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Da sala de aula para a cozinha, com receita inédita e premiada

Quando soube do concurso Melhores Receitas da Alimentação Escolar, a merendeira Silvana Aparecida Gentil Ribeiro, 43 anos, logo se animou. ;Já sei o que vou fazer: lasanha de banana-da-terra;, ela disse às colegas de cozinha. ;Que receita é essa?;, questionaram. ;Não sei, inventei agora;, conta, caindo no riso. O prato, até então surgido apenas na cabeça da cozinheira, deu tão certo que virou um dos 15 finalistas da competição nacional.

Com mais de duas mil inscrições recebidas de todas as partes do país, a premiação é promovida pelo Ministério da Educação e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Com o objetivo de estimular uma alimentação de qualidade nas escolas brasileiras, o concurso pretende, ainda, reconhecer o trabalho dos profissionais da merenda.

Há menos de um ano na cozinha da Escola Estadual Zélia da Costa Almeida, em Cuiabá, capital de Mato Grosso, Silvana conta que a relação com a unidade de ensino vem de algum tempo, mas nunca foi tão forte. A filha dela, que já foi aluna, hoje compõe o corpo docente. A própria Silvana trabalhou na escola, como assistente de um projeto de reforço na alfabetização das crianças, e já tinha ministrado curso voluntário de culinária.

[SAIBAMAIS]A descoberta como merendeira só veio na metade de 2015. Apesar do receio inicial, o trabalho a surpreendeu. ;Eu achava que gostava da sala de aula, mas descobri que gosto é da cozinha, mesmo;, diz, orgulhosa, a cozinheira, que sonha com o curso superior de gastronomia. O curso técnico de nutrição dietética, ofertado pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado em 2011 pelo governo federal, ela já tem.

A receita finalista não leva massa. O diferencial é a banana, produto abundante na região. ;Na escola, a gente não usa embutidos, mas tem o queijo e a fruta, que viraram a base da lasanha;, diz Silvana, sobre a ideia do prato, no qual ela deveria usar os ingredientes do cardápio escolar.

Além de apresentar a iguaria a alunos e professores, que aprovaram a criatividade, Silvana juntou a experiência de sala de aula com a da cozinha. ;Elaborei um projeto ensinando os alunos do segundo e do terceiro anos, por saberem manejar uma faca, a fazer a receita;, conta.

Reciclagem ; A alimentação dos alunos é acompanhada por uma nutricionista da Secretaria de Educação estadual. Além de passar o cardápio, ela promove as chamadas reciclagens dos profissionais da cozinha, todos os anos. ;Participei de uma, agora, sobre carne suína, que ainda é um mito na cozinha;, comenta Silvana. Ela sabe que alguns alunos, às vezes, só têm a refeição servida na escola. Assim, considera a merenda fundamental. ;Muitos alunos saem direto da escola para o trabalho, o primeiro emprego; então, ali, já é uma alimentação reforçada;, diz. ;Eu mesma, quando era pequena, amava ir para a escola, para comer.;

A cozinheira admite que, naquele tempo, as condições de vida não eram muito boas. ;Sabendo disso, aí mesmo é que você tem o maior prazer em servir;, diz. É por isso que, para Silvana, além do cuidado na higiene e no manuseio dos alimentos, a busca por cursos é um incentivo a cozinhar sempre melhor.

Ansiosa para conhecer Brasília e viajar de avião pela primeira vez, a merendeira diz que não vê a hora de adquirir o conhecimento que terá na última etapa do concurso. ;Isso já é um prêmio que eu estou ganhando.;

A receita da de Silvana pode ser conferida na página do prêmio na internet.