Polyana Moreira, 16 anos, está no 2; ano do ensino médio e gosta de estudar. Ela ainda não escolheu o que cursar na universidade, mas se envolve com as atividades desenvolvidas no Centro Educacional 1 do Cruzeiro, que ficou em sexto lugar no ranking das escolas públicas da capital. Para a jovem, falta investimento em tecnologias para atrair os alunos. ;O desestímulo acontece por vários fatores. E, muitas vezes, um estudante que está desanimado puxa outros colegas. A evolução do aluno é a evolução da escola. Eu procuro me envolver nos projetos e acho que a tecnologia pode ajudar. Ter bons computadores e material de laboratório;, exemplifica.
O pai dela, Luís Fernandes, 57, está satisfeito com a escola da filha, mas faz ressalvas. ;A circulação de professores temporários também desestimula. Quando entra um que mobiliza os estudantes, que eles gostam, logo ele sai;, lamenta. Para o coordenador da unidade de ensino, Eudes Henrique, o segredo para que os alunos tenham bom rendimento e participem do Ideb é motivá-los. ;Muitos alunos reclamam disso, mas sempre participamos das olimpíadas de conhecimento e dos torneios de robótica. Dessa forma, eles conseguem perceber o próprio desempenho;, explica.
Diretora do Centro de Ensino Fundamental 1 do Cruzeiro, Fátima Silva de Carvalho Mendonça aposta no envolvimento da comunidade para melhorar o desempenho dos estudantes e estimulá-los a fazer a prova. A unidade tem alunos do 1; ao 9; ano do ensino fundamental e atingiu nota 5,9 nos anos iniciais (de 1; ao 5; ano) e 5,4 nos anos finais (do 6; ao 9; ano). ;Além disso, os professores têm liberdade para desenvolver projetos. Os nossos alunos participaram do festival de cinema com curtas feitos por celulares;, destaca.
Falhas no sistema
Na visão do professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Demo, há um descuido com a educação nas escolas públicas e privadas a partir dos anos finais do ensino fundamental. ;Parece que baixamos a guarda nessa etapa. É onde estamos crescendo menos. A rede pública conclui os anos iniciais do ensino fundamental com 6 e, nos anos finais, com 4,3. A tragédia vem no ensino médio, onde podemos ver que a diferença entre o ensino público e o privado é grande;, avalia.
Para Pedro, falta aprendizado adequado. ;Temos um tom de estagnação no ensino médio. De 2005 a 2017, são 12 anos perdidos. O sistema de ensino que temos não vai funcionar. Ele leva só à transmissão de conteúdo instrucionista. As pessoas não aprendem. É preciso um sistema de aprendizagem, com leitura, pesquisa e produção de texto. A aprendizagem é uma autoria, está na mente do estudante e, lá, você não entra. A proposta de ensino está errada.; O professor ressalta que é preciso saber por que só uma minoria dos alunos do ensino médio fez a prova.
Reforma estrutural
O secretário de Educação do DF, Júlio Gregório Filho, admite que os resultados estão aquém do esperado, mas tem uma visão positiva sobre as notas do DF no Ideb. ;O mais importante não é o ponto de partida e o de chegada, mas o quanto cresceu no caminho. Em termos de avaliação, a escola privada tem uma nota maior do que a da pública, mas apresentou uma avaliação inferior. O ensino fundamental, nos anos iniciais, em 2015, estava com 4,4. Chegou a 2017 com 6. Subiu 1,6 ponto. Já a particular teve nota inicial de 6,4 e terminou com 7,4;, compara Júlio.
A maior discrepância de notas entre a escola pública e a particular ocorre no ensino médio. O secretário destaca que, mesmo nesse cenário, a rede distrital apresenta um crescimento mais constante. ;Ainda assim, nas duas redes, a fotografia não é das melhores. Apesar do quadro horroroso, somos o 4; do Brasil. E todo mundo está no vermelho. Nós temos que reestruturar o ensino médio. Sei que o momento político é delicado, mas alguma coisa tem que ser feita. O DF está trabalhando com professores, gestores, em um redesenho do currículo, para termos uma escola em que o aluno seja mais protagonista.;
Professores
Representantes do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) e do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do DF (Sinepe) também se manifestaram sobre o Ideb na capital. Cláudio Antunes, diretor da primeira entidade, diz que professores da rede pública estão analisando os números. Sobre a baixa adesão de estudantes à prova no ensino médio, diz não acreditar em um ;boicote;. ;Acontece que o professor está sobrecarregado e o aluno, desanimado;, opina.
Já o presidente do Sinepe, Álvaro Moreira Domingues, destacou, entre outras coisas, a necessidade de todas as escolas particulares do DF participarem da avaliação. ;É inadmissível que o sistema de ensino do DF, tanto público quanto privado, com uma estrutura significativa e quadro excepcional de professores, continue com esse desempenho. No ensino médio, o declínio do interesse do aluno é significativo. Isso justifica uma reforma no sistema. A começar pelo modelo financiamento;, exemplifica.
Ainda de acordo com Álvaro, também é necessário ser mais firme com o estudante para que ele faça a avaliação. ;O mecanismo tem que ser mais contundente. Ele tem que fazer a prova, se não, não recebe o certificado de conclusão. E a nota, por sua vez, tem que integrar o diploma;, sugere.