A estudante do 3; ano do Centro Educacional (CED) 3 de Brazlândia Ana Karolina Amorim, 18 anos, é a única representante do Distrito Federal na categoria Artigo de opinião na etapa atual da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Chegaram à semifinal, 125 alunos - incluindo oito participantes da capital federal -, mas, após mais seletivas, agora, Ana é a única brasiliense entre os 38 estudantes ainda na disputa. Mais de 50 mil pessoas se inscreveram. A final vai ocorrer em 12 e 13 de dezembro em Brasília. O tema escolhido para este ano foi ;O lugar onde vivo;, que incentiva os alunos a estreitarem laços com a comunidade e aprofundarem o conhecimento sobre a realidade, contribuindo para o desenvolvimento da cidadania.
;O objeto do meu texto foi a cultura de estupro, pois moro desde que nasci em Brazlândia, que é a segunda cidade no DF com maior violência contra a mulher. Eu e minha professora vínhamos trabalhando a cultura do machismo em sala de aula, além de discutir a representação da mulher como ;bela, recatada e do lar; pelos meios de comunicação. O título (Também, olha a roupa dela) é um dito popular que evidencia o machismo que nem se preocupa em ser velado. No entanto, não esperava que fosse ser selecionada;, diz.
;Estou confiante e tenho chances na final, pois acredito que meu texto tem um tema bom para ser trabalhado e discutido. Mas a verdadeira medalha de ouro é ter o artigo publicado no site da Olimpíada de Língua Portuguesa. Isso poderá servir como exemplo tanto para a produção textual quanto para inspirar temas que devem ser debatidos não só na minha comunidade, mas no Brasil. Fico muito feliz em ser a pessoa a falar sobre isso e estar mexendo na ferida, que é o machismo nesta sociedade patriarcal;, ressalta.
A professora orientadora, Mayssara Reany, se orgulha dos resultados. ;A Ana lê muito e gosta de se expressar. Ela tem bastante afinidade com filosofia e escreveu um romance filosófico que foi publicado. É uma aluna destaque em todas as disciplinas, muito engajada e aplicada;, elogia.
Confira um trecho da redação de Ana:
"Não existe apenas a cultura do estupro no Brasil. Existe, sobretudo, a cultura do machismo, e o estupro, no que lhe concerne, é uma consequência disso. O que é cultural é o fato da mulher, na maioria dos casos, levar a culpa por ter sido violentada. Frases como "também, olha a roupa dela" ou "mexia com coisa errada, ela mereceu", elucidam a tendência da sociedade de idealizar a mulher, seja para transformá-la numa dama "bela, recatada e do lar", imagem veiculada pela revista Veja, seja para sexualizá-la com músicas como "Dei todo amor, tratei como flor, mas no fim era uma trepadeira.", do cantor Emicida. A postura da mulher como justificativa para a violência é expressão de uma cultura machista que deve ser combatida, por meio do resgate da luta pela igualdade de gênero".
Professora exemplar
Os professores dos 125 alunos semifinalistas produziram um relato sobre a prática de ensino e orientação em sala de aula. Com isso, a comissão julgadora selecionou os sete melhores, sendo que o relato de Mayssara ficou em primeiro lugar na Região Centro-Oeste. No texto, ela fala sobre a profissão e a paixão que tem em lecionar. Segue um trecho:
;Meu pequeno mundo escolar é o Centro Educacional 03 de Brazlândia, não somos os melhores em "rankings", mas isso não faz a menor diferença, já que a importância da educação não são os exames avaliativos , vai além disso, nosso objetivo é formar cidadãos. (...) Em conversa com os estudantes, eu tentava mostrar que nossa fala e escrita revelam detalhes importantes sobre quem somos, além disso, escrever é compartilhar um pouco do que se é. (...) Os estudantes não acreditavam que poderíamos ser selecionados para a próxima etapa. Essa conquista constrói um degrau a mais para a autoestima deles, para a visibilidade de nossa escola e, sem dúvidas, renova minhas forças como um oásis em um deserto de descrédito.;
Na 5; edição, a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas de todo o país, do 5; ano do Ensino Fundamental ao 3; ano do Ensino Médio. É uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Mais informações no site.