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Pesquisa motivada pela solidariedade ajuda a melhorar a qualidade da água

Todos os anos, os sertanejos esperam as chuvas, na esperança de que elas encham os açudes, molhem a terra que vai receber as sementes e façam transbordar as cisternas para o abastecimento das famílias e garantia do uso da água ao longo do ano. A realidade de milhões de brasileiros que vivem em regiões secas do país nem sempre é conhecida por todos, mas a preocupação com a escassez de chuva e falta d;água é de todos.

Prova disso é o interesse de um grupo de estudantes de Campinas (SP), que desenvolve projeto para ajudar a melhorar a qualidade da água armazenada em cisternas na região do Semiárido nordestino, que abrange mais de 20% dos municípios brasileiros. Lá vivem mais de 22,5 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

;Ao desenvolver o projeto, percebemos a importância de ajudar porque aqui no Sudeste a água é uma coisa básica, mas lá [no Semiárido] é como se fosse uma coisa de luxo;, diz a estudante Beatriz Ruscetto, 18 anos. Ela estuda na Escola Técnica Estadual Bento Quirino. ;Foi muito marcante para os alunos envolvidos no projeto porque vimos, em documentários, vídeos e fotos, o quanto é triste aquela realidade, e entendemos o que é não ter água para o que você precisa, ou fazer comida com água barrenta ou suja, e crianças morrendo com diarreia.;

O projeto, de tratamento microbiológico da água, parte do princípio básico de que um equipamento simples pode ser acoplado a uma cisterna e produzir o cloro necessário para desinfecção e filtragem. No andamento dos trabalhos, Beatriz tem a companhia dos colegas Matheus Henrique Cezar da Silva e Gabriel Trindade, sob a orientação de professores da escola Bento Quirino e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Os estudantes também são bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Desafio

Aluna do ensino médio integrado com o curso de técnico em eletrônica, Beatriz e os colegas depararam-se com o desafio de aprender também sobre química para dar continuidade à pesquisa. ;Pesquisamos mais sobre como solucionar o problema, soubemos que o cloro é um agente desinfetante muito poderoso, e procuramos saber como fabricar esse cloro com baixo custo;, afirma a estudante. ;Resolvemos então adotar o método de eletrólise, reação química que ocorre pelo fornecimento de energia elétrica, que quebra a molécula de cloreto de sódio (sal), separando o sódio do cloro. E esse gás cloro que sairia da eletrólise estaria borbulhando dentro da cisterna.;

Para garantir a viabilidade do processo, os estudantes empenharam-se na busca de materiais alternativos, práticos e baratos para que os próprios moradores possam produzir os equipamentos. ;Optamos por usar peças de materiais de construções, tipo canos e conexões de PVC;, destaca Beatriz. ;Tudo foi feito para facilitar, para que o morador, lá no Semiárido, não tenha de depender de nada que exija peças especiais, que seja tudo possível de comprar em lojas comuns.;

Prêmio

O projeto, que será apresentado na conclusão de curso dos estudantes, conquistou prêmio ; na edição deste ano do 5; Benchmarking

Junior; Inovações & Sustentabilidade, concurso anual, promovido por uma ONG, que contempla iniciativas inovadoras de jovens para a promoção da sustentabilidade. Para Beatriz, essa conquista tem motivações ainda maiores. ;Ver que podemos ajudar é muito especial, e quando ganhamos o prêmio tivemos a confirmação de que estávamos no caminho certo;, diz. ;E isso deu mais incentivo para continuarmos.;

Beatriz pretende seguir na área de pesquisa e concretizar a ideia contida no projeto desenvolvido no Semiárido. Ela espera que a proposta seja disseminada, de forma que permita a qualquer pessoa adquirir, montar e fazer a manutenção do equipamento, que, ela acredita, pode mudar a vida de milhares de pessoas.