A interdição foi em 6 de maio de 2014. Um laudo da Defesa Civil apontou problemas na estrutura ; a marquise estava desabando, não tinha água potável e a rede elétrica também não funcionava. Na época, a gestão do lugar estava com a Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Em agosto do ano passado, foi feito um contrato de ;execução emergencial; para as obras. Entretanto, durante o processo, houve trocas institucionais de comando e a biblioteca acabou nas mãos da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), do Ministério da Cultura (MinC).
O embróglio atrasou as obras, que estão paradas, e o prazo expirou em janeiro deste ano. Foram gastos R$ 483.228,66. Em nota, o MinC afirmou que contratará serviços especializados em vistoria para checar o que foi realizado no prédio. Se for preciso, fará nova licitação para dar continuidade aos reparos. ;Todos os esforços estão sendo realizados para a recuperação do espaço, o restabelecimento dos serviços e a devolução desse patrimônio cultural aos brasilienses;, diz trecho da nota.
A biblioteca completará 45 anos em 20 de novembro deste ano. Faz parte dos 55 anos de Brasília e da vida de muitos moradores da capital. O arquiteto aposentado Tancredo Maia Filho, 68 anos, viveu praticamente a vida toda na 706 Sul. E por quase quatro décadas fez visitas frequentes à Biblioteca Demonstrativa. Levava o filho, à época com 10 anos, e hoje lamenta não poder fazer o mesmo com a neta Letícia Maia, 6. Antes de interditarem o local, a menina era uma das presenças diárias na Gibiteca da BDB. ;Foi um baque. Chegamos aqui e estava fechada. Tudo bem que precisa de reparos, mas o descaso deixou chegar a esse ponto de ter de fechá-la por falta de manutenção. Lamentamos muito;, afirmou. Letícia nem se lembra mais do último livro que pegou. ;Gostava muito;, resume a menina, que também participou do protesto de ontem.
Célia Rabelo, 50, é musicista e trabalhou boa parte da carreira dentro da BDB. Ela lembra dos projetos musicais realizados durante a semana, logo nas primeiras horas da manhã. ;Às 7h30, já estávamos com os instrumentos afinados;, recorda-se. Inclusive, essa era mais uma das vantagens da biblioteca. Era a única de Brasília que funcionava de 7h30 às 23h. ;Tínhamos a Bibliomúsica, o Trilha Sonora, a Terça Literária, mas não existe mais nada. A gente não perdeu o emprego, trabalhamos em outros lugares, mas a perda é muito maior. Sentimos, principalmente, pela comunidade, que tinha uma participação muito forte;, declarou Célia.
Perdas
Para o casal Elício Pontes, 74, e Olívia Maria Maia, 61, a literatura é, de fato, um caso de amor. Foi por meio dela que se conheceram. A escritora era frequentadora assídua da BDB. Já o professor da Universidade de Brasília (UnB) e poeta travava, nas salas de aula, a batalha de incentivo à leitura. ;Achamos que biblioteca fechada é um abuso;, explicou Olívia. ;Sei o valor da leitura na formação das pessoas;, emendou Elício.
Segundo o presidente da Sociedade dos Amigos da Biblioteca Demonstrativa de Brasília, Mauro Mandelli, a interdição foi por justa causa, mas as obras precisam ser concluídas para que os serviços sejam restabelecidos. ;Temos aqui mais do que uma biblioteca, um instrumento de empréstimo de livros. Temos serviços voluntários de tira-dúvidas para estudantes, há programa de atualização da mulher, projetos musicais, um monte de coisa que está parada. Mas acreditamos que teremos uma resposta;, afirma, otimista. Ainda segundo Mandelli, a biblioteca guarda aproximadamente 60 mil títulos e mais de 130 mil volumes de livros.