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Celeiro de ideias

Incubadoras de empresas ligadas a universidades ajudam estudantes a tirar projetos inovadores do papel e contribuem para o cenário empreendedor do Distrito Federal, que tem 28 negócios nesses centros

Aproximar o conhecimento acadêmico da realidade de mercado, desenvolver a mentalidade empreendedora entre os estudantes e contribuir economicamente para o desenvolvimento social são os objetivos de incubadoras de empresas ligadas a universidades. O serviço oferece infraestrutura, suporte gerencial e formação complementar para a criação de pequenas e microempresas. No Distrito Federal, quem pretende colocar um projeto inovador para funcionar encontra três centros vinculados a instituições de ensino para propor a ideia.

É nesse contexto de estimular o desenvolvimento no DF e incentivar os estudantes a montarem o próprio negócio que a Agência de Inovação e Empreendedorismo da Universidade Católica de Brasília (UCB) se insere. Lançada em 27 de fevereiro, a iniciativa pretende, por meio da extensão tecnológica, gerenciar as atividades e o diálogo entre o mundo acadêmico e as economias locais. ;Tínhamos setores dentro da universidade que poderiam ajudar nesses casos, como os de tecnologia, jurídico e gestão, mas que precisavam de algo para organizar as competências. A agência foi criada para cuidar da incubação, de patentes de pesquisa e do diálogo entre academia, população e investidores;, esclarece o reitor da UCB, professor Afonso Celso Galvão.

Segundo o reitor, a agência será o primeiro passo para a criação do parque tecnológico da universidade, planejado desde 1999. Ele afirma que há procura e expectativas tanto de estudantes quanto do mercado local, interessados no desenvolvimento de empresas articuladas a outras áreas no Brasil e no exterior. ;O objetivo é gerar negócios grandes, com oferta de emprego, e colocar em prática o papel universitário de difundir melhorias para a população;, explica.

A UCB já contava com a Incubadora Tecnológica de Empresas (Itec) e o serviço ficará mais completo com a chegada da agência, que vai gerenciar os serviços de incubadoras e outras atividades, como registro de patentes e captação de investimentos. Willem Willy Barbosa, 30 anos, e Gilson Eneas, 38, são exemplos de empreendedores que aproveitaram os benefícios do acesso ao conhecimento e recursos das universidades. Alunos egressos da UCB, a dupla é fundadora da Ecomapa, empresa de engenharia ambiental. Eles contam que a busca por apoio junto à Itec foi essencial para o desenvolvimento do negócio. ;Começamos como autônomos. Em 2009, apresentamos um plano de negócios e fomos aceitos na incubação. Foi um passo importante, principalmente para nos guiar em aspectos como marketing, contabilidade e assessoria jurídica;, conta Gilson.

Willem esclarece que o apoio do espaço universitário e de investidores ligados ao centro ajuda na hora dos negócios. ;Isso passa uma certa segurança para os clientes, não só em relação à estrutura física, mas a experiências também;, diz. Hoje, os empresários optaram por não se graduarem ainda devido às futuras possibilidades que a agência pode oferecer. ;Decidimos tentar mais um ano de incubação para absorver essas mudanças;, afirma Willem.

Crescimento

As incubadoras ajudaram a reduzir a taxa de mortalidade de novos negócios no Brasil. Segundo relatório do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o trabalho junto a essa iniciativa reduziu de 49% para menos de 20% o fim prematuro de projetos inovadores. No DF, a primeira empreitada no ramo foi com a multincubadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB), em 1989. Na avaliação da coordenadora do projeto, Jurema Barreto, o objetivo de aproximar a área de pesquisa da universidade ao ramo empresarial rendeu bons frutos. ;Conseguimos desenvolver noções necessárias de mercado em quem tem vontade de competir, mas ainda precisa de um certo conhecimento técnico de gestão;, diz. Para a coordenadora, o aumento na procura pelas incubadoras e os investimentos públicos e privados nesse setor demonstram o interesse geral de se apostar em atividades inovadoras.

