O Centro Educacional (CED) 1 do Cruzeiro será o terceiro da rede pública do Distrito Federal a contar com ensino técnico integrado ao médio. A partir de 2016, 140 estudantes, divididos em quatro turmas, terão acesso à capacitação em informática junto às aulas regulares. O ensino profissional será assimilado ao currículo acadêmico, o que requer a reforma de toda a estrutura escolar. ;Os alunos entrarão no colégio pela manhã e ficarão até o fim da tarde, mas não vai ter aula técnica num turno e regular em outro. As disciplinas serão mescladas e conversarão entre si. O professor de história, por exemplo, poderá contar sobre o surgimento da informática na sua disciplina;, ilustra Jovandir Botelho, diretor do CED 1.
A escolha pela área de tecnologia da informação (TI) para o curso vai ao encontro das necessidades do mercado. Mais da metade dos brasileiros acessa a internet diariamente, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). ;Isso significa uma enorme mudança nos padrões de comportamento da sociedade. A tendência é esse número aumentar cada vez mais, e é preciso acompanhar a demanda;, explica Sergio Sgobbi, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Sérgio ainda revela que o momento econômico negativo do Brasil afeta apenas tangencialmente o setor. ;Temos uma queda real na oferta de empregos porque as tecnologias da informação são área- meio; então, quando os outros ramos param de crescer, nosso crescimento diminui também. No entanto, essa não é uma tendência de médio e longo prazo porque o uso das tecnologias de informação e comunicação ainda deve aumentar e se diversificar bastante nos próximos anos;, prevê.
Modelo diferenciado
O formato integrado a ser adotado no CED 1 é bastante peculiar, se comparado às maneiras mais comuns de oferecer formação técnica. A integração é uma das três formas existentes no Brasil. Além dela, existem ainda a concomitante ; em que o aluno faz o ensino médio em uma instituição e o técnico em outra, em turnos diferentes ;, e a subsequente ; em que o estudante procura uma formação profissional depois de terminar a educação básica. Priscila Cruz, diretora executiva da organização Todos pela Educação, argumenta que agregar os currículos é a maneira mais vantajosa de preparar o jovem para o futuro. ;Nesse modelo, o aluno não precisa esperar o fim do ensino médio para começar o curso nem ver conteúdo repetitivo por estudar em dois lugares ao mesmo tempo. Além disso, as matérias acadêmicas ficam mais acessíveis porque é possível ver a aplicação prática delas;, esclarece.
Mesmo com tantos benefícios, o projeto não conquistou os discentes logo de início. ;No começo, achei uma ideia muito ruim, porque vou ter de passar o dia todo na escola e não vou mais poder dormir nem jogar videogame à tarde;, conta Pablo Henry Castro, 15 anos, aluno do 9; ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Cruzeiro, que está pré-matriculado no curso. ;Tivemos que mostrar a eles que é uma oportunidade de conseguir um futuro melhor, ter um emprego, uma carreira, além de todo o conhecimento a mais que vão adquirir;, relata Rita Silvano, diretora do CEF 1 do Cruzeiro, escola parceira do CED 1 na implantação do projeto.
O empenho funcionou. Prova disso é que jovens como Pablo, agora, estão animados com a novidade. Ele até tem planos de formatar os computadores de toda a família. ;Dá para ganhar bastante dinheiro trabalhando com informática, e isso me fez mudar de ideia;, alegra-se o adolescente. Também teve quem nem precisou de incentivo para se interessar, como Alice Feitosa, 15, também do 9; ano do CEF 1. ;Sempre gostei de aprender e até fiz um curso de Windows 7. Na época, adorei porque pude ensinar a todos da minha casa como mexer direito no computador. Agora, espero descobrir muito mais coisas e até criar sites, jogos e aplicativos para outras pessoas usarem;, afirma, animada.
Os dois estudantes têm grandes chances de ter as expectativas atendidas. De acordo com o banco de dados do Sistema Nacional de Empregos (Sine), a média salarial dos técnicos em informática varia de R$ 1,2 mil a R$ 3,1 mil, dependendo do porte da empresa e da experiência do profissional. Em relação ao aprendizado, Sergio Sgobbi da Brasscom garante que essa é uma parte que sempre integra o trabalho dos profissionais de TI. ;A tecnologia surge e muda muito rápido, por isso precisamos fazer cursos e buscar conhecimento constantemente. Gostar de estudar é característica fundamental para trabalhar na área;, informa. Sergio ainda complementa: ;É preciso saber se adaptar ao perfil empresarial, e o melhor jeito é se aproximar do mercado desde o início do curso;.
Priscila Cruz, do Todos pela Educação, também chama a atenção para a importância de relacionar o mercado de trabalho à formação dos estudantes. ;No Brasil, costumamos tratar o aprendizado técnico como um saber de segunda classe, e é preciso muito cuidado para que o ensino nessas escolas não se torne acadêmico travestido de técnico. Para isso, os alunos devem sempre cobrar que as instituições mantenham relações próximas com as empresas porque é nelas que eles aprenderão a maior parte das técnicas;, previne.
