Jornal Correio Braziliense

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Escola de Brasília cria iniciativa para denúncia virtual de Bullying

A ideia está sendo colocada em prática pelo Colégio Vitória Régia, em Vicente Pires

As cinco unidades do Colégio Vitória Régia criaram um sistema virtual de denúncia de bullying. A iniciativa disponibiliza um formulário do Google Forms onde os estudantes, familiares e responsáveis podem fazer a denúncia anonimamente. A ideia do mecanismo surgiu depois da tragédia de Suzano (SP), que ocorreu nessa quarta-feira (13). As unidades ficam em Vicente Pires, Águas Claras e Riacho Fundo 1.

;Por causa do massacre ocorrido em Suzano, os pais ligaram desesperados nas unidades da escola. A direção marcou reunião para que os coordenadores apresentassem sugestões para o combate ao bullying em sala de aula;, explica o coordenador pedagógico, Rodrigo Rangel. Foi assim que surgiu a ideia de se criar o formulário no Google para prevenir e investigar as denúncias que podem ser feitas anonimamente. A criação desse mecanismo é justificado pela diretora pedagógica, Priscila Madureira de Oliveira: Temos que fazer um trabalho bem forte para que essa prática se torne cada vez menos frequente no ambiente escolar;, explica.

O formulário não foi a primeira ação da escola. De acordo com Priscila, o colégio tem mais projetos que serão colocados em prática e já foram feitas ações pedagógicas com alunos e responsáveis. ;Ano passado, tivemos uma imersão em que alunos que se sentiam depressivos, que sentiam que a vida não tinha mais graça tiveram oportunidade de serem ouvidos por psicólogo e uma equipe que estariam dispostas a ouvi-los. Esse atendimento proporcionou momentos de autoaceitação e reflexão;, conta. ;Criamos, também, o ;Escola para pais;, quandp trouxemos psicólogos para palestras com responsáveis e pais de alunos. "Por mais que o adolescente tenha corpo de um adulto, o cérebro ainda está em formação. Ele não tem a responsabilidade;, explica a a diretora Priscila.


A escola também fez homenagem nesta quinta-feira às vítimas da chacina de Suzano. Alunos se reuniram no pátio formando um grande círculo e rezaram pelos mortos, feridos e seus familiares. Na ocasião, uma estudante vestiu camisa com os nomes das 10 vítimas do atentado à Escola Estadual Raul Brasil.

Bullying nas escolas

O bullying é um assunto sério em todo o planeta. De acordo com uma pesquisa organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), somente no Brasil, 43% dos jovens sofrem ou sofreram esse transtorno, seja por causa da aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem. O Brasil ocupa a segunda posição no ranking de bullying virtual infantil, perdendo apenas para Índia, de acordo com o 3; volume do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015.


O bullying é uma prática violenta que pode gerar consequências mortais, como atiradores entrando nas escolas e matando ex-colegas de turma, ou o suicídio. Só no Japão, entre 2016 e 2017, 350 jovens tiraram suas vidas na ilha asiática, o maior número nos últimos 31 anos do país de acordo com o governo japonês. Nos Estados Unidos, foram registrados 22 ataques a escolas somente no período de 2000 a 2018. A maioria provocada por jovens que foram vítimas e que buscavam uma forma de vingança.


Mas por que esses jovens fazem esse tipo de ação?

O bullying pode causar efeitos e consequências nos jovens, como conta Keila Espíndola, orientadora educacional do ensino fundamental II e ensino médio do Colégio Objetivo em Brasília. ;A vítima tende ou a se tornar também agressiva ou a se isolar mais, se distancia dos demais colegas com receio de que alguém possa fazer algo com ele;. Além desses problemas, pode prejudicar a vida escolar do jovem. ;Conheço alunos que sofreram bullying em outras escolas e perderam a vontade de ir à escola, não tinham vontade de fazer nada e tiveram um desempenho ruim;, lamenta. De acordo com Keila, uma boa opção para evitar a prática ou ajudar as vítimas parte do posicionamento da instituição. ;A partir do momento em que as crianças entraram em um colégio em que se sentem acolhidas e que não dá espaço para a prática do bullying, elas se sentem mais seguras;, explica a orientadora.