A vontade de entregar mais uma chance de crescimento profissional aos estudantes foi o conceito motivador para a criação da Incubadora de Empresas do UniCeub, a Casulo, fundada em 2003. A gestora do programa, professora Érika Lisboa, conta que inicialmente o foco era apoiar projetos da comunidade interna do centro de ensino. Entretanto, com o aumento da demanda, a incubadora decidiu abrir as portas também para o público externo. ;Percebemos que havia produção de ideias em salas de aula que acabavam se perdendo. Com a Casulo, procuramos apoiar a criação de negócios inovadores que podem ser estendidos para toda a sociedade;, esclarece.

Sheila Oliveira Pires, superintendente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), afirma que o fato de as incubadoras estarem vinculadas aos centros de ensino superior no DF ; exemplo que se repete em outras partes do Brasil ; é um diferencial para difundir a produção de conhecimento acadêmico na sociedade, assim como a promoção de uma mentalidade voltada para o mercado entre os estudantes. Além disso, ajuda a modificar o perfil e os serviços das instituições. ;Normalmente se cita o exemplo da UnB devido ao fator histórico, mas a Casulo e a Itec também demonstraram êxito na prática. Esses três centros também oferecem oportunidades em setores diferentes, como o polo de tecnologias, desenvolvimento social e empreendimento solidário;, analisa.

Próximo passo

Em um âmbito mundial, Sheila destaca que o Brasil não fica atrás de outras potências quando o assunto é incubação de empresas. ;Somos referência na geração de postos de trabalho e, em alguns casos, apresentamos média maior que a de outros países no número e na maturidade do acompanhamento oferecido;, exemplifica. Segundo levantamento feito pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o país conta com 384 incubadoras, que abrigam um total de 2.640 empresas instaladas e geram 29.205 postos de trabalho (veja o quadro).

Embora o contexto seja favorável para empreendedores, ainda existem desafios a serem travados. Para Jurema Barreto, da multincubadora da UnB, o próximo passo é oferecer um serviço direcionado para cada tipo de projeto. ;O trabalho feito em uma empresa de tecnologia da informação, que requer resultados rápidos, é diferente daquele em uma empresa de nano ou biotecnologia, que requer um tempo maior de produção, e isso é algo a ser levado em conta;, esclarece. Érika Lisboa, da Casulo, acredita que o desafio a ser superado é alinhar o serviço às necessidades atuais de mercado. ;Hoje em dia, os modelos de negócios são de empresas que têm o intuito de faturar milhões com abordagem mais arriscada, bem diferente daquela de empreendimentos tradicionais e mais contidos. Muitas incubadoras parecem ter parado no tempo e não se atentaram a essas mudanças;, opina.

Palavra de especialista
Elo mantido

Cada vez mais surgem incubadoras fora das universidades também, mas, quando elas se encontram dentro dos centros de ensino superior, há a possibilidade de fechar a lacuna que existe entre aquilo que aprendemos durante a graduação e as demandas do mundo. Se a gente consegue completar esse vácuo entre os dois meios ainda na faculdade, fica mais fácil compreender que o conhecimento transmitido foi realmente útil. Infelizmente, ainda há muita gente que se gradua sem se dar conta da função real daquilo que aprendeu em todos aqueles anos. Entretanto, é bom lembrar que existem também incubadoras que não possuem ligações com a universidade e outras que aceitam tanto estudantes quanto a população externa. Acredito que essa diversidade de mundos seja algo muito bom para quem quer inovar e fazer a diferença, pois diversidade é fundamental para empreender.


Bel Pesce, empreendedora e autora do livro A menina do Vale (Casa da Palavra; 160 páginas; R$ 19,90)

;O objetivo (da agência de inovação) é gerar negócios grandes, com oferta de emprego, e colocar em prática o papel universitário de difundir melhorias para a população;
Afonso Celso Galvão, reitor da UCB