Jornal Correio Braziliense

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Crianças e adolescentes venezuelanos refugiados no DF vão para a escola

Doze famílias que deixaram o país sul-americano, mudaram-se para Roraima e foram transferidas a Brasília na terça-feira

Treze das 22 crianças e adolescentes do grupo de venezuelanos refugiados em Brasília conseguiram vagas na rede pública do Distrito Federal e começarão a estudar a partir de segunda-feira. A notícia foi anunciada na manhã de ontem, pela Secretaria de Educação, às 12 famílias que deixaram o país sul-americano, mudaram-se para Roraima e foram transferidas a Brasília na terça-feira. Esses 50 imigrantes ficarão abrigados em quatro casas da entidade Aldeias Infantis SOS, na Asa Norte, pelo menos até o fim do ano.

Fora esses 13 jovens, nove crianças menores de 3 anos ainda não terão os estudos garantidos na capital federal. Elas entrarão na fila para uma das 14.559 vagas nos 108 Centros de Educação da Primeira Infância (CEPIs) e nas unidades parceiras conveniadas que recebem bebês nessa faixa etária. Quase a metade dessas instituições têm condição para receber apenas oito crianças por sala. Os pequenos permanecem nas creches durante 10 horas e recebem cinco refeições por dia.

Além de conseguir emprego, a preocupação das mães e pais é garantir o acesso à educação para os filhos. Para a recreadora Jormary Escalona, 21 anos, a vaga garantida à filha de 4 anos resultou em alívio. Em Roraima, a criança não estudava, porque não tinha documentação. ;Na Venezuela já era bem difícil. Minha filha estudava em uma escola pública que não tinha comida. Ficava das 7h às 16h e não davam nada. Os pais precisavam levar materiais e alimentos;, comenta. A expectativa de Jormary, agora, é de arranjar um emprego o quanto antes. ;Deixei meus avós e pais lá e vim para dar um jeito de ajudá-los. As pessoas estão ganhando bem pouco. Por isso, quero seguir trabalhando aqui.;

Ontem, funcionários da Secretaria de Educação estiveram na Aldeias Infantis SOS para conversar com as famílias, tabular dados e descobrir o nível educacional das crianças e adolescentes. Segundo o secretário de Educação, Júlio Gregório Filho, mesmo que a disponibilidade de vagas seja maior na regional do Plano Piloto e Cruzeiro, existe a possibilidade de que crianças com menos de 3 anos não consigam matrículas imediatamente. ;É a primeira vez que temos um grupo de estrangeiros que requer adaptações em termos de idioma e do sistema de ensino. Não temos condições de assegurar as inscrições de imediato, porque não podemos criar uma situação de privilégio;, afirma. ;O que vamos tentar fazer é otimizar o atendimento deles, até pela questão do deslocamento e do pertencimento. Para que eles reconheçam alguns pares dentro da unidade escolar, vamos tentar distribuí-los entre três escolas, no máximo;, completa.

Dificuldades

Em entrevista ao Correio na quarta-feira, Gimelsón José Corsega, 42, e a mulher, Rosimar Yanet Marin, 38, demonstraram preocupação quanto à educação dos filhos, de 15 e 3 anos. O mais velho faz parte do grupo que começa a estudar na segunda-feira. O adolescente cursava o 3; ano do segundo grau na Venezuela e o menor frequentava o maternal no país vizinho. Nenhum dos dois chegou a estudar em Roraima.

Mesmo com as dificuldades do idioma, o pai, que trabalhava em uma indústria petroleira na Venezuela, acredita que os filhos se adaptarão bem ao novo país. ;O mais velho fala e entende bastante a língua portuguesa. Ele conversava com militares que trabalhavam nos abrigos e falavam português e espanhol. O pequeno fala algumas coisas, mas também entende bem. Acho que, interagindo na escola, ele aprenderá mais.;

Gilmelsón acrescenta que algumas das famílias estão se adaptando para cuidar das crianças que não conseguirem entrar na escola por enquanto. ;Entramos em acordo e, quando alguém conseguir emprego, os demais cuidarão dos filhos da pessoa;, detalha.

Para saber mais

Critérios de prioridade
Para garantir uma vaga nas creches vinculadas à Secretaria de Educação do Distrito Federal, os pais das crianças de até 3 anos precisam cadastrá-las na fila de espera. O atendimento leva em consideração critérios de prioridade, e não a ordem de chegada. As famílias ganham pontuação de acordo com cada um deles. O pai ou responsável que ganha até um salário-mínimo, por exemplo, registra 25 pontos, enquanto aquele com rendimento superior a quatro salários tem 10. Famílias beneficiárias de programas sociais, crianças em situação de vulnerabilidade ou em condição de risco nutricional marcam 20 pontos. Outros critérios, como tempo na fila de espera, também são avaliados.