postado em 15/07/2019 06:00
Quando o maestro francês Claude Brandel chegou à Casa do Cantador, em Ceilândia, para acompanhar uma turma do projeto musical Arte Jovem, o burburinho logo cessou. Na posse de seus instrumentos, os alunos se posicionaram para apresentar sua arte ao convidado. Na plateia, o estrangeiro fez questão de filmar cada instante.
Conhecido por reger orquestras no mundo todo, o maestro está no Brasil para dar aulas de regência orquestral e prática de orquestra a jovens estudantes de música. É o projeto Academia Claude Brendel. Para encerrar a temporada, o francês regerá, nesta segunda-feira (15/7), um concerto ao lado dos participantes do workshop no Teatro dos Bancários de Brasília, às 20h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. Na ocasião, também anunciará seis nomes para quem ele oferecerá bolsas de estudos em um dos maiores conservatórios na França, o Conservatoire à Rayonnement Régional de Rouen.
Entre um intervalo e outro das aulas, Brendel aproveitou a vinda para conhecer projetos sociais, como o Arte Jovem. Além do talento à frente dos músicos, o maestro se destaca como pedagogo musical, sendo responsável pela formação de centenas de instrumentistas e maestros.
;A música tem um poder de juntar pessoas com horizontes diferentes em torno de uma mesma prática. Até aí, não tem muita diferença do esporte, por exemplo, mas o que muda é que, quando a gente faz música, a gente acaba tocando a música de outras pessoas. Então, se a gente compara com o futebol, a gente pode considerar que um jogo é um momento muito efêmero. Tocar a quinta sinfonia de Beethoven não é efêmero, porque é uma coisa que existe desde o século 18 e que a gente ainda segue tocando e que ainda vai tocar por muitos séculos;, comentou.
Passado o nervosismo do primeiro encontro, nem parecia que havia um tradutor para intermediar a conversa do lado francês com o português. Em gestos, o maestro comunicava o que queria aos jovens e eles logo atendiam. Tocaram juntos o Hino à Alegria e o hino nacional da França, La Marseillaise. De imediato, Claude afirmou: ;O entusiasmo de vocês tem de servir de exemplo para os jovens franceses;.
Do fundo da orquestra, um trompetista perguntou qual conselho Brendel daria aos brasilienses. ;Explorar a capacidade e o timbre da banda sinfônica; explorar o estilo francês do fraseado, a forma de conduzir e também o conhecimento sobre diversas estéticas musicais; tentar ao máximo encontrar e reproduzir um som cheio, um som redondo, evitar o som explosivo e fazer respirações coletivas;, orientou o convidado.
Se a alegria daqueles jovens músicos contagiou o maestro, não seria diferente ao receber a homenagem final ao som de Frevo Mulher. Apesar da paixão pela música erudita, Brendel aposta no produtivo diálogo entre as linguagens clássica e popular. E destaca, nos brasileiros, o interesse em transformar o frevo, por exemplo, em sons orquestrados. Aplaudido de pé pelos alunos, Brendel atendeu cada um que quis registrar aquele encontro.
;Uma noite memorável, inesquecível e muito gratificante para os meninos;, descreveu Edmilson Júnior, diretor musical do projeto. Ao lado da mulher, Inayá Amanacy, coordenadora administrativa do Arte Jovem, ele toca há quatro anos o grupo que atende meninos e meninas a partir dos dois anos em Ceilândia.
Apresentação
Concerto alunos da
Academia Claude Brendel
Nesta segunda-feira (15/7), às 20h
Teatro dos Bancários de Brasília
(EQS 314/315, Bloco A)
Projeto Arte Jovem
Telefones para contato:
(61) 98426-8123 / (61) 98415-8123
Endereço: Casa do Cantador, Quadra 32 Área Especial G, Ceilândia Sul
Funcionamento da secretaria: Sábado, das 9h às 12h
Orquestra como sociedade
Na Casa do Cantador, o maestro Claude Brandel enfatizou o poder da música em unir pessoas, de diferentes idades, em torno de um mesmo ideal. Como é possível passar a paixão de uma geração para a outra? ;A música pode ajudar a construir o caráter do adulto de amanhã. Nas artes de um modo geral, o artista que faz com muito zelo acaba tendo a consciência de que tudo que ele faz é com muito esforço, tem a consciência de que tem que se dedicar em prol de um objetivo e isso ajuda a construir não só o carácter, mas um ser humano muito melhor em outras áreas do conhecimento;, observou.
Para ele, em projetos de inclusão social, como o Arte Jovem, talvez a música não seja o foco final. ;Vai além. Para mim, uma orquestra é, na verdade, uma microssociedade, onde, já de cara, a gente precisa saber viver em comunidade. A gente tem que aprender as regras de viver em sociedade, saber escutar o outro, saber respeitar o outro. Isso é muito importante para a nossa vida como adulto, como cidadão. E quando a gente faz esse trabalho com jovens, a gente espera que eles levem isso para toda a vida;, finalizou o maestro.
As palavras de Brenden condizem com a história do trombonista Jefferson Carvalho de Moura, 28 anos. Ele ingressou na música há mais de 10 anos. Hoje, além de estudar na Universidade de Brasília (UnB), é professor voluntário do Arte Jovem e participa das aulas do maestro francês. Além das oportunidades de conhecer outras culturas e outros lugares fazendo o que ama, ele conta que aprendeu sobre foco e disciplina nas aulas musicais. Com o maestro, elenca que tem descoberto a ser ;350% pronto;. Inclusive, Jefferson confessa que, mesmo sem querer criar expectativas, já se imagina como um dos seis ganhadores da bolsa de estudos para o Conservatoire à Rayonnement Régional de Rouen.