A declaração do governador Ibaneis Rocha sobre um possível adiamento da volta às aulas nas escolas do Distrito Federal dividiu opiniões de pais, alunos e entidades da área. Em coletiva de imprensa na última quinta-feira (7), o chefe do Executivo local afirmou que retornar as atividades neste momento é “bastante arriscado” e que é simpático à ideia de adiar a prorrogação até agosto.
“Eu fiz um pedido a alguns proprietários de escolas particulares para que fizessem uma consulta entre os pais. E a grande maioria tem colocado uma opção de reabertura somente em agosto, o que me agrada muito.”
Em vídeo, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Álvaro Domingues, afirmou que a entidade não foi consultada em relação ao adiamento e defendeu o retorno “lento e progressivo” das aulas.
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“Estávamos em tratativas com a Secretaria de Educação, com a Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal) e com a Secretaria de Saúde, elaborando um plano de volta às aulas com protocolo de profilaxia e segurança aos alunos e um cronograma de retorno lento e progressivo das diferentes etapas ou faixas etárias. Esse trabalho não condiz com a declaração do governador.”
Ainda segundo Domingues, as escolas particulares são o principal local para difusão de conhecimento sobre medidas preventivas contra o coronavírus. “Não há outra instituição tão preocupada com a segurança dos seus clientes como a escola particular”, afirmou.
O presidente do Sinepe-DF pediu também para que o governo reinicie o diálogo que já estava sendo feito com o setor. “Rogamos ao governador que reflita sobre a consequência dessa declaração para o nosso trabalho, nosso setor econômico e para a vida das nossas famílias e pedimos que, mesmo com toda a preocupação de segurança, possamos fazer um planejamento de retorno, absolutamente necessário para as nossas atividades.”
O Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF), por sua vez, informou ao Correio que é a favor da prorrogação da suspensão das aulas e que as escolas deveriam ser o último setor da economia a retornar.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) informou que “o plano de volta às aulas pós covid-19 foi entregue ao governador Ibaneis Rocha, via SEI, no dia 30 de abril” e que “caberá a ele a decisão quanto à retomada das aulas”. Ainda segundo a Secretaria, “a proposta apresentada leva em conta as recomendações das autoridades de saúde, para evitar riscos a estudantes, professores e demais servidores que atuam nas escolas”.
O que dizem pais e estudantes
Andrea Teixeira, 40 anos, consultora da Mary Kay, é contra o adiamento da volta às aulas para o segundo semestre. A mãe do estudante Lucas Vinícius de Souza, 12, diz que “não vê necessidade” de as escolas reabrirem somente em agosto. “É muita perda (de conteúdo) para a criança. Eu tenho um filho que está no 8º ano, no Colégio Objetivo. Tudo bem que ele está tendo as aulas por videoconferência, mas acho que o aproveitamento não é o mesmo de uma aula presencial”, explica.
“Se for feito um revezamento de horário dos alunos, não há motivo para ficar adiando. Assim, a gente vai perder o ano”, completa. Lucas Vinícius concorda. “Acho que tem que voltar logo. Não dá para ter muita atenção às aulas (virtuais).” Ainda segundo o estudante, para evitar o contágio pelo vírus na escola, “é só tomar cuidado”.
Thiago Maciel, 17, aluno do 3º ano do Centro de Ensino Médio Taguatinga Norte (CEMTN), acredita que o adiamento seja necessário, mas se preocupa com as consequências. De acordo com o estudante, a medida prejudicaria o ano letivo, afetando principalmente os adolescentes que estão se preparando para ingressar em uma faculdade em 2021.
Na opinião dele, um dos graves problemas que os estudantes da rede pública enfrentariam se retornassem à escola em maio, como estava previsto no plano elaborado pela SEE-DF, seria a aglomeração no transporte público. “Muitos de nós usam metrô e ônibus, que acabam ficando lotados. Talvez, se o governo disponibilizasse ônibus próprios para buscar os alunos em certos pontos e levá-los para as escolas, poderia até dar certo. Ainda assim fazendo o revezamento de turmas, claro”, sugere.
A mãe dele, Simone Rosa Maciel, 37, avalia o possível adiamento de forma positiva. “Diante dessa pandemia, que é um problema muito sério não só para as crianças e jovens, mas, principalmente, para os mais velhinhos, eu concordo”, afirma a vendedora. “Até porque o Thiago é do grupo de risco, ele tem problema asmático. Então, sou a favor. Pensa em uma mãe medrosa”, brinca.
Relembre
Ainda em vigor, o Decreto n 40.583, de 1º de abril, determinou a suspensão das aulas nas escolas públicas e particulares do Distrito Federal até 31 de maio. Em 22 de abril, no entanto, o governador Ibaneis Rocha solicitou ao secretário de Educação do Distrito Federal, João Pedro Ferraz dos Passos, um plano para a reabertura das escolas da rede pública. Na ocasião, Ibaneis manifestou que a volta às aulas deveria começar pelo ensino médio.
Em 27 de abril, uma série de slides com considerações para a volta às aulas passou a circular nas redes sociais de professores da rede pública. O documento da Secretaria de Educação trazia duas propostas para o retorno dos estudantes, indicando a antecipação do início das aulas do ensino médio para 18 de maio. O restante da rede pública retornaria em 1º de junho, como previsto no decreto do governador.
Na entrevista coletiva de quinta-feira (7), o chefe do Executivo local afirmou que o plano da SEE-DF foi submetido à Secretaria de Saúde e, de acordo com a pasta, não é seguro. Explicou, ainda, que o adiamento do retorno não é uma decisão oficial e será avaliado, mas que ele espera que aconteça.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá