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Educadores reagem à carta do MEC: 'sem propósito' e 'inconveniente'

Na segunda-feira, Ministério da Educação enviou a todas as escolas do país uma carta pedindo que mensagem com slogan do governo fosse lida a alunos, que deveriam cantar o Hino Nacional enquanto seriam filmados

Ingrid Soares
postado em 26/02/2019 10:13

Alunos seguram bandeira do Brasil em pátio de escola do DF

O envio de uma carta pelo Ministério da Educação (MEC) para todas as escolas do país, solicitando que uma mensagem seja lida aos alunos perfilados em frente à bandeira nacional, seguida da execução do Hino Nacional, provocou reações negativas entre educadores, pais e estudantes. A mensagem, enviada na segunda-feira (25/2), pedia ainda que a cena fosse filmada e enviada à pasta e citava o slogan de campanha de Jair Bolsonaro: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".


Um dos primeiros órgãos a se manifestar foi o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed). Por meio de nota, a entidade afirma que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação. "O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", afirma o Consed. Para o órgão, o Brasil precisa, "ao contrário de estimular pequenas disputas ideológicas na Educação", priorizar a aprendizagem.

Ao Correio, Arthur Fonseca Filho, diretor da Associação de Escolas Particulares (Abepar), ressaltou que o ministério não tem competência legal para exigir o cumprimento do que é pedido na carta, que deve, no máximo ser considerada uma sugestão. "É um pedido estranho. Até pela forma do conteúdo inconveniente da carta. Trabalhar o Hino é interessante, mas de acordo com a lógica e o projeto pedagógico", avalia.
[SAIBAMAIS]
Ivan Ferreira Barros, diretor do Elefante Branco, escola pública na Asa Sul, considerou o pedido "sem propósito". "Há questões mais sérias a serem pensadas do que cantar o Hino e filmar. O pedido parece ser sem propósito. Tem que se preocupar é com a segurança e a infraestrutura nas escolas, com a formação continuada de professores", argumenta.

Até mesmo o Movimento Escola sem Partido, apontado como conservador, criticou a medida nas redes sociais: "É o fim da picada", escreveu. A entidade defende combater uma suposta doutrinação por parte de professores em sala de aula - uma das bandeiras de Jair Bolsonaro.

"Desvio do que é essencial"

Segundo o diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, mesmo que o pedido tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". O que essa ação reforça, para ele, é que o MEC caminha no sentido contrário do que precisa ser foco. "É desvio do que é essencial. O MEC tem se silenciado até aqui a respeito de temas urgentes."

Para ele, a pasta deveria aproveitar o início do governo para propor políticas capazes de melhorar a aprendizagem, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a área e implementar a Base Nacional Comum Curricular, que define o que deve ser aprendido em cada etapa escolar.

Elogio à proposta

Um dos poucos a se manifestar favorável à medida foi Ademar Batista Pereira, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). "O respeito à bandeira e aos valores nacionais, para a gente, não é novidade nenhuma. A questão de filmar, não vejo problema. O MEC demonstra a visão do governo novo, de resgatar os valores nacionais. Vejo como uma ação positiva", disse ao Correio. Com informações da Agência Estado.

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