O desgaste precoce de ministros terminou por colocar em segundo plano ações positivas como a redução do número de ministérios, corte de gastos e funções de confiança. O próprio presidente, embora diga que há notícias positivas no governo, reconhece que, no caso do Ministério da Educação (MEC), há falta de gestão.
Em pouco mais de três meses, a pasta enfrentou várias crises. O número de exonerações chega a 18. Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que o ensino básico do país continua sem critérios mínimos para avaliação de qualidade e que ainda não foram implementados pelo MEC o Sistema Nacional de Avaliação Básica (Sinaeb) e o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), determinações do Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024. O MEC tem 90 dias para apresentar um plano de ação para sanear os problemas.
O apoio a Vélez minguou após a coleção de crises. Em uma entrevista, afirmou que a universidade não é para todos. A uma revista, disse que o ;brasileiro viajando é um canibal;. Posteriormente, pediu desculpas. Isso sem contar a polêmica ordem de mandar filmar estudantes cantando o Hino Nacional.
Diante da crise que atravessa, Vélez teve o mesmo comportamento do primeiro ministro a deixar o governo, Gustavo Bebianno, que ficou apenas 48 dias no cargo: quando ouviu que estava demissionário, disse que não sairia. Terminou demitido depois de ser atacado pelo vereador Carlos Bolsonaro. O filho 02 do presidente o acusou de mentir, ao dizer que havia conversado com o pai, e divulgou áudios das mensagens trocadas entre os dois.
Em situações como essa, reza a cartilha não escrita da política, a frase padrão deve ser ;o cargo pertence ao presidente da República;. Até aqui, o único ministro sob tensão a cumprir esse protocolo foi o titular do Turismo, Marcelo Álvaro. Ele está sob investigação por suspeitas de caixa dois na campanha do PSL de Minas Gerais, onde se elegeu deputado federal. Bolsonaro tem dito que é preciso esperar o fim das investigações, antes de colocar o ministro no cadafalso, como ocorreu com Bebianno.
Falta de planejamento
O cientista político André Martin, da Universidade São Paulo (USP), considera que a escolha de ministros mostra que Bolsonaro não tinha planejamento claro para o governo. ;Ele não sabia quem escolher. Foram escolhas à queima-roupa, que têm dado um resultado muito ruim;, analisa. ;São contradições internas que paralisam o governo. É uma queda de braço constante, que faz com que a decisão fique sempre com o próprio presidente, o que se torna perigoso;, diz.O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer também avalia negativamente as demissões. ;Isso demonstra que as escolhas foram erradas. Temos muitos projetos parados por conta disso, sobretudo no MEC;, explica. Para Fleischer, o principal motivo para as demissões é o embate entre militares e os seguidores de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro. ;Os militares estão acompanhando os ;olavetes; e cerceando a atuação deles;, analisa. ;Vélez cai;, aposta.