Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 20:07
Salvaguarda, de acordo com o dicinário Aurélio, significa "resguardo de perigo; proteção". É justamente para proteger alunos de ensino médio de escolas públicas, assegurando que eles tenham acesso a todos os seus direitos, que o estudante do 5º semestre de economia da Universidade de São Paulo (USP) Vinícius de Andrade idealizou um projeto com este nome e chamou Hariff Barbosa, que cursa o último período de psicologia na mesma instituição, para fundar o programa com ele.
Tudo começou em Ribeirão Preto (SP), em 2017, e, de lá para cá, a ação social atendeu mais de 20 mil jovens. Para tornar isso possível, a iniciativa conta com um corpo de 500 voluntários, formado por universitários ou pessoas que tenham concluído o ensino superior. Tanto Vinícius quanto Hariff têm 25 anos e conhecem de perto os desafios que estudantes que cursam a educação básica na rede pública enfrentam no Brasil, pois também são egressos desse sistema. Em 2016, o aluno de economia resolve investigar mais a fundo os obstáculos que distanciavam a chegada desses jovens às faculdades.
A pesquisa de Vinícius constatou entre os grandes empecilhos a falta de informações, por exemplo, sobre como funcionam os vestibulares, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e bolsas em universidades particulares. Não saber como começar a estudar para os processos seletivos é outra dificuldade relatada por alunos da rede pública. Para ajudar a minimizar esses problemas, o Salvaguarda buscar motivar jovens a ingressarem no ensino superior, compartilhando informações sobre inscrições e isenções de vestibulares.
A iniciativa também auxilia nos estudos, fornecendo conteúdos. O programa funciona em parceria com as escolas públicas. “O objetivo do Salvaguarda é motivar cada estudante para que ele possa escolher a carreira que deseja seguir após a escola”, explica Vinícius. O projeto não é um cursinho pré-vestibular, mas oferece ajuda, orientação e motivação. “Todos alunos da escola participante se tornam salvaguardas, isso quer dizer que todos eles têm direito de aproveitar todas as ferramentas que o programa oferece”, ressalta.
Adaptação à pandemia
Este ano, devido à pandemia de Covid-19, o Salvaguarda será adaptado para funcionar totalmente on-line. O que começou pelas dificuldades impostas do coronavírus, acabará tendo um impacto positivo: passando para a internet, o projeto poderá auxiliar estudantes de todas as regiões do país. As inscrições estão abertas para alunos e ex-alunos da rede pública de ensino. E, num período em que os estudantes estão sem aula, receber uma mãozinha do projeto se torna ainda mais importante. “Decidimos lançar o Salvaguarda extraoficial adaptado para o momento, utilizando ferramentas on-line e gratuitas para ajudar os alunos, incluindo os que estão em outras regiões”, conta Vinícius de Andrade.
Atualmente, o programa está presente em 40 escolas, 38 no estado de São Paulo e duas no Rio de Janeiro. No entanto, alunos de outras regiões do país também estão entrando em contato com o projeto buscando ajuda para continuar os estudos para as provas dos vestibulares. “Todos eles relataram o mesmo problema, um certo desespero devido à situação das aulas suspensas e com os vestibulares do fim ano, sem saber o que fazer, como estudar, como se organizar”, relata Vinícius de Andrade.
O modelo digital do projeto dará continuidade a muito do que já era feito antes. Por meio de grupos de Whatsapp, alunos receberão monitoria dos voluntários, tendo acesso a listas de exercício e participando de outras atividades. As redações, que antes eram feitas nas escolas e entregues aos voluntários para correção, passaram a ser administradas também nos grupos do aplicativo de mensagens instantâneas. A cada segunda-feira, professores voluntários enviam nos grupos de WhatsApp planos semanais com tema de redação e listas de indicação de filmes, músicas e vídeos para ajudar o aluno a desenvolver o tema.
Ao longo da semana, dinâmicas e atividades ajudam a desenvolver o texto. Na terça-feira, o foco está na introdução; quarta-feira é dia de trabalhar o desenvolvimento; e quinta-feira é dia de treinar a conclusão com a proposta de intervenção. Na sexta-feira, utilizando a plataforma de videoconferência Zoom, professores de língua portuguesa corrigem os textos e tiram dúvidas. Os alunos também têm acesso a um acervo com todas as provas antigas do Enem, gabaritos, resoluções de questões e voluntários disponíveis para tirar dúvidas e conversar sobre como organizar um plano de estudos, onde buscar conteúdo, dentre outros tipos de apoio.
Ficou interessado? Inscreva-se e participe!
Para participar do Salvaguarda, o estudante pode entrar em contato com os organizadores por meio das redes sociais do programa (Instagram @salvaguarda1 e Facebook @salvaguarda2) ou pelo Whatsapp no número (016) 9 9390-7355, informando nome completo, idade, série, escola onde estuda ou estudou e o nome da cidade e unidade da Federação em que mora.
Quer ser voluntário? Ajude!
O interessado em ser voluntário do projeto Salvaguarda deverá ser formado ou estar cursando ensino superior em universidade pública ou particular e ter disponibilidade para fazer atendimentos a alunos de escolas públicas. A forma de contato é a mesma de quem deseja se inscrever para ser beneficiado pelo projeto. Na mensagem, você deve informar em qual área deseja ajudar: monitoria das disciplinas, redações ou ajuda nos planos de ensino. As inscrições estão abertas. A previsão é de que as primeiras atividades comecem em uma semana.
Quais são os pilares do Salvaguarda?
O programa é dividido em três frentes: educação para carreira, conteúdo e informação. No modelo tradicional, a ação social oferece atividades presenciais nas escolas, aulões, simulados e excursões para conhecer o câmpus da USP de Ribeirão Preto (SP). Além disso, os alunos recebem mensalmente propostas de redações que são corrigidas por voluntários do projeto. Por meio de grupos de WhatsApp, os alunos recebem monitoria para tirar dúvidas teóricas ou de resolução de exercícios, têm contato com estudantes e profissionais de múltiplas áreas e conseguem informações sobre inscrições e isenções de vestibulares, workshops e oportunidades.
Os participantes também também têm acesso a acervo com provas antigas do Enem e outros materiais de apoio. O objetivo da frente de educação para carreira é informar aos alunos sobre as profissões existentes. Uma das possibilidades é tirar dúvidas sobre uma carreira com alguém que trabalha na área. Por exemplo, se o aluno quer cursar biologia, o projeto vai colocá-lo em contato com um biólogo. “A conversa é feita horizontalmente, abordando questões relacionadas a construção da carreira do profissional, bem como desafios pessoais e profissionais enfrentados”, explica Hariff Barbosa, co-fundadora e coordenadora da frente de educação para carreira.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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