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Estudantes de escola pública na Estrutural filmam curta sobre bullying

Alunos de escola pública na Estrutural produziram o filme Somos capazes para combater o preconceito nas salas de aula

Renata Nagashima*
postado em 20/10/2018 07:00
Os estudantes Eros, Maria Eduarda e Andressa interpretam os principais papéis no curta-metragem
Pensando em combater o bullying, os alunos de uma escola pública da Estrutural encontraram uma forma interessante de tratar o tema: produzindo um filme. O curta Somos Capazes reuniu estudantes da educação integral do Centro de Ensino Fundamental 2 da Estrutural para contar a história de Joãozinho, um garoto inteligente que sofre preconceito por causa de sua empolgação.

;A coordenadoria sugeriu que fizéssemos algo para combater o bullying e todos abraçamos a ideia. Eu pensei no filme porque ficaria gravado e não só as crianças que participaram poderiam ser impactadas. E nasceu o Somos Capazes. No filme, mostramos que, independentemente de a pessoa ser superinteligente, ser magra ou gorda, alta ou baixa, somos todos capazes de fazer qualquer coisa;, explica o educador social Ronaldo Rocha, 24 anos, idealizador do projeto.

Ainda de acordo com o educador, o principal objetivo do filme é conscientizar alunos sobre as consequências do bullying e da importância de se combater essa prática. ;Contamos a história de um garoto que sofre bullying por ser muito inteligente. Ele acaba sendo agredido e não quer mais ir à escola. A história foi baseada no que a gente vê aqui na escola. Se a criança não sabe ler, é burra, se sabe demais, é nerd, e queremos acabar com isso;, declara.

Para o estudante Eros Matheus Vieira, 11 anos, que está no 5; ano e interpreta o vilão que agride Joãozinho, fazer parte do elenco do filme foi um grande aprendizado. ;Não devemos fazer bullying com o outro só porque é inteligente ou porque sabe um pouco menos que nós. Depois do filme, eu passei a respeitar os outros e não ficar com preconceito. Aprendi muita coisa. Já vi outras pessoas sofrendo bullying e eu me senti mal;, conta.

Intérprete de Larissa, amiga de Joãozinho no filme, Maria Eduarda Pereira, 10, já sofreu bullying e conta que o curta mudou sua vida. ;Foi muito importante para mim e eu acho que vendo o filme todas as pessoas que sofrem bullying vão poder lutar contra isso. Eu entendo que posso ajudar outras pessoas que estão sofrendo e o que me deixa mais feliz é que todos nós não vamos mais sofrer bullying;, comemora.

Maria Eduarda ressalta a importância de tratar o próximo com respeito. ;As pessoas são do jeito delas e muitas pessoas maltratam as outras para se sentirem orgulhosas, mas nada disso vai fazer elas felizes ou melhores que a gente. Somos todos capazes de fazer qualquer coisa. E cada um tem seu jeito, então não precisa fazer bullying.;

O educador social Ronaldo Rocha idealizou o projeto: respeito às diferenças


Impactos


Andressa Vitória da Paz, 11, do 4; ano, também interpretou uma vilã e, na avaliação dela, a produção serviu como experiência para se colocar no lugar do outro, tanto de quem sofre bullying quanto de quem pratica. ;Eu já sabia que bullying era errado, mas, depois do filme, eu pude ver o lado do outro. Hoje, eu entendo que é importante combater o bullying, porque é algo que pode fazer muito mal e causar consequências até quando a pessoa for adulta;, diz.

Em apenas uma semana, a produção causa impactos positivos na escola. ;O que mais mudou foi que, na minha turma, tinha um garoto que usa óculos e todo mundo o chama de quatro olhos. Depois do filme, eu parei, porque percebi o quanto ele se sentia mal quando a gente o chamava de quatro olhos. Temos que pensar antes de falar para não magoar o outro;, afirma Andressa.

Coordenadora da educação integral do CEF 2, Brena Mengali, afirma que já é possível notar uma diferença nos alunos que trabalharam no filme. ;O filme é muito tocante, qualquer pessoa que assisti-lo, seja aluno, seja adulto, vai ser impactado e vai poder refletir no que acontece quando fazemos uma piada ou agredimos alguém;, diz, emocionada.

Segundo ela, o filme é um recurso que ajuda os alunos a pensarem e refletirem sobre as atitudes deles de uma forma diferenciada e cativante. Na escola, o próximo passo é exibir o curta-metragem para todos os alunos para que sejam realizados debates sobre o que foi assistido e as atitudes e comportamentos recorrentes.

Para a professora e doutora Ângela Branco, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), a forma como o assunto foi tratado, por meio de um filme feito pelos alunos, pode ser mais eficaz na hora de provocar uma mudança de comportamento nas crianças. ;Quando toda comunidade escolar participa, especialmente os alunos, o resultado tende a ser bastante positivo. O tema é de grande relevância para os alunos e seu desenvolvimento. Filmes e teatro convidam à realização de debates, conversas e muita reflexão;, observa.

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O filme


Somos capazes é um curta-metragem que conta a história de Joãozinho, um garoto que gosta muito de estudar e, por isso, sofre bullying por parte dos colegas. A produção é baseada nas situações vividas no dia a dia do Centro de Ensino Fundamental 2 da Estrutural. O filme está disponível no YouTube, em goo.gl/FQ38z2.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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