O que você imagina quando pensa numa princesa? Coroa, cabelos lisos, pele jovem, vestido bufante, comportamento de donzela? Nada disso precisa fazer parte do inventário de uma heroína da vida real ; que se ocupa de missões muito mais importantes que a de se preparar para um príncipe. E é isso que o público pode conferir em desenhos do cartunista britânico David Trumble, 30 anos.
; A ficção é a lente por meio da qual as crianças, em primeiro lugar percebem modelos, por isso temos a responsabilidade de proporcionar-lhes uma seleção diversificada e eclética de arquétipos femininos.
Ele revolucionou o conceito, satirizou as princesas tradicionais e resolveu inspirar crianças de todo o mundo ao fazer desenhos de mulheres reais, das quais vale a pena se lembrar ; entre elas a judia Anne Frank, a cientista polonesa Marie Curie, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai. Os desenhos, publicados originalmente no site Huffpost, geraram uma repercussão mista. O artista recebeu muitas críticas, mas também vários elogios e esclarece sua intenção:
; Eu não estou nem dizendo que as meninas não devem ter princesas em suas vidas: o arquétipo em si não é inerentemente errado, mas deve haver mais opções para escolher. Então, esse foi o meu objetivo: demonstrar o quão ridículo é pintar um gênero inteiro de heróis a partir de uma pincelada superficial.
Banho fru-fru
Meninas de qualquer lugar do mundo conhecem as princesas da Disney em algum momento da infância. As protagonistas do mais famoso estúdio de animação do mundo são amplamente divulgadas como modelos de comportamento e beleza femininos. Por reconhecer a influência que os desenhos têm sobre a formação das crianças, a Disney mudou algumas características de suas personagens princesas desde Branca de Neve e Cinderela (as primeiras a serem criadas, respectivamente, em 1938 e em 1950). Heroínas como Mulan (1998) e Elza, de Frozen ; uma aventura congelante (2013), responsáveis por mudar o próprio destino sem a ajuda de um príncipe encantado, são cada vez mais recorrentes.
Um símbolo dessa geração é Merida, do longa Valente (2012), a princesinha que rejeita todos os pretendentes e prova que é capaz de amadurecer e cuidar de si. Mesmo assim, a moça conseguiu gerar polêmica quando foram colocados à venda produtos oficiais baseados nela, como mochilas e lancheiras. Acontece que Merida recebeu o mesmo tratamento cheio de purpurina e ;feminilidade; que as outras personagens: a princesa irlandesa teve o rosto e a cintura afinados, trazia um sorriso artificial, e as bonecas dela não tinham arco e flecha ; elemento essencial no filme, por meio do qual ela desafiou padrões impostos e ganhou dos pretendentes que a cortejavam a liberdade de se casar com ninguém, ou somente com quem ela quisesse.
Apesar de o estilo fru-fru não combinar com a personalidade de Merida, foi esse tipo de representação confusa que o cartunista britânico David Trumble observou no mercado ; algo que ele chama de ;princesificação;. A partir disso, resolveu mostrar como essa tentativa de padronizar personagens femininas é desnecessária e negativa.
; A minha experiência com modelos femininos, tanto na cultura quanto na vida, mostrou que não há nenhum molde para dizer o que faz de alguém uma referência. Com a Merida, a Disney estava dando um passo na direção certa, fornecendo às meninas um tipo alternativo de princesa. No entanto, logo em seguida, deu dois passos para trás, ao pintá-la com a mesma tinta brilhante que o resto das protagonistas. Por isso, eu decidi fazer desenhos de 10 modelos femininos da vida real e filtrá-los a partir da linha de montagem das princesas, explica o artista.