O Banco Mundial, o Unicef e o Stockholm International Water Institute (Siwi) lançaram, nesta quarta-feira (5/8), uma nota técnica sobre o impacto de intervenções de saneamento em resposta à pandemia da covid-19 no Brasil.
Segundo os especialistas, foram constatados vários entraves para garantir saneamento e higiene necessárias à prevenção da contaminação pelo novo coronavírus. No Brasil, apontou o estudo, 39% das escolas não têm infraestrutura básica para os alunos lavarem as mãos, medida mínima para prevenir a covid-19.
Conforme Virginia Mariezcurrena, gestora de Programas, Governança da Água, Saneamento e Higiene do SIWI, o saneamento e a promoção da higiene na resposta à covid-19 no Brasil têm papel fundamental. “Quando falamos de saneamento falamos de água potável, esgoto e higiene como um plano de resposta à pandemia. Como fazer isso, sem ter água?”, indagou.
Segundo o estudo, a lacuna de acesso à água e esgoto no Brasil é histórica e alarmante. “A pandemia exacerbou os problemas preexistentes de exclusão e vulnerabilidade”, afirmou. Na zona urbana, 15 milhões de brasileiros ou 9% da população urbana, não tem acesso à água gerenciada de forma segura (sem material fecal ou contaminantes químicos).
Nas zonas rurais, 25 milhões têm nível básico de água (fonte a uma distância de 30 minutos da sua casa, incluindo tempo de espera onde procurar) e 2,3 milhões com fontes de água não seguras. O total, de 27,3 milhões de pessoas, representa 83% da população rural.
Nos centros escolares, quase 40% (39%) das escolas no Brasil não têm estruturas básicas para lavar as mãos. Anyoli Sanabri, chefe do Território de Amazônia do Unicef, ressaltou a importância do acesso à água, saneamento e higiene para a saúde das crianças. “Doenças relacionadas à falta de água e saneamento são a principal causa de morte de crianças de menos de cinco anos: 800 crianças morrem por dia no mundo devido a doenças evitáveis”, disse.
Impactos
Lavar as mãos é uma das principais medidas contra a covid-19, reiterou a especialista. “Mas isso não ocorre se não existem condições adequadas. A pandemia reforça as desigualdades”, ressaltou. Segundo ela, o acesso à internet, em um contexto de aulas à distância, mostrou isso.
“Dentro dos impactos da covid-19, o fechamento das escolas é um dos mais importantes. Um impacto crucial na vida de milhões de crianças no mundo, porque educação é um direito habilitante, que pode dar acesso a outros direitos. Levar educação à distância inovou, mas acesso à internet não é igual”, alertou.
Muitas crianças no Brasil foram deixadas para trás e correm o risco de não voltarem às aulas quando reabrirem. “Por todos os motivos é urgente reabrir as escolas, mas isso tem que ser de forma segura, com acesso à água e saneamento, condição chave para a volta, mas 39% das escolas não dispõem de estruturas básicas para lavar as mãos”, reforçou.
Para encontrar medidas para mitigar esse problema concreto, as escolas precisam investir para retomarem as aulas com segurança. “São desafios estruturais que não serão resolvidos no curto prazo, mas é preciso investir agora”, afirmou. “Temos que trabalhar desde já. Começar a criar as condições para a volta segura à escola.”