Da comunidade e para a comunidade. Assim é a Escola Estadual de Educação Básica Neusa Mari Pacheco, na Serra Gaúcha, com 1.150 alunos matriculados em turmas do ensino fundamental e do ensino médio politécnico. Os projetos oferecidos incluem áreas como agricultura, artes, cultura, ecologia, desporto e turismo, além de reforço de conteúdos. Eles foram escolhidos em função das expectativas da comunidade de Canelinha, no município de Canela, a 123 quilômetros de Porto Alegre.
;A escola trabalha com os anseios dos alunos e da comunidade, de um crescimento na educação;, diz a professora Rosângela Marisa da Silva, que atua na área do projeto cultural. ;Ela busca garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornam o currículo mais dinâmico, atendendo às expectativas dos alunos e às demandas da sociedade local;, destaca.
Segundo Rosângela, que está no magistério há dez anos, há uma diferença dos estudantes do período integral em relação à cultura e ao rendimento escolar. ;Uma criança que passa a tarde sozinha em casa dificilmente usará o tempo ocioso para estudar;, diz. Os estudantes que permanecem na escola têm horários para fazer as tarefas escolares, recebem acompanhamento pedagógico, de professores especializados, e dispõem de infraestrutura e recursos como quadra de esportes e sala de informática. ;Eles têm vivências muito mais ricas;, avalia.
Com licenciatura em pedagogia e pós-graduação em psicopedagogia e em orientação educacional, Rosângela desenvolve atividades diversificadas em turmas do ensino fundamental. ;Todos os alunos participam de maneira exemplar. Eles aprendem e se divertem;, garante.
Confiança ; Na visão do professor de natação Jonas Luís Stange, que atua na área do projeto de esportes, lazer e recreação, os alunos apresentam melhor repertório motor, pois a escola oferece atividades variadas. ;As aulas de natação, dança, recreação e educação física auxiliam no desenvolvimento integral dos alunos, para que enfrentem os desafios com autoestima elevada, confiança e disciplina;, diz.
No magistério há 16 anos, Jonas tem graduação em educação física e pós-graduação em treinamento desportivo. A natação é considerada disciplina obrigatória. Ele dá aulas em turmas dos três anos do ensino médio.
Valores ; ;Os alunos são mais engajados e participativos;, afirma a professora Mercí Kurschner, do projeto turístico. ;Atribuo isso a todo o histórico de participação comunitária, que vai desde a conquista de espaços como a piscina, o centro agrícola e o centro ecológico à manutenção desses espaços em perfeitas condições de funcionamento.;
De acordo com a professora, os estudantes apresentam autonomia na realização das atividades propostas e uma peculiar visão de mundo. ;A escola mescla os valores de uma comunidade que emergiu de uma situação de extrema pobreza, mas procura se adequar aos novos tempos e à nova realidade;, diz. ;A escola passou a ser procurada até por alunos oriundos de segmentos sociais com uma situação mais privilegiada.;
Professora de turismo no ensino fundamental, Mercí lembra a importância dessa disciplina na região ; o turismo é uma das principais atividades econômicas da Serra Gaúcha. ;Procuro sempre estabelecer conexões interdisciplinares, principalmente com história e geografia, que também leciono para as mesmas turmas.; Com graduação em história, ela exerce o magistério há oito anos e faz curso de direito.
Comunidade ; A escola oferece aulas em turno integral há 21 anos, quando foi transformada em centro integrado de educação pública (Ciep). ;Nesse período, os principais benefícios foram a diminuição da evasão e da repetência, a manutenção dos alunos nove horas por dia na escola (o que possibilita aos familiares trabalhar com tranquilidade), a melhora da autoestima dos alunos e o engajamento da comunidade com a proposta;, explica o professor Márcio Gallas Boelter, diretor da instituição. Para ele, a participação da família é fundamental. ;A família precisa acreditar na escola, estar presente nas reuniões e atividades esportivas, sociais e culturais.;
O diretor acentua, ainda, a necessidade da colaboração. ;Em 2014, 44% de todos os recursos investidos na manutenção da instituição foram provenientes da comunidade, apesar de a mesma ser pobre e trabalhadora.;
Há 17 anos no magistério, Boelter atua na direção há mais de dois anos. Graduado em letras, com pós-graduação em gestão escolar e mestrado em filosofia, já lecionou no ensino fundamental e médio e na educação superior.