da UNE que se encerrou.
A trajetória que levou Iago à presidência
Iago cursou história por três anos antes de estudar economia. Ele afirma que as atividades em que esteve envolvido contribuíram para a eleição à presidência da UNE. ;Toda a minha trajetória me deu experiência para que eu pudesse entender um pouco melhor o cenário da educação brasileira. Eu enxergo como uma tarefa coletiva que me foi dada;, diz a respeito da nova jornada. ;Nunca foi uma pretensão, mas acho que cheguei até aqui assumindo as tarefas que me foram dadas.;
UNE é contra cobranças nas universidades
Iago assume em meio a rumores de que as universidades públicas vão cobrar mensalidade dos estudantes. O Projeto Future-se, de acordo com Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), teria como objetivo fortalecer a autonomia financeira das universidades e dos institutos federais. Sem esclarecer como se dará a mudança, porém, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse no último domingo, pelo Twitter, que as universidades continuarão públicas, de acordo com o ;sistema atual (pagadores de impostos); e que ;avanços maiores; serão apresentados na próxima terça-feira (16).
O novo presidente da UNE vê a possibilidade de cobrança de mensalidades como solução populista. ;É mais um malabarismo, os problemas são muito mais complexos. Desde o início deste governo, o MEC vive uma crise permanente, porque não existe um projeto concreto para a educação;, afirma. ;Começam a surgir ideias rasas e polêmicas que não vêm de nenhum embasamento teórico ou qualitativo. A cobrança de mensalidades é um absurdo sem tamanho, não tem nenhum sentido.;
Para Iago, não há provas de efetividade da medida. ;Não atinge um patamar razoável de financiamento da educação, (a cobrança) seria meramente simbólica.; Ele defende a manutenção da cobrança via impostos, porém por meio de uma reforma tributária. ;Os estudantes já pagam pela universidade pública. O equilíbrio das contas deve ser feito com uma tributação progressiva e justa. Isso o governo não debate.;
Como será a organização do movimento estudantil?
Iago defende a formação de bases estudantis fortes. ;A tarefa principal é organizar os estudantes e estimulá-los a participar dos centros acadêmicos, dos diretórios e das organizações estudantis.; Para ele, a mobilização com atos de rua deve ser um contraponto ao governo. ;Precisamos garantir a resistência. Já não bastam os cortes, existe também uma política de dizer o que tem que ser ensinado e pensado dentro da universidade pública, sem respeito às diversidades;, afirma.
"Estamos com muita energia e disposição. As manifestações de maio nos mostraram que existe um setor da sociedade que está disposto a se mobilizar. As pessoas ficaram esperançosas porque viram a juventude se movimentando e isso é muito forte. Estamos com expectativas de organizar ainda mais gente. Nesse congresso, vimos muita gente nova querendo se organizar, participar e dando atenção a essas questões do movimento estudantil", diz.
Estudantes ganham novo horizonte de esperança
Para Iago, o Conune representou a continuação das manifestações em defesa da educação que vêm acontecendo desde maio. ;Vimos muita gente nova querendo se organizar, participar e dar atenção às questões do movimento estudantil. No congresso, vimos que é possível organizar ainda mais gente;, afirma.
Ele, que foi candidato pela chapa Tsunami da Educação, acredita que a UNE continua com representação forte e atuante. ;O congresso trouxe muito ânimo, conseguimos reunir mais de 10 mil estudantes, foram pouco mais de 5.700 delegados votantes.;
Iago crê que o saldo do encontro da UNE foi positivo. ;Em um momento político de estudantes indo para as ruas, como foi em maio, e demonstrando protagonismo na luta, o Conune se faz ainda mais importante.; A presença dos estudantes nas ruas também foi pauta do congresso. ;Conseguimos fazer bons debates com estudantes do Brasil inteiro. Saímos com um novo dia nacional de manifestações marcado: 13 de agosto.;
Ele acredita que o ânimo dos estudantes alcançou o restante da população e amplia o horizonte de esperança. ;Estamos com muita energia e disposição. As manifestações mostraram que existe um setor da sociedade que está disposto a se mobilizar. As pessoas ficaram esperançosas porque viram a juventude se movimentando e isso é muito forte.;
57; Conune termina com carta de reivindicações
Além da nova diretoria, a 57; edição do Conune aprovou em consenso a ;Carta de Brasília;, documento que reafirma o papel da educação na superação de desigualdades e da crise econômica atual e unifica as reivindicações do movimento estudantil presentes no encontro.
Também foram aprovadas três resoluções (conjuntura, movimento estudantil e educação) e moções sobre diversos assuntos, como crise venezuelana, fim das disciplinas on-line obrigatórias e o acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia.
O congresso teve início na noite da última quarta-feira (10), na Universidade de Brasília (UnB), com o lançamento da campanha ;Mais livros, menos armas;. Na ocasião, estudantes fizeram apresentação dramática e desfilaram com estandartes que exibiam obras da literatura nacional.
Na sexta-feira (12), o Conune reuniu estudantes, professores e entidades ligadas à educação em marcha na Esplanada dos Ministérios. Os manifestantes se posicionaram contra a reforma da Previdência, os cortes na educação e a queda no número de empregos.
O congresso também teve debates, grupos de discussões e encontros musicais. Estiveram presentes o jornalista Glenn Greeenwald, o ex-candidato a presidente pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) Guilherme Boulos, as cantoras Leci Brandão e Duda Beat e a bateria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, campeã do carnaval carioca deste ano.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá.