[SAIBAMAIS] O prêmio se trata de um troféu irônico em protesto aos cortes de 30% no orçamento de custeio das universidades e institutos federais, redução das bolsas de pesquisa e outras medidas que ;violam os princípios da autonomia universitária;, segundo o Observatório do Conhecimento. ;Confeccionado especialmente para premiar o ministro Weintraub, o troféu em forma de tesoura dourada simboliza a triste ironia do Brasil ter um ministro da educação que trabalha contra sua própria pasta;, esclarece o grupo.
Em carta, eles pedem ao ministro que revogue imediatamente os cortes no orçamento de universidades e institutos federais, respeite a autonomia e liberdade acadêmica ao nomear reitores escolhidos pela comunidade universitária, garanta a continuidade de todas bolsas de pesquisa do sistema Capes, mantenha programas de assistência estudantil para formação e permanência, e preserve integralmente as políticas de cotas sociais e raciais.
A professora da UFRJ, Lígia Bahia, de 64 anos, reclama do descaso com o qual foi recebida pelo Ministério nesta manhã. "Chegamos aqui às 11h, e a primeira medida que fizeram foi fechar a porta do MEC. Nós mal conseguimos expor os motivos que nos trouxeram até aqui. Nós somos professores da universidade, não é possível que o MEC se sinta ameaçado por seus próprios professores. Se não podemos entrar aqui, quem entra? O MEC existe para o quê, afinal?", contesta a professora. ;Somos professores comprometidos com o ensino de qualidade, estamos aqui para dialogar com o ministro, mas nos deparamos com essa situação;.
;Pensamos que é preciso reverter esses cortes para 2019, e estamos muito preocupados com a lei orçamentária de 2020. Nossas universidades tiveram uma expansão de acesso, hoje temos mais alunos no ensino superior do que tínhamos antes, e com um orçamento menor ainda;, ressalta Lígia. Para ela, Weintraub merece o troféu por causa de ;atitudes agressivas em relação às universidades públicas;. ;Ele (o ministro) vem se expondo publicamente num sentido de muita agressividade às instituições, com suas manifestações debochadas em relação ao trabalho sério que fazemos, e a construção do futuro que a universidade pública representa;, defende a professora.
Lígia relatou que, após aguardar de 11h às 12h50 por algum representante de Weintraub que pudesse receber suas reivindicações, foi recebida por uma funcionária que realizou o protocolo da carta de maneira informal. No entanto, o prêmio não foi entregue ao ministro. "Caso não seja possível protocolar a carta e o prêmio, sairemos daqui e esperaremos por alguma ocasião ou cerimônia pública em que o ministro apareça para fazer essa entrega", informou.
Já o professor e presidente da associação de docentes da UniCamp, Wagner Romão, 43, tinha expectativas de que o ministro os recebesse. ;Ele é um ministro bastante midiático, gosta desse tipo de ação, de imagem. Eu achei que ele nos entenderia e nos receberia, ou pelo menos algum assessor;, conta. Para ele, Weintraub merece a tesoura dourada por mostrar um ;descaso com sua própria pasta;. ;Ele já disse que algumas áreas da educação não precisam existir, que o Brasil forma doutores demais, e diz que pretende investir em educação básica, mas os cortes também estão na educação básica. É um equívoco muito grande você não relacionar o incremento da educação básica sem investimento na educação superior;, critica o professor.
Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa do Ministro da Educação não se posicionou sobre o assunto até a última atualização da reportagem.