O governador Rodrigo Rollemberg assinou, nesta segunda-feira (6), acordo de cooperação internacional para ampliação do Projeto Mulheres Inspiradoras, em solenidade no Palácio do Buriti. O investirá US$ 20 mil, e a será gestora do recurso.
Com o montante, 15 escolas em sete regiões administrativas poderão participar da iniciativa, que oferece aos alunos da rede pública de ensino reflexões sobre equidade de gênero, representação feminina na mídia e violência contra a mulher.
O projeto será ampliado por meio da capacitação de 30 professores, que atuarão em sete regiões mapeadas pelo programa , consideradas de vulnerabilidade social ou de alta criminalidade. A expectativa é beneficiar cerca de 1,55 mil alunos de escolas públicas das regiões de Ceilândia, da Estrutural, de Planaltina, do Plano Piloto, de Samambaia, de Santa Maria e de Taguatinga.
Segundo a professora Gina Vieira, de 45 anos, criadora do programa, o investimento é importante, embora modesto. ;Muitas escolas contam com um orçamento limitado, e projetos como esse não são tratados como prioridade;, conta.
Para Rollemberg, a ação tem potencial para produzir mudanças. ;É muito interessante como o papel de um educador é transformador na vida das pessoas e na sociedade;, observou ele, na cerimônia. ;Em pleno século XXI, ainda sofremos muito com a violência de gênero e com a subestimação do papel da mulher.;
Também presente à solenidade, a colaboradora do governo Márcia Rollemberg chamou os homens a participar dessa mudança. ;Eles têm papel importantíssimo nisso. Principalmente aqueles que estão verdadeiramente ao nosso lado;, disse.
Em evento do programa , a oportunidade de ampliação do Mulheres Inspiradoras se tornou possível. A Assessoria Internacional do governo atua para que projetos dessa dimensão tenham visibilidade.
O diretor do CAF no Brasil, Victor Rico, avaliou que a tecnologia social deste projeto é sofisticada e pode servir para muitas outras redes de ensino no futuro. ;Promover a valorização do protagonismo feminino junto a estudantes é uma forma de trabalhar, desde cedo, a igualdade de direitos e o convívio sadio entre meninos e meninas;, enfatizou.
Testemunha do documento, o secretário de Educação, Júlio Gregório, também destacou o valor do projeto. ;Pequenas coisas que professores como a Gina fazem propiciam aos alunos discutir a questão de gênero e dar a todos a possibilidade de trabalhar e de sermos iguais.;
O edital para seleção dos participantes deve ser lançado ainda no primeiro semestre de 2017. Serão escolhidos dois professores por escola, após avaliação curricular. A banca avaliadora será composta por integrantes das instituições que assinaram o tratado e do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, da Secretaria de Educação.
Professora da rede pública de ensino há mais de 26 anos, Gina se sentiu desmotivada ao perceber a dificuldade de interação entre docentes e alunos. Pensando em desistir da profissão, percebeu que o modelo educacional aplicado a jovens deveria ser atualizado para despertar o interesse do público.
;Estamos lidando com a geração de nativos digitais ; pessoas que já nasceram no mundo tecnológico. Então é preciso utilizar a tecnologia para dialogar, pois conflitos iniciados na internet podem atrapalhar o desenvolvimento educacional;, relata. Segundo ela, um exemplo recorrente é o desrespeito e a sexualização da mulher.
Decidida a mudar esse cenário, em 2014 a professora optou por trabalhar na parte de diversidade de projetos do Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia. Foi apoiada por Vitória Régia, coordenadora pedagógica da instituição. ;Recebi o incentivo que precisava para desenvolver temas que mudariam a forma de pensar daqueles jovens e melhoraria a qualidade do ensino;.
Gina conseguiu estreitar o diálogo com os alunos e alinhá-lo a práticas pedagógicas com a criação de uma rede social. Depois, passou a incentivar a leitura de obras escritas por mulheres que foram líderes, tinham histórias de superação ou efetuaram grandes feitos, como Anne Frank, Cora Coralina e Malala Yousafzai. Nascia o projeto Mulheres Inspiradoras.
Após ampliar os conhecimentos dos alunos, a mestra os incumbiu de entrevistar e produzir matéria com uma mulher de seu vínculo social, que julgasse uma inspiração. ;A maioria dos alunos escolheu as mães, avós e bisavós como personagem. Eles descobriram histórias e começaram a valorizar o papel da mulher. Pois ouviram relatos de dificuldades, abusos, violência e discriminação;.
Os 95 textos, escritos em 2014 e 2015, resultaram na criação de um livro, com título homônimo. A obra foi organizada pelas duas professoras e lançada em 2016, no Dia da Mulher (8 de março). O modelo também serviu de inspiração para outras instituições. Palestras foram feitas em escolas públicas, ministérios, defensorias e universidades.
No evento, o livro foi entregue para as autoridades presentes por seis alunos do Centro de Ensino Médio 9, de Ceilândia.
O projeto recebeu várias premiações, entre as quais o 4; Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos da Presidência da República (2014); o 8; Prêmio Professoras do Brasil, do Ministério da Educação (2014); e o Primeiro Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos da OEI (2015). As honrarias renderam mais de R$ 100 mil, investidos na escola de origem.
Agência Brasília