Jornal Correio Braziliense

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60 mil analfabetos no DF

Pesquisas mostram que o número de pessoas que não sabem ler e escrever saltou de 1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. Brasilienses que abandonaram os estudos contam o drama de ser iletrado

A vendedora ambulante Shirley Ananias, 33 anos, nasceu em Ibiá, no interior de Minas Gerais, mas vive no Distrito Federal há mais de dez anos. Ela tem uma filha de 3 anos, a pequena Bruna Ananias Clementina da Silva, e seu maior desejo é que a criança seja letrada, já que não teve o que descreve como ;privilégio;. ;Com 11 anos, eu parei de ir à escola porque tinha de trabalhar na lavoura para ajudar em casa. Agora, tudo que eu quero para minha menina é que ela não passe por essa tristeza. Bruna já está na creche e, depois, vai para um colégio aprender tudo.; Quando questionada sobre a lembrança mais feliz da infância, Shirley cita os momentos em que estava na escola. ;Não me lembro do barraco de lona em que morava, da miséria. Só da felicidade que era estudar;. Os olhos da mineira se enchem de água com o relato.

[SAIBAMAIS]A realidade de Shirley é a mesma que a de outras 60.329 pessoas no DF que não sabem ler nem escrever. O dado é da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), divulgada pela Companhia de Planejamento (Codeplan). Os resultados do levantamento mostram que o número saltou de 1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. A pesquisa aponta ainda que o Paranoá é a região administrativa com o maior percentual de analfabetos: 4,03%. Em seguida, aparecem Brazlândia (3,7%), Ceilândia (3,58%) e Santa Maria (3,50%). A capital tem hoje 3 milhões de habitantes. Apesar dos números, o DF foi a única unidade da Federação que recebeu do governo federal, em 2014, o selo ;Território Livre do Analfabetismo;. O certificado só é dado às localidades em que 96% dos moradores podem ler e escrever.
Josenaide Laurindo Marques, 47 anos, enfrenta dificuldades com as letras. A piauiense acorda às 4h20 para pegar o primeiro ônibus que sai do terminal de Águas Lindas rumo ao Plano Piloto. Depois de chegar à Rodoviária, por volta das 6h30, ela precisa pegar outro ônibus para o serviço. Hoje, a doméstica trabalha em uma casa de família na Asa Sul. Josenaide chegou à capital com 6 anos, em 1970, depois de deixar Barreiras do Piauí. Nascida em uma realidade difícil, a infância dela foi marcada pela miséria. ;Era tudo muito triste, pobre. Desde muito nova, precisei trabalhar na roça para ajudar minha mãe, que cuidou dos cinco filhos sozinha. A gente precisava se virar. Eu juntava lenha para os outros, carregava água em baldes, vigiava plantação na roça das pessoas, ajudava minha mãe a descascar mandioca;, relembra. Josenaide nunca teve a oportunidade de ir à escola. Assim que chegou ao DF, começou a trabalhar como doméstica, ainda criança. ;Sempre trabalhei na casa dos outros limpando, cozinhando, cuidando de crianças. Não dava para eu estudar, porque os patrões não deixavam. Eu tinha de limpar durante o dia e cuidar dos filhos deles à noite.;

60.329
Pessoas analfabetas no DF

12,9 milhões
Cidadãos analfabetos no Brasil

758 milhões
Total de analfabetos no mundo