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6° Congresso de Literatura Infantojuvenil atrai grande público em Luziânia

Evento é o único no estado de Goiás e um dos poucos do Brasil a abordar o tema. Durante três dias, professores da rede pública de ensino e outros interessados participaram de oficinas com escritores e aprender mais sobre o mundo dos livros infantis

"Para crianças, um livro é todo o mundo". A frase atribuída a Monteiro Lobato, um dos maiores nomes da literatura infantil, traduz bem o espírito que norteia o Congresso de Literatura Infantojuvenil de Luziânia (Conluz). O evento está na 6; edição e é o único em Goiás e um dos únicos no Brasil voltado para a temática. Mais de 2 mil pessoas participaram dos espetáculos e 200 das oficinas, que se encerraram nesta sexta-feira (23).
Organizado pela prefeitura e pela Secretaria de Educação do município, o evento conta com a curadoria do homem da maleta azul: o promotor de leitura Maurício Leite, reconhecido nacional e internacionalmente por seu trabalho, cuja missão é fazer crianças se interessarem por livros. Por causa dessa missão, ele recebeu, em 2014, um prêmio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Hoje, mesmo vivendo em Portugal, ele continua a vir para o Centro Oeste todos os anos para fazer o evento acontecer. O objetivo é claro: formar mais leitores mirins.

Em um país com uma educação de base tão carente, Maurício acredita que esse é um grande passo no caminho para a mudança. "O que falta no Brasil são políticas públicas voltadas para a educação. Poucos municípios têm leis de incentivo à leitura, como é o caso de Luziânia, por exemplo", diz.

Desde o primeiro Conluz, em 2012, Maurício observa que houve mudanças em Luziânia, município distante 60km de Brasília. ;Todas as oficinas lotaram, o público já é muito maior do que no começo. Em um momento que muitas editoras estão fechando, ter um evento desses é muito importante. Eu sinto muito o retorno da população, já sou reconhecido aqui;, conta ele, que desenvolve projetos de leitura em países da África e já executou diversas iniciativas no Brasil. ;Não sou escritor, nem contador de história, pego o produto pronto e promovo a leitura;, acrescenta o apaixonado por livros.

Este ano, o congresso homenageia o escritor e ilustrador André Neves. Ganhador de vários prêmios, entre eles o Jabuti de 2017, pelo livro Nuno e as coisas incríveis, André se diz encantado com o convite. "Para mim, o mais gratificante é saber que tenho esse reconhecimento. O sentido é saber que quando chego aqui, tem essa relação, as pessoas querem ler meus livros. Então estou formando mais leitores", comemora o homenageado, autor de mais de 100 livros.

Para ele, o desafio de fazer o Brasil uma nação de leitores parte do desinteresse dos governantes por formar pensadores e por uma educação de má qualidade. "Por meio da leitura, a gente poderia ter um país com o que mais precisamos, que é respeito ao ser humano", completa o pernambucano, que vive em Porto Alegre há 20 anos. ;O que achei mais legal, é que as pessoas têm consciência que o que é feito é tão pouco que o que estamos fazendo aqui é muito;, diz.

Com a presença de vários escritores infantojuvenis, durante três dias, educadores, professores e comunidade em geral puderam participar de seis oficinas, espetáculos e mesas redondas. A contadora de histórias e atriz Priscila Camargo, que trabalhou em novelas da Rede Globo, como A lei do amor e Sangue bom, também marcou presença no evento. Ela conta que, por muitos anos, se afastou da TV para poder se dedicar a sua maior paixão: contar histórias. ;Esse é o trabalho do meu coração. O prazer do livro não dá substituir, assim como o de ouvir uma história. Todo professor é um contador de história", diz.

A portuguesa Sônia Fernandes se sentiu encantada com o congresso. ;Eu sempre organizei esse tipo de evento, então estar do outro lado é muito interessante;, diz a criadora de diversos programas sociais de leitura em Portugal.


Para a escritora e distribuidora de livros Iris Borges, o grande legado do Conluz é fazer todos refletirem sobre a leitura. ;Essas oficinas fazem diferença nas escolas. As crianças, muitas vezes, não têm compreensão leitora. E é muito fácil colocar a culpa no governo, mas nós precisamos fazer algo;, diz.

Professora de mediação de leitura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lúcia Fidalgo admirou o interesse do público. ;Fiquei encantada com a quantidade de pessoas. Eu sabia desse congresso e sempre tinha vontade de vir, então foi muito legal;, conta.


O brasiliense Chico Simões, escritor e artista de teatro de bonecos, também não conhecida o congresso. ;Eu me surpreendi ao saber que Luziânia tem uma atividade com essa qualidade, que nem Brasília tem!”, comenta o criador do grupo Mamulengo Presepada.

O congresso ocorre todos os anos em março. O período escolhido é uma preparação para comemorar o Dia Internacional do Livro Infantil, comemorado em 4 de abril, e o Dia Nacional do Livro Infantil, em 18 de abril.




*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa