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Escola rural usa projeto digital para melhorar desempenho em matemática

CED Taquara, que atende do maternal ao ensino médio, já teve o pior resultado no Enem entre os estabelecimentos de ensino do Distrito Federal e, com boas iniciativas, têm conseguido resultados melhores

De acordo com a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), o país ainda está longe de alcançar o nível ideal de aprendizagem em matemática nas séries iniciais da educação básica. Para melhorar esse quadro, uma escola no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, resolveu inovar e investir em projetos que usam a tecnologia como auxílio pedagógico. Um deles é o Matemática Animada, para os alunos do 2; ano.

A iniciativa começou recentemente, mas é um sucesso entre os alunos do 2; ano do Centro Educacional (CED) Taquara, há quase 60 quilômetros do centro de Brasília. ;É bem legal;, opina Miguel Fernandes dos Santos, 8 anos. E ele gosta tanto que não é a toa que afirma que a matéria preferida dele é matemática. Para a coleguinha Daniela Bernardo Lins, 8, as atividades são muito divertidas. ;Eu gosto de tudo na escola, até da tia! Ela passa no quadro muitas coisas para a gente fazer e aprender muito;, diz.


A menina se refere à professora Glenda Sales, responsável pela aplicação do projeto. Formada em pedagogia pela Universidade de Brasília (UnB), ela trabalha na escola há 11 anos e sempre tenta inovar. O projeto pedagógico Matemática animada nasceu da dificuldade de ensinar a disciplina. O projeto consiste em aulas mais interativas. São reproduzidas pequenas histórias no quadro que trazem algum tipo de problematização matemática, sempre envolvendo elementos do campo. Depois, os alunos têm de tentar resolver a questão por meio de brincadeiras, como dobraduras de papel, jogos da memória, massinha e uso de ábaco (antigo instrumento de cálculo). Além disso, há aulas no laboratório de informática, em que os alunos podem aprender com joguinhos de computador. ;É uma comunidade carente, então um projetor faz muita diferença para eles. Muitos só têm acesso a internet aqui na escola;, explica.

Para ela, por mais que a iniciativa ainda esteja no início, já dá para sentir a diferença. ;Se a matemática for colocada de forma interessante, chama mais atenção. E temos visto isso, eles estão participando mais e o interesse aumentou;, ressalta. Para viabilizar as atividades, entra em campo o professor David Rocha que há 10 anos saiu de sala de aula para cuidar do laboratório de informática. Ele desenvolve as atividades a serem aplicadas pelos professores e ainda disponibiliza tudo no blog da escola. ;Eu acho que se algo está na internet é público;, afirma. O blog está disponível em centrotaquara.blogspot.com. ;A função de quem está fora da sala de aula, como eu, é facilitar o trabalho do professor que está em aula;, garante.

Apesar de animados, professores e direção reconhecem que os desafios que o colégio enfrenta são grandes. O CED Taquara, fundado na década de 1970, atende 857 alunos, moradores do próprio núcleo e também das proximidades, como o Núcleo Rural São José, Arapoanga e chácaras próximas. Por ser o único colégio da região, o CED Taquara atende do maternal ao ensino médio integral e educação de jovens e adultos (EJA). Ao todo, 16 ônibus fazem o transporte dos alunos. A escola chegou a ter o pior desempenho do DF no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2012. Hoje, a direção comemora uma pequena melhora nos resultados. Em 2016, último ano em que foi divulgado o ranking das escolas, o Taquara tinha subido 15 posições.

No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o resultado passou de 4,5 em 2009 para 5,5 em 2015 nas séries iniciais. A direção atribui a melhora a uma boa gestão, professores empenhados e uma comunidade participativa. De acordo com o diretor, Volemar Dornelas, no cargo desde 2012, as reuniões de pais alcançam 95% de presença. ;Temos feito um trabalho motivacional para que o aluno goste da escola;, ressalta Volemar. Apesar disso, ele afirma que os desafios são grandes. ;Atender todas as modalidades é complicado. Além da estrutura física, os materiais não chegam para a gente. Por estarmos em uma área rural, tudo fica mais difícil, como o acesso à internet por exemplo.; Para a professora Glenda, o complicado é se virar com poucos recursos. ;A maior problemática é a falta de materiais. Só temos 10 ábacos e só duas salas têm projetor;, explica.

Na tentativa de alcançar melhores resultados, é que a escola tem investido em iniciativas como o Matemática Animada. Ao todo são 12 projetos em execução. Outro que faz sucesso entre os alunos é o Mercadinho, que consiste em uma simulação de um mercado para os alunos aprenderem a fazer cálculos com base no que eles podem comprar. O dinheiro (de mentira), eles conseguem ao fazer as leituras em sala de aula. O projeto, tocado pela professora Valéria Venâncio, existe desde 2013. A professora garante que o aprendizado é muito bom. ;Meus alunos são ótimos em leitura. É um projeto trabalhoso, mas dá resultado. Eu nunca tive uma turma tão boa;, explica ela que há 26 anos trabalha no CED Taquara com alfabetização.
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá