Jornal Correio Braziliense

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Milhares de estudantes iniciam greve global contra mudança climática

O movimento Sextas-feiras pelo futuro mobilizou mais de 5 mil eventos pelo mundo. Jovens clamam por conscientização das autoridades e empresas

Por Andrew BEATTY

Centenas de milhares de estudantes protagonizam, nesta sexta-feira (20), um dia de manifestações pela natureza em todo planeta. Esta que promete ser a maior mobilização da história pela conscientização dos adultos sobre a importância de atuar contra a mudança climática.

Alunos de grandes cidades como Sydney, Manila, Mumbai, Seul e Bruxelas responderam à convocação da jovem ativista sueca Greta Thunberg. Ela pedia para quem não comparecessem às aulas hoje, organizando uma greve escolar simbólica. "Os números são incríveis, quando você vê as imagens, é difícil de acreditar", disse a ativista nesta sexta à AFP na prefeitura de Nova York, antes de partir para a marcha.

Mais de 300 mil crianças, pais e ativistas protestaram nas principais cidades australianas, o dobro do registrado em uma jornada similar em março. Mais de 5 mil eventos estão programados para ocorrer no mundo inteiro.


Tudo conta

O objetivo da campanha Sextas-Feiras pelo Futuro (Fridays for Future, no original) é mobilizar crianças e adolescentes de todo planeta para que pressionem as pessoas que tomam decisões sobre o assunto, assim como as grandes empresas. Espera-se, assim, a adoção de medidas drásticas para conter o aquecimento global provocado pela ação humana.

Na África do Sul, 500 pessoas protestaram em Johannesburgo. Na Europa, 15 mil pessoas compareceram a uma manifestação em Bruxelas, Bélgica, enquanto na Alemanha, onde os ecologistas têm forte peso eleitoral, ativistas bloquearam o trânsito no centro de Frankfurt. Em Berlim, o principal evento começou no emblemático Portão de Brandeburgo. Em Paris, Jeannette, de 12 anos, estava acompanhada do pai, Fabrice. "É meu aniversário e pedi para vir. A situação me deixa triste. Estamos em apuros e estamos fazendo tudo errado", disse a jovem.

Na quinta-feira, Greta ; uma adolescente sueca de 16 anos que se tornou um símbolo da frustração de uma geração com o tratamento dado à questão climática ; insistiu em que há soluções que estão sendo "ignoradas" e pediu aos jovens que tomem a iniciativa. "Tudo conta, o que você faz conta", afirmou, em uma mensagem de vídeo que viralizou.

Justiça climática

Os estudantes de Vanuatu, nas Ilhas Salomão, foram os primeiros a sair às ruas. Em Tóquio, Japão, quase 3 mil pessoas protestaram de maneira pacífica. "O que nós queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora", gritaram os participantes. Na Indonésia, milhares de pessoas aderiram à convocação. O país é palco de incêndios florestais, que provocaram uma grande nuvem de fumaça tóxica nos últimos dias.

Após as manifestações já encerradas na Europa e nas principais cidades latino-americanas, a jornada deve terminar em Nova York, com uma enorme manifestação com mais de um milhão de estudantes de 1.800 escolas. As manifestações também foram importantes em Nova Délhi, Mumbai e Manila. Algumas autoridades locais, escolas e empresas estimularam a participação. Outras instituições criticaram o movimento, afirmando que as faltas devem ser explicadas. Os jovens não parecem, porém, dispostos a ceder.

"Estamos aqui para enviar uma mensagem às pessoas que estão no poder e mostrar que estamos preocupados, que isto realmente é importante para nós", afirmou Will Connor, de 16 anos, em Sydney. O debate sobre a mudança climática é diário na Austrália, um dos maiores exportadores de carvão do mundo e com minas que geram empregos e impulsionam a economia.

O país também sofre, contudo, as consequências da mudança climática. Nos últimos anos, registrou secas, incêndios florestais, inundações devastadoras e a perda irremediável da Grande Barreira de Corais. Conservador, o governo australiano não chegou ao ponto de negar a mudança climática, mas deseja limitar a discussão a uma escolha entre gerar empregos, ou cumprir as metas de emissão de gases causadores do efeito estufa. "Nos vemos nas ruas", anunciou a seguradora Future Super, que conseguiu reunir 2 mil empresas na campanha a favor dos protestos. O CEO da Amazon, Jeff Bezos, comprometeu-se a alcançar a neutralidade de carbono até 2040 e estimulou outras empresas a seguirem o mesmo caminho.


Novas mobilizações

Os protestos desta sexta-feira preparam o caminho para duas semanas de mobilização em Nova York, começando pela Cúpula da Juventude sobre o Clima, que acontece sábado na ONU. Na próxima segunda-feira (23), o secretário-geral da ONU, António Guterres, preside uma reunião de emergência, na qual pretende solicitar aos líderes mundiais que fortaleçam e ampliem os compromissos adotados em 2015 no Acordo de Paris. De acordo com as últimas estimativas publicadas pela ONU, para se ter alguma chance de conter o aquecimento global em 1,5 ;C acima da temperatura média do século 19, o mundo teria de zerar as emissões de carbono até 2050.