"O curso é uma forma de garantir a eles um direito assegurado pela nossa Constituição. A escola é responsável por formar o aluno para a continuação dos estudos, o mercado de trabalho e a vida;
Jovandir Botelho, diretor do CED 1
Oportunidade aberta
O curso foi planejado pela diretoria do Centro Educacional 1 em parceria com a chefia do CEF 1, a equipe de professores, além de pais e alunos dos dois colégios. Os estudantes do 9; ano do Centro de Ensino Fundamental 1 têm prioridade de matrícula no Centro Educacional 1, que é a terceira escola pública do DF a adotar o modelo integrado de ensino. Apesar da baixa adesão, a gerente de Acompanhamento de Educação da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (Seel), Maria do Rosário Cordeiro, afirma que todas as regionais de ensino têm conhecimento da política e podem relatar à secretaria o interesse em adotar a medida. ;O processo é colaborativo e depende da iniciativa da comunidade em parceria com a direção da escola. É preciso, primeiramente, que eles identifiquem a necessidade ou a vontade dos alunos e pais e que informem isso à regional de ensino;, esclarece.
Depois dessa etapa de sondagem, começa outra que engloba reuniões com a comunidade escolar, capacitação de professores e gestores para alinhar os métodos utilizados nas aulas regulares aos do ensino integrado, e a formulação de um plano de curso que será submetido ao Conselho de Educação do DF. A partir daí, a implantação do método é feita de forma gradual no ano letivo seguinte. ;Em 2016, apenas as turmas de 1; ano vão participar do ensino integrado. Os alunos do 2; e do 3; ano terminarão o ensino médio conforme o currículo que começaram. Só depois que essas turmas se formarem, a escola será completamente de ensino técnico integrado ao médio;, explica o diretor do CED 1, Jovandir Botelho.
Inscreva-se
Estudantes que cursarão o 1; ano do ensino médio em 2016 poderão entrar no processo seletivo do CED 1. Serão 140 vagas, com reserva de 80 para os alunos do CEF 1. A previsão é de que o edital saia entre 6 e 7 de dezembro, no site da Secretaria de Educação: www.se.df.gov.br.
Exemplos de sucesso
Primeira escola do Distrito Federal a aderir ao sistema, em 2006, o Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional (Cemi) do Gama é destaque na rede pública com o curso técnico em informática e formou 915 alunos no modelo. ;A evasão beira a zero, e a concorrência é altíssima. São ofertadas 80 vagas por ano, e chega a ter mil inscritos no edital;, afirma Maria do Rosário, da Secretaria de Educação. Tanta procura não é por acaso: no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, o Cemi foi a terceira colocada entre as escolas públicas.
Em Brazlândia, a integração foi feita na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Centro de Ensino Irmã Regina. O curso técnico de controle ambiental começou neste ano. ;Por lá, não pode ser o dia todo porque a maioria das pessoas trabalha, mas incorporar o ensino técnico, com certeza, foi um diferencial para manter os alunos focados. Assim, eles têm perspectiva de empregos e salários bem melhores;, considera Maria do Rosário. A primeira turma teve 38 matriculados, e novas vagas estão abertas para o ano que vem na secretaria da escola até 15 de dezembro.
Para estudar
No DF, 93 instituições oferecem formação técnica. Veja algumas:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB)
Tem câmpus no Gama, na Asa Norte, em Ceilândia, na Estrutural, em Planaltina, no Riacho Fundo, em Samambaia, em São Sebastião, em Taguatinga Norte e em Taguatinga Centro. Oferece as três modalidades de ensino técnico, além de cursos de nível superior. Todas as aulas são gratuitas. Novas matrículas são divulgadas pela internet no início e no meio de cada ano. Informações: www.ifb.edu.br / 2103-2154.
Escola Técnica de Brasília (ETB)
Localizada em Águas Claras. Oferta cursos técnicos gratuitos subsequentes e concomitantes em informática, eletrônica, eletrotécnica e telecomunicações. Interessados devem ficar de olho nos editais lançados pelo site. Informações: www.etb.com.br / 3901-3534.
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF)
Conta com unidades em Taguatinga Norte, em Taguatinga Centro, no Gama e em Sobradinho. Oferece cursos sequenciais e subsequentes com módulos gratuitos ou pagos. Informações: www.sistemafibra.org.br.
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF)
Oferece aulas na Asa Sul, em Taguatinga, em Ceilândia, no Gama e em Sobradinho. Lança editais regularmente pela internet ao longo do ano letivo. Há módulos gratuitos e pagos. Informações: www.senacdf.com.br.
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-DF)
Localizado na 601 Norte, com curso presencial de técnico em florestas e de técnico em agronegócio a distância. Todos da modalidade subsequente e de graça. Informações: www.senar.org.br.
* Para conferir outros cursos disponíveis no DF, acesse: sistec.mec.gov.br/consultapublicaunidadeensino. Outras oportunidades são oferecidas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec): pronatec.mec.gov.br.