Exemplos que vêm de escolas do DF

Colégio Oobjetivo
O Colégio Objetivo trabalha o antibullying em três etapas. Keila Espíndola, orientadora educacional do ensino fundamental II e ensino médio, explica como funciona o trabalho: ;Na primeira parte, fazemos um trabalho com os alunos para que eles se conheçam, respeitar as diferenças com promoção de dinâmicas para gerar a empatia.

;Promovemos a Semana da Amizade para trabalhar o valor da gentileza. Oferecemos noções para que eles apresentem a importância de serem cordiais, gentis, apoiarem os colegas com dificuldades em casa, nos jogos, não deixarem os amigos sozinhos;, relata. ;Também sugerimos a ideia de que os alunos veteranos são os anjos dos novatos, para que esses novos colegas não fiquem isolados, sejam recepcionados pelos veteranos. Isso faz com que eles criem vínculo com à escola;, explica Keila.

Sobre as ações para combater o bullying, a orientadora explica o que é feito: ;Trabalhamos o respeito e a ética em sala de aula. Ano passado - e até agora- não há registro de brigas na escola, porque trabalhamos com os estudantes esses dois tópicos. Quando começa um princípio de conflito, eles param de implicar porque sabem que é antiético e que isso é errado;,conta.

Colégio Sigma
No Colégio Sigma, existe um programa de convivência ética. Aurea Araújo Bartoli, diretora pedagógica da unidade 606 Norte, explica como a proposta é aplicada em sala de aula. ;O programa é vinculado ao currículo. Criamos uma disciplina com duas aulas semanais. Nas aulas, os alunos têm um espaço para discussão com rodas de conversa e para atividades direcionadas às questões de saúde mental;, conta.

Nessas dinâmicas, Aurea enumera os temas abordados pelos estudantes. ; São trabalhados problemas como conflito, bullying, cyberbullying, redes sociais, ansiedade, ou seja, temáticas enfrentadas pela adolescência. Há ações direcionadas com o espaço com rodas de diálogo onde eles falam de assuntos de interesse da turma. Deixamos claro, também, o que é bullyin,g para não haver divergência ou dúvidas sobre o tema;, relata.

Sobre a prevenção ao bullying, a escola tem seu próprio entendimento. ;Trabalhamos por meio da empatia, de generosidade, do reconhecimento das diferenças e do respeito;, afirma Aurea. Para os momentos de crise, a diretora conta como é feita a solução. ;Por meio do diálogo, ouvimos os alunos em espaços onde eles possam falar tanto em grupo quanto individualmente, onde podem se posicionar e falar sobre situações, não com foco em pessoas;, explica.

Colégio Logosófico González Pecotche Unidade Brasília
Lorena Rodrigues Leite, professora regente do 5; do ensino fundamental, explica o projeto aplicado por ela em sala de aula: ;Comecei a iniciativa em 2017 com alunos do 4; ano do fundamental por haver dificuldade da turma para a convivência e de respeito às diferenças. Então, começamos o trabalho pelo conceito de diferença até chegar ao combate ao bullying. O resultado foi um sucesso;, comemora.

;Trouxemos à tona valores como tolerância, compartilhamento e harmonia na convivência. No conteúdo de história e geografia, por exemplo, há tópicos sobre a formação do povo brasileiro, as etnias. E aproveitamos para trabalhar o preconceito;, conta. . ;Abordamos a origem dos brasileiros, da diversidade das pessoas. Então, fomos buscando árvores genealógicas, descobrindo a origem dos sobrenomes dos estudantes, de onde eram seus avós e bisavós;, explica.

Chegamos ao tema sobre preconceito e foi aí que o assunto bullying foi abordado. Então, além de promover o conhecimento de onde viemos e da origem do preconceito, também tem o objetivo de combater essa prática nociva às crianças;, complementa Lorena.

Centro de Ensino Fundamental (CEF) 10 de Ceilândia
Em matéria pulbicada no Eu,estudante, postada na série de reportagens Saúde Mental em Sala de Aula, o Projeto Gentileza do Centro de Ensino Fundamental 10 de Ceilândia foi abordado. A professora de geografia do CEF 10 Flávia Hamid Cândida percebe que as atividades de trabalho com valores perdidos na sociedade - convívio harmônico, o cuidado com o outro, saber de colocar no lugar do próximo e a autoestima - previnem e combatem casos de bullying, automutilação e tendências autodestrutivas.

Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá*