Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 19:27
A pretensão do Governo do Distrito Federal (GDF) de reabrir presencialmente as escolas particulares em 27 de julho e as públicas em 3 de agosto pegou de surpresa boa parte dos alunos, dos pais e dos professores. As informações começaram a circular durante o período que talvez seja o mais tenso da crise sanitária de covid-19 em Brasília. O governador, Ibaneis Rocha (MDB), declarou estado de calamidade pública por causa da pandemia.
A assessoria de comunicação do Buriti informa que as datas ainda não estão definidas e que “o governo estuda a situação”. O Sinpro-DF (Sindicato dos Professores do Distrito Federal), o Sinproep-DF (Sindicato dos Professores em Estabelecimentos particulares de Ensino do Distrito Federal) e a Aspa-DF(Associação de Pais de Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal) são contra a retomada nessas datas.
Já o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) não se chocou com a proposta de retomada. Até porque a entidade elaborou um plano de volta às aulas na rede particular como sugestão ao GDF que propunha a reabertura até antes disso, em 20 de julho. Assim, caso o governo adote mesmo o retorno em 27 de julho, Álvaro Domingues, presidente da entidade, garante que “estamos perfeitamente contemplados nesse caso”.
“As escolas particulares estão devidamente habilitadas a cumprir aquilo que propuseram dentro dessa perspectiva do dia 20 ou do dia 27 se o governo assim entender”, comenta. Ele pede que o governador analise a proposta do Sinepe e diz que a entidade gostaria de estar junto ao governo e à área de saúde neste momento de prevenção à doença. Confira posicionamento de Álvaro em vídeo:
Sinpro-DF cobra organização para garantir segurança
O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) não faz boa avaliação das datas que têm sido consideradas pelo governador. “Especialistas em saúde insistiram em alertar a população de que estamos caminhando para o ápice da pandemia. E é em meio a essa notícia, é neste ambiente que também a Secretaria de Educação e o governador anunciam a intenção de retorno às aulas presenciais para 3 de agosto (na rede pública)”, aponta Rosilene Correa, diretora do Sinpro-DF.
“Como é que se pode pensar em colocar para circular nas nossas escolas meio milhão de pessoas em plena pandemia?”, questiona a pedagoga. Como o pico da crise no DF é previsto para daqui 10 ou 15 dias, Rosilene comenta que não resta prazo suficiente para que a situação se normalize antes das datas planejadas para o retorno presencial das escolas. “Este é um momento de recolhimento. Nós não conseguimos ter organização suficiente nem para a aulas remotas, imagine para as aulas presenciais.”
O Sinpro-DF defende que é preciso pensar na volta, mas com segurança, elaborando um plano que garanta tranquilidade para todos. Apenas na rede pública, para que cerca de 500 mil pessoas (entre alunos, professores e outros servidores) voltem a circular pelas unidades de ensino, serão necessárias grandes quantidades de máscaras, vários litros de álcool em gel, além de uma série de providências a serem tomadas para evitar contaminação, indica o sindicato.
Na visão de Rosilene, o governo ainda não deixou claro o que fará para aplacar essas preocupações. Ela defende que “pensar em trazer estudantes e professores para as escolas sem corrigir todos estes problemas e aguardar o controle da covid-19 é colocar pessoas na fila da morte”. O Sinpro-DF defende que os envolvidos com a educação não sejam feitos de cobaia, usando a hashtag #NãoSomosCobaias.
Confira o posicionamento completo no vídeo:
Sinproep e Aspa se preocupam com a saúde
Assim como os docentes da rede pública, os educadores das escolas particulares também se surpreenderam com as datas analisadas pelo governador e se preocupam com os riscos que isso pode causar. Pais e responsáveis de alunos também compartilham desse temor. Em nota conjunta, o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos particulares de Ensino do Distrito Federal(Sinproep-DF) e a Associação de Pais de Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF) se manifestam contra a proposta de retorno nas datas que têm sido sondadas.
“O Sinproep-DF acredita que essa decisão do GDF não está de acordo com o alerta que, diariamente, os especialistas da área de saúde têm feito à população sobre o ápice da pandemia que deve ocorre nos próximos 10 dias. O retorno das aulas nas escolas privadas logo em seguida, como preconiza o governo, torna-se inviável, já que é preciso que a contaminação se estabilize e depois entre em uma curva decrescente para que haja segurança sanitária”, diz o texto.
