Você pode passar 24 horas aqui e nunca ver a polícia. Fico com medo, principalmente depois do caso da Estrutural. Aqui entra gente que nem é estudante ou funcionário; Ronaldo Rocha Siqueira, pai de aluno do CEF Carlos Mota, no Lago Oeste |
Até o fim do ano, pelo menos três medidas serão implantadas pelo Executivo para evitar novos episódios de violência dentro das escolas do DF. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), inclusive, já havia recomendado uma das ações: a mediação. As outras duas tratam da contratação de mais profissionais para a área e da reestruturação curricular de estudantes da rede pública do DF.
Com o episódio da Cidade Estrutural ; em que um homem entrou no Centro de Ensino Fundamental 1 e feriu 11 pessoas ;, o secretário da Segurança Pública e da Paz Social, Arthur Trindade, determinou a elaboração de um estudo sobre violência nas escolas. O trabalho servirá para orientar as ações do Batalhão Escolar. Um mapa com as áreas mais problemáticas do DF será traçado. A promessa do secretário é reforçar o policiamento nessas localidades. ;O mesmo trabalho terá como destino a Secretaria de Educação, com o objetivo de subsidiar estratégias de resolução de conflitos ou até mesmo promover mudanças na distribuição dos vigilantes;, explicou o chefe da segurança pública.
Segundo a promotora de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), Márcia da Rocha, a mediação será um mecanismo para criar segurança entre as pessoas. No formato de grupo de encontro, alunos, professores, servidores e pais seriam, com a institucionalização da medida, capacitados a ouvir o outro de forma a entender as atitudes de todos. Uma espécie de mesa redonda para aprender a respeitar as opiniões diversas. ;É uma medida primária para evitar que as pessoas transformem um simples desentendimento em conflito, na reprodução da violência. E que, juntos, possam começar a trabalhar o entendimento do que o outro está dizendo;, explicou a promotora.
Temos uma atenção com a segurança para que os alunos não sintam receio em estar aqui. O que nos preocupa é a `drogadição; que gera violência. Depois do ocorrido, muitos falaram em deixar de estudar no colégio, pelo impacto do susto; Rodrigo de Franco Filgueira, diretor do CED 6 de Taguatinga |
Ato egoísta
Atualmente, algumas escolas do DF já trabalham com o método, mas o número é baixo. Das 