Jornal Correio Braziliense

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Projeto exibe documentário sobre cultura indígena em escolas públicas do DF

Iniciativa de grupo teatral leva filme estrelado por guaranis kaiowás a colégios da região

Alunos do 2; ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio EIT (Cemeit) de Taguatinga tiveram uma aula diferente nesta terça-feira (17). Uma turma do colégio teve a chance de assistir ao documentário A fala da terra, produzido pela companhia de teatro La Casa Incierta e estrelado por 16 jovens índios guaranis kaiowás. Nas cenas do documentário, os indígenas cantam, dançam e expressam suas emoções, desejos e preocupações.

O filme foi gravado durante as três semanas que o grupo teatral hispano-brasileiro passou em uma aldeia de Amambai, em Mato Grosso do Sul. Representantes da equipe estiveram na unidade de ensino para mediar a exibição, tirar dúvidas e estimular a reflexão sobre o respeito à diversidade e à cultura indígena.

A atividade faz parte das ações do projeto Guarani Periférico, de teatro e educação para indígenas. A iniciativa, que começou em março, recebe recursos do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura (FAC) do Governo de Brasília e tem entre seus objetivos aproximar jovens da capital federal da cultura indígena. A escola de Taguatinga foi a primeira a receber a visita do projeto, que passará por outras instituições de ensino públicas do DF entre esta semana e a próxima, em homenagem ao Dia do Índio, comemorado na próxima quinta-feira (19).
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Alunas do Cemeit, Sâmela Oliveira e Maysa Vitória, ambas de 16 anos, aprovaram a atividade. ;Geralmente quem vive em áreas urbanas tem certo preconceito e receio dos índios, pois, quando se fala neles, as imagens que vêm à cabeça são de pessoas que andam peladas, mas, na verdade, muitos deles vivem como nós;, afirma Sâmela, fazendo referência ao fato de que muitos indígenas usam celular e frequentam faculdade atualmente.

;Eles não são tão diferentes de nós. Eu me identifiquei bastante com o vídeo. Hoje em dia, todos vivem na era da tecnologia e, com os índios kaiowás, não é diferente;, observa Maysa. Outro aprendizado foi com relação à discriminação. ;Precisamos esquecer os preconceitos;, conclui Maysa.
O projeto
"É muito importante levar o que existe nas aldeias para as escolas, pois, no Brasil, há muitas culturas indígenas ricas, como a guarani, que, por vezes, são desconhecidas pela população;, comenta Clarice Cardell, uma das coordenadoras e produtoras do projeto. Com direção de Carlos Laredo e produção de Claudia Leal e Clarice Cardell, o documentário A fala da terra tem 14 minutos e 23 segundos de duração.

Antes da temporada em vídeo em colégios brasilienses, os indígenas apresentaram um espetáculo teatral no Teatro Municipal de Dourados (MS), em 6 e 7 de abril. A ideia de produzir o filme surgiu quando a companhia esteve na aldeia e apresentou espetáculos para as crianças do local. ;O pessoal da aldeia pediu para que o grupo fizesse uma oficina de teatro, foi quando vimos o potencial deles", explica Clarice.

A coreógrafa Fernanda Cabral, que ajudou a preparar os indígenas para o documentário durante oficinas de teatro, relata como foi o contato com os atores. ;Pedimos que os guaranis resgatassem algumas canções que avós ou mães cantavam. Acredito que essa foi a forma mais correta de conhecê-los, pois músicas rememoram tradições passadas de geração em geração;, afirma. Os indígenas também expressaram como é o cotidiano deles por meio de jogos. ;Trabalhamos com jovens de 14 a 18 anos, mas todos gostavam de brincadeiras populares. Eles têm uma relação muito próxima com o brincar, o que é fundamental para a criação teatral. Foi um resgate maravilhoso para eles, pois expressaram uma cultura que, muitas vezes, é esquecida;, comenta Fernanda.

Flávia Felipe, professora de sociologia do Cemeit, aprovou a visita do grupo teatral à escola, por perceber que esse tipo de ação enriquece as discussões sobre cidadania, democracia e luta pela dignidade humana. ;Os alunos entram em contato com o compartilhamento de informações que a companhia teve na aldeia e isso faz com que eles percebam que os índios são pessoas que precisam de respeito e reconhecimento.; A educadora acredita que projetos como esse contribuem para a construção de uma sociedade mais tolerante.

As próximas visitas
Até a próxima terça-feira (24), o Grupo La Casa Incierta visitará mais escolas públicas do DF para apresentar o documentário A fala da terra. Confira programação:

19 de abril, às 14h
CEM 10 de Ceilândia (QES 1, Área Especial 1 - Setor de Indústria)

20 de abril, às 8h
Cemeb de Taguatinga Sul (QSA 6, Setor A Sul)

20 de abril, às 14h
CEM 10 de Ceilândia (QES 1, Área Especial 1)

23 e 24 de abril, às 10h
Centro de Ensino Fundamental 1 de Planaltina (Setor Educacional, Quadra 2)

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa