O 13 de maio foi de celebração na Escola Classe 2 do Paranoá. Além de comemorarem a data que marca o fim da escravidão no Brasil, os estudantes saíram renovados e aprenderam que a beleza de cada um é diferente e merece ser apreciada e respeitada. Um grupo de voluntários conversou com as crianças de 6 a 14 anos que cursam o ensino fundamental e mostrou como cuidar e valorizar os cabelos cacheados e crespos, muitas vezes alvos de preconceito por não seguirem padrões de beleza predefinidos.
A coordenadora pedagógica da escola, Jaqueline dos Santos Melo, percebeu que as meninas iam diversas vezes ao banheiro para molhar os cabelos e evitar que ficassem volumosos demais. Daí surgiu a ideia de promover uma ação que conscientizasse as crianças sobre a beleza de cada uma ; das que têm cabelo liso aos muito cacheados. Ela se inspirou no modelo de trabalho do grupo Meninas Black Power, do Rio de Janeiro, e propôs a atividade como parte da Semana de Educação para a Vida, da Secretaria de Educação do Distrito Federal (leia Para saber mais).
;Como eu já tinha passado pelo processo de transição capilar, do cabelo com química para o meu cabelo natural, achei interessante contar para elas a minha experiência;, explica Jaqueline. Durante a atividade, foi apresentado um vídeo em que um jovem declama uma poesia ressaltando a beleza do cabelo cacheado e algumas crianças chegaram a se emocionar. ;A gente percebeu isso, principalmente, nos olhos das meninas que estão com tratamento químico no cabelo e não sabem como lidar com a situação;, relata.
Também foram convidadas a participar, por meio de um grupo em uma rede social, mulheres negras que pudessem dar um relato pessoal do preconceito que sofreram na época em que eram estudantes por causa dos cabelos, além de darem dicas sobre como cuidar das mechas, hidratá-las e até mesmo prendê-las com turbantes. Uma das participantes foi a psicóloga Alanna Forrest, 35 anos, que já trabalha com valorização da mulher e do negro na Secretaria de Saúde do DF e viu na ação uma oportunidade de empoderar as crianças e prepará-las para o futuro. ;A mulher negra e pobre sofre muita discriminação na sociedade em que a gente vive;, afirma.
A jovem Katrine Wurlitzer, 18 anos, estudante de direito do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), relatou um pouco das situações de preconceito que viveu e deu sugestões para enfrentá-las. ;O que mais me chamou a atenção é que com pouca coisa você já muda a visão da crianças. Nós só contamos nossas experiências e falamos para elas se respeitarem umas às outras e se amarem;, conta. ;Achei muito interessante, porque, para mim, educação também é isso: ensinar esse posicionamento na sociedade.;
Para Sinara Kelly Sousa Veloso, 10 anos, estudante do 5; ano do ensino fundamental, a experiência foi decisiva. Graças à conversa, ela decidiu deixar o preconceito de lado e, hoje, vai para a escola com os cabelos soltos. ;Foi muito legal. Antes, eu achava meu cabelo feio. As pessoas falavam que dava para lavar louça com ele. Agora, eu aceito meu cabelo do jeito que ele é e sei que cada pessoa tem um cabelo diferente;, conta.
Para saber mais
Semana de reflexão
A Semana de Educação para a Vida começou na segunda-feira e vai até amanhã em todas as escolas da rede pública do Distrito Federal, do ensino infantil à educação de jovens e adultos (EJA). Segundo o subsecretário de Educação Básica, Gilmar de Souza Ribeiro, o objetivo é dedicar um tempo para as grandes questões relativas às vidas das pessoas. ;A escola tem uma função social que vai além da escolarização, incluindo questões que envolvem a nossa existência, como a diversidade, os direitos humanos e a sustentabilidade;, afirma. Na próxima semana também serão promovidas atividades em articulação com a Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres da Presidência da República, em comemoração ao Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, em 18 de maio. A abertura do evento será no Parque da Cidade.