No dia seguinte à brutal repressão policial a professores e servidores públicos que protestavam em Curitiba, onde 200 pessoas ficaram feridas em confronto com PMs, docentes de redes estaduais e municipais cruzaram os braços e promoveram atos em vários estados brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Roraima, para reivindicar melhores condições de trabalho. Em Maceió, a categoria planeja uma mobilização na segunda-feira. Ao todo, profissionais de 10 estados e oito redes municipais já cruzaram os braços desde o início do ano, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
Em Curitiba, manifestantes voltaram a se reunir ontem, em ato de apoio aos professores agredidos na quarta-feira. De acordo com o APP-Sindicato, que representa os docentes paranaenses, cerca de 3 mil pessoas foram às ruas na quinta. Com as mãos, jovens pintaram manchas vermelhas no mastro das bandeiras em frente à Assembleia Legislativa. A categoria decidiu manter a greve e realizará novos protestos hoje e no próximo dia 5. ;Esse projeto de lei nós perdemos, mas estamos entrando em plena campanha salarial;, afirma Janislei Albuquerque, secretária de Formação da APP-Sindicato, referindo-se ao projeto de lei estadual que modifica regras previdenciárias do funcionalismo paranaense. Segundo Janislei, a luta da categoria agora será por reajuste salarial.
Devido à violência policial, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), foi alvo de críticas de diversos setores. Entidades civis, sindicatos, internautas, parlamentares e o ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH-PR), Pepe Vargas, repudiaram a atitude de Richa, atribuindo-lhe a responsabilidade pela ação policial que resultou em mais de 200 feridos. Depois de defender a PM logo após o confronto, Richa recuou. ;Se fosse apenas um ferido já seria lamentável. Tenho um grande respeito pelos professores e sou norteado por princípios democratas e de respeito à lei;, disse.
A declaração, entretanto, não foi suficiente para reduzir as críticas. O ministro Pepe Vargas disse que houve ;uso desmedido da força; e ;violência desnecessária;. Segundo ele, a Secretaria de Direitos Humanos aguarda manifestações para apurar possíveis violações de direitos no caso. ;Na nossa opinião, movimento social não deve ser tratado como caso de polícia, e sim como movimento reivindicatório;, comentou Vargas. As agressões aos professores começaram depois que estes tentaram avançar em direção à Assembleia Legislativa, protegida por uma linha policial.
Ministério Público
Richa também foi criticado no Congresso e pode ter de responder pelas agressões sofridas pelos manifestantes. ;Vamos dar entrada, na segunda ou na terça-feira, na Procuradoria-Geral da República, a uma representação contra o governo do Paraná e a pessoa do governador. Houve ali uso abusivo da força. Esperamos que o Ministério Público Federal instaure um inquérito para apurar as responsabilidades;, disse ao Correio o deputado Chico Alencar (PSol-RJ). O MP do Paraná começou a investigar se houve excesso na repressão. Pessoas agredidas na quarta-feira começaram a ser ouvidas ontem. O órgão havia recomendado ao governo do estado que a intervenção policial se limitasse a garantir a segurança dos manifestantes, além da contenção de eventuais infrações penais.
Segundo o diretor de Comunicação da CNTE, Joel Santos, a entidade pedirá a organizações de direitos humanos e até à Organização Internacional do Trabalho (OIT) que repudiem a repressão sofrida pelos professores e o governo paranaense. ;A CNTE entende o que ocorreu ontem (quarta) no Paraná como um atentado gravíssimo à liberdade de expressão dos professores;, disse o dirigente.
[SAIBAMAIS]Em nota, a APP-Sindicato informou que acionará criminalmente o governo paranaense. ;A APP entrará com ações criminais contra o estado e pede, a quem foi ferido na batalha desigual que Richa promoveu, que faça um boletim de ocorrência e encaminhe à APP;, diz o texto.
Nas redes sociais, internautas ironizaram o governador paranaense com vídeos e imagens. Em uma delas, um PM paranaense que teria se ferido durante o confronto é acusado de falsear os supostos machucados com groselha. Em outro vídeo, atribui-se a assessores de Richa comentários jocosos sobre as agressões sofridas pelos professores.
Pesquisa aponta melhora na educação
A escolaridade do brasileiro subiu oito pontos percentuais nos últimos 10 anos, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Data Popular. Em 2003, 28% da população ocupada tinha o ensino médio incompleto ou completo. Em 2013, o percentual subiu para 36%. Já o total de trabalhadores com formação universitária completa aumentou de 12% para 14% em 10 anos, enquanto o de trabalhadores com ensino fundamental incompleto ou completo diminuiu de 50% para 43%.
Marcha em São Paulo
Em greve há mais de 40 dias, professores do estado de São Paulo decidiram, ontem, manter a paralisação. Eles realizaram assembleia no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde se reuniram por volta das 14h. De lá, seguiram em passeata pela Avenida Paulista e a Rua da Consolação até a Secretaria de Educação estadual, na Praça da República, onde chegaram no fim da tarde. De acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp-SP), o ato reuniu cerca de 50 mil pessoas, e 60% da categoria aderiu ao movimento. Já a Polícia Militar estimou o público em 2 mil. Os docentes reivindicam reajuste salarial de 75,33% e melhores condições de trabalho. A próxima assembleia será em 8 de maio, após audiência de conciliação no Tribunal de Justiça de São Paulo, no dia anterior. O sindicato informou que entrou com pedido de dissídio coletivo ;tendo em vista que o governo estadual não apresenta qualquer contraproposta à pauta de reivindicações dos professores;.