Entidades ligadas à educação se manifestaram sobre a demissão do ministro Abraham Weintraub na tarde desta quinta-feira (18). Em nota conjunta, a Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) classificaram a saída do dirigente do Ministério da Educação (MEC) como uma “vitória dos estudantes”.
“Com pouco mais de um ano no comando do MEC, Abraham Weintraub conseguiu se consagrar como pior ministro da história. Retirou recursos da educação, ofendeu as universidades públicas, ignorou os debates sobre o FUNDEB, atacou a autonomia universitária e transformou o MEC numa verdadeira ferramenta ideológica bolsonarista, por isso ganhou a ira e o repúdio de toda a comunidade da educação: estudantes, professores, técnicos e cientistas”, diz trecho da nota.
Em entrevista ao Correio, o presidente da UNE, Iago Montalvão, afirmou que a queda do ministro “é resultado da mobilização dos estudantes e da pressão da sociedade, seja em relação à educação ou ao desrespeito que ele teve para com a democracia”. Iago ressaltou, no entanto, que não basta substituir o ministro.
“A política do governo Bolsonaro é contrária à educação na qual a gente acredita. Existe a possibilidade de ele ser substituído por outra pessoa que vai continuar os ataques às universidades, que vai continuar mantendo esse projeto de transformar o MEC em uma ferramenta da guerra ideológica”, justificou. “Essa é uma preocupação que nos mantém atentos.”
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Em vídeo, a presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barrozo, afirmou que os estudantes foram os responsáveis por cravar as principais derrotas da gestão de Weintraub. “Nós barramos a tentativa de cortar (gastos) dos nossos institutos federais e de intervir na nossa democracia interna. Sempre fomos contra a tentativa do ministro de mudar os livros didáticos para apagar nossa história. Sempre fomos contra as falas que atacavam as políticas que democratizam o acesso ao ensino superior”, disse. “Nós sempre fomos a maior oposição (da gestão).”
Rozana também criticou o vídeo que Weintraub postou nas redes sociais. “Ele afirmou que sempre foi patriota e que defende o Brasil. Nós sabemos que é mentira. Quem desvaloriza a educação e ataca os estudantes não ama seu povo nem seu país.”
Dirigentes do ensino preferem não se manifestar
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmou ao Correio que não vai comentar a saída do ministro. Na tarde desta quinta-feira (18), porém, em reunião on-line do I Congresso Andifes, com o tema “Realidade e futuro da universidade federal” o professor de ética e filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano da Silva, citou o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, a filósofa alemã Hannah Arendt e o poeta e dramaturgo nazista Hanns Johst para tecer uma ferrenha crítica ao governo vigente e comemorou a saída de Weintraub.
“No Brasil tudo é feito para reduzir a responsabilidade governamental pelo ensino público universitário. (...) O deboche de ministros quando falam da ciência é a arma contra o saber”, pontuou. “O responsável pela educação (Weintraub), graças a Deus hoje não mais, não age apenas como personagem circense, ele despreza milênios do saber humano.”
A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) afirmou que prefere aguardar a nova definição na pasta para se posicionar e que não fará comunicado hoje. O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) também informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
*Estagiárias sob supervisão de Ana Sá