Três meses de viagens pelos trens do metrô para conhecer um pouco mais de algumas das 170 mil pessoas que utilizam o serviço diariamente no Distrito Federal. O resultado é a exposição Sobre idas e vindas, com textos de Marcelo Abreu e fotos de Paulo Barros, em cartaz nas galerias das Estações Central, Guará e Ceilândia Centro.
Segundo os organizadores, a essência da mostra é compartilhar histórias anônimas de quem justifica a existência do Metrô-DF. Para isso, a equipe embarcou nos 24 trens, em momentos e itinerários diferentes, garimpando sonhos e experiências de vida escondidos nos embarques e desembarques apressados do transporte público. Os depoimentos e fotografias também estão disponíveis no site.
A caminho da casa da mãe, no Guará, a moradora da Asa Norte Silma Pereira, 63 anos, se encantou com o relato do casal José Donizete de Oliveira e Vera Regina, ambos com deficiência visual. A aposentada pelo Banco do Brasil foi voluntária por dois anos no Centro de Ensino Especial n; 2, na 612 Sul, como ledora para cegos. ;Conheço bem a luta, o preconceito. Nesse caso, temos duas pessoas que tiveram oportunidade, mas isso é raro;, comenta. ;A maioria dos meninos que conheci na escola vinham do interior, moravam com parentes tão pobres quanto eles e tinham uma vida muito difícil;, recorda. ;São eles que não veem, mas também são eles que são invisíveis aos outros, o preconceito é algo muito triste.;
Curiosamente, Silma também teve problemas de visão. Em 1987, fez uma cirurgia corretiva de miopia, mas voltou a ter dificuldades de enxergar em 2013 e precisou fazer um transplante de córnea em 2015. ;Parei de dirigir, foi um transtorno por uns dois anos, imagina como é viver sempre sem conseguir enxergar;, reflete a goiana de Ceres, que mora no Distrito Federal desde 1960.
Morador de Samambaia há um ano, Adalberto Soares, 50 anos, aproveitou o sábado para visitar amigos em Planaltina. No caminho, parou para ver a história de José Antônio. ;Achei legal porque a história dele é parecida com a minha e de muitas outras pessoas. Assim como eu, ele veio do Nordeste em busca de uma vida melhor e morou em Ceilândia, onde fiquei por 15 anos;, compara o migrante de Pombal (PB) que chegou ao Distrito Federal em 1990 para trabalhar como garçom e, hoje, exerce a atividade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). ;A comunidade do Nordeste aqui no DF é muito grande, principalmente em Ceilândia. Achei legal a homenagem;, elogia.
De passagem pela Estação Central, a caminho de exposições no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e na Caixa Cultural para um trabalho de escola, a estudante do 3; ano do ensino médio do Colégio Elefante Branco Vitória Lyssa, 17 anos, se emocionou com as histórias de superação relatadas. ;Achei bacana ver a experiência das pessoas, a luta do brasileiro, a questão de muitos virem para Brasília tentar uma vida melhor, apesar de nem todos conseguirem;, comenta a moradora de Taguatinga Sul. ;Eu me identifico com a parte de acordar cedo e correr atrás de um futuro melhor. É cansativo, mas necessário;, relata a estudante que sonha em cursar medicina veterinária da Universidade de Brasília (UnB). ;Tenho certeza que vou conseguir;, afirma, determinada.
Serviço: Exposição Sobre idas e vindas
Locais: Estações Central (Rodoviária do Plano Piloto), Guará e Ceilândia Centro
Textos: Marcelo Abreu
Fotos: Paulo Barros
Realização: Assessoria de Comunicação do Metrô-DF