“É duvidosa a previsão de que isso ocorra dias após o DF alcançar o pico da pandemia. O que é certo é que essa pressa em reabrir as escolas vai expor a saúde de alunos, profissionais da educação e a comunidade escolar a riscos desnecessários”, aponta o informe. Ambas as instituições reconhecem a importância de planejar o retorno, mas priorizando a saúde.
Saiba Mais
“A volta às aulas presenciais é necessária, desde que o momento seja seguro com o controle da pandemia. Antes que haja uma decisão do governo é preciso que se defina, junto à comunidade escolar, a responsabilidade das instituições de ensino sobre a saúde e a vida de cada pessoa envolvida no processo e a garantia de que as mesmas forneçam insumos de segurança para que os profissionais e estudantes não corram risco de contaminação”, recomendam as entidades.
“A Aspa-DF se solidariza com os pais de alunos que já retornaram ao trabalho e precisam desse espaço para que seus filhos fiquem seguros. Com isso há necessidade de se dialogar a fim de encontrar uma solução para esses casos específicos”, pondera o texto. A associação pede diálogo para debater o protocolo e o momento da retomada.
Confira a nota na íntegra:
“No instante em que a sociedade, segundo pesquisas divulgadas pela imprensa, se manifesta contra o retorno das aulas presenciais neste momento, em que a curva de contaminação, de acordo com a opinião de especialistas da saúde, ainda não atingiu o seu ápice, o Sinproep-DF e a Aspa-DF, veem com preocupação a decisão do Governo do Distrito Federal, anunciada nesta segunda-feira (29), de permitir a volta às aulas presenciais nas redes pública e privada nos próximos 30 dias.
O anúncio causa estranheza porque vem no mesmo dia em que o GDF decretou estado de calamidade pública na capital federal, devido ao recrudescimento da pandemia do novo coronavírus, que até o momento matou 559 pessoas no DF, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde.
Conforme divulgado pela imprensa local, o governador Ibaneis Rocha já teria elaborado um calendário e passado o documento com orientações para que setores do GDF tomem as providências necessárias objetivando a volta às aulas presenciais no mês de agosto.
O Sinproep-DF acredita que essa decisão do GDF não está de acordo com o alerta que, diariamente, os especialistas da área de saúde têm feito à população sobre o ápice da pandemia que deve ocorre nos próximos dez dias. O retorno das aulas nas escolas privadas logo em seguida, como preconiza o governo, torna-se inviável, já que é preciso que a contaminação se estabilize e depois entre em uma curva decrescente para que haja segurança sanitária. É duvidosa a previsão de que isso ocorra dias após o DF alcançar o pico da pandemia. O que é certo é que essa pressa em reabrir as escolas vai expor a saúde de alunos, profissionais da educação e a comunidade escolar a riscos desnecessários.
Basta ver o que tem ocorrido em outros países em que a pandemia já está em outro estágio: dúvidas, recuos, protocolos rígidos e ainda muitas incertezas sobre o vírus.
Na opinião do Sinproep-DF e da Aspa-DF, a volta às aulas presenciais é necessária, desde que o momento seja seguro com o controle da pandemia.
Antes que haja uma decisão do governo é preciso que se defina, junto à comunidade escolar, a responsabilidade das instituições de ensino sobre a saúde e a vida de cada pessoa envolvida no processo e a garantia de que as mesmas forneçam insumos de segurança para que os profissionais e estudantes não corram risco de contaminação.
A Aspa-DF se solidariza com os pais de aluno que já retornaram ao trabalho e precisam desse espaço para que seus filhos fiquem seguros. Com isso há necessidade de se dialogar a fim de encontrar uma solução para esses casos específicos.
Com isso, é prudente que o governo do DF crie uma comissão com representantes da comunidade escolar, da área da saúde, com setores da sociedade, para que se debata o Protocolo que será adotado seguro e responsável para o retorno das aulas e o momento adequado.”
Situação dos leitos para covid-19 no DF
Boletim da Secretaria de Saúde (SES-DF) liberado às 18h desta terça-feira (30/6) contabiliza 49.217 casos confirmados, 33.970 recuperados e 587 mortes pela doença na capital federal. No total, 66,28% dos leitos públicos de enfermaria reservados para covid-19 estão ocupados, enquanto a ocupação dos leitos públicos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) chegou a 83,82%.
Na rede particular, 90,63% dos leitos de UTI reservados para pacientes com a doença estão ocupados; enquanto a ocupação de leitos de UTI regulares está em 77,69%. Há 66 pacientes na fila de espera aguardando uma vaga em UTI pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.