Correio Braziliense
postado em 27/06/2020 19:15
Nomeado novo Ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli teria copiado trechos de outras dissertações de mestrado e textos acadêmicos na introdução de sua dissertação de mestrado, apresentada em 2008 para a FGV Rio de Janeiro. A instituição informou que vai apurar a suspeita de plágio.
Segundo levantamento feito pelo UOL, no trabalho de mestrado "Banrisul: do PROES ao IPO com governança corporativa" Decotelli usou um trecho indêntico do texto "Origens e desenvolvimento institucional", de Kátia Valéria Araújo Melo e Rezilda Rodrigues Oliveira, apresentado em julho de 2005.
Ele escreveu: "Dependendo da natureza do negócio e da teia de constituintes que o embasam, pode-se detectar a existência de burocratas, técnicos e outros atores engajados em projetos e ideias que, para eles, fazem sentido e pelos quais lutam, mesmo que ainda não os tenham materializado, e às vezes, somente se configurando como uma mera agenda, cuja conformação e evolução está sujeita a códigos de conduta, a fontes de poder, ao compartilhamento de uma linguagem comum, a um ambiente propício à colaboração e a mecanismos de difusão da inovação tecnológica.
O texto de Kátia e Rezilda diz: "Dependendo da natureza do negócio e da teia de constituintes que o embasam, pode-se detectar a existência de burocratas, técnicos e outros atores engajados em projetos e ideias que, para eles, fazem sentido e pelos quais lutam, mesmo que ainda não os tenham materializado, e às vezes, somente se configurando como uma mera agenda, cuja conformação e evolução está sujeita a códigos de conduta, a fontes de poder, ao compartilhamento de uma linguagem comum, a um ambiente propício à colaboração e a mecanismos de difusão da inovação entre as comunidades ocupacionais com que se relacionam". As autoras citaram, inclusive a origem da informação em outros autores: "Pelled, 2001; Hoffman, 2001".
Na mesma página, Decotelli escreve: "A sobrevivência das organizações, na abordagem institucional, depende da capacidade de entendimento das regras, crenças, valores e interesses criados e consolidados num determinado contexto ambiental, social e cultural. A forma de interpretar estes aspectos, a fim de se posicionar frente às pressões isomórficas, são melhor explicadas pela presença dos esquemas interpretativos, definidos como "pressupostos resultantes da elaboração e arquivamento mental da percepção de objetos dispostos na realidade, que operam como quadros de referência, compartilhados e frequentemente implícitos, de eventos e comportamentos apresentados pelos agentes organizacionais em diversas situações".
Saiba Mais
Já na página 20, Decotelli cita: "Nesta visão, a adaptação organizacional refere-se à habilidade dos administradores em reconhecer, interpretar e implementar estratégias, de acordo com as necessidades e mudanças percebidas no seu ambiente, de forma a assegurar suas vantagens competitivas. Como se pode notar, o estudo do processo de adaptação estratégica envolve as visões deterministas do ambiente organizacional e a voluntarista da escolha das estratégias pelos tomadores de decisão nas organizações"
O trecho é igual ao texto "Teoria institucional e dependência de recursos na adaptação organizacional: uma visão complementar", de Carlos Ricardo Rossetto e Adriana Marques Rossetto", publicado em janeiro/junho de 2005. de em jan./jun. 2005, pela Universidade do Vale do Itajaím em Santa Catarina, ( Univali).
"Nesta visão, a adaptação organizacional refere-se à habilidade dos administradores em reconhecer, interpretar e implementar estratégias, de acordo com as necessidades e mudanças percebidas no seu ambiente, de forma a assegurar suas vantagens competitivas. Como se pode notar, o estudo do processo de adaptação estratégica envolve as visões deterministas do ambiente organizacional e a voluntarista da escolha das estratégias pelos tomadores de decisão nas organizações.
Na página 24 de seu trabalho, Decotelli copia trecho da páginas 33 e 34 dissertação de mestrado em Economia de Julieda Puig Pereira Paes, "Criação" de Moeda e Ciclo Político, publicada em junho de 1996.
O ministro diz: "Este "círculo" econômico-político de perda de poder econômico engendrando uma relativa fragilização política da União, só pôde ser mantido às custas de uma especificidade do sistema político-partidário brasileiro: a de gerar representantes legislativos federais com interesses fortemente locais em seus estados de origem. Portanto, o lastro político-institucional que proporcionou o projeto dos bancos estaduais foi reproduzido como um modelo ao mesmo tempo econômico-político-partidário, confrontando espaços de gestão, poder e autonomia administrativo-financeira entre os estados e a União".
Os quatro trechos não são colocados entre aspas, o que é obrigatório em trabalhos acadêmicos, quando há citações de outros textos. Também não há referência ao autor, logo quando termina a frase. Ao final do texto, Decotelli faz referência apenas aos textos de Rossetto e o escrito por Kátia Valéria Araújo Melo e Rezilda Rodrigues Oliveira, na bibliografia. Os outros, nem isso.
Movimento estudantil em alerta
A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) afirmou que ficará atenta com relação ao novo ministro. Confira post:
Alteração no currículo
Na sexta-feira (26), Carlos Alberto Decotelli da Silva modificou seu currículo disponível na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - sistema de currículos virtual, mantido pelo órgão, que integra as bases de dados curriculares e instituições, concebido para facilitar as ações de planejamento e de fomento à pesquisa.
A alteração aconteceu após o reitor da Universidade Nacional de Rosário, Franco Bartolacci, revelar que Decotelli não obteve o título de doutor.
Ao anunciá-lo para o cargo, na quinta-feira (25), o presidente Jair Bolsonaro chegou a mencionar o título de doutor do ministro. Mas, conforme o reitor afirmou ao Estadão, o ministro não cumpriu as etapas necessárias à concessão do título. "Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar".
Ao reeditar seu currículo, Decotelli retirou o título de sua tese "Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja" e o nome de seu orientador Dr. Antonio de Araujo Freitas Jr. No lugar, ele menciona agora apenas "créditos concluídos" e "ano de obtenção: 2009". E, no campo relacionado ao orientador, o ministro assinalou: "sem defesa de tese".
Em entrevista à TV Globo, Decotelli disse que completou todos os créditos do curso, mas assumiu que não fez a defesa de tese. Segundo ele, porque não tinha mais interesse em permanecer na Argentina, onde afirma ter ficado de 2007 a 2009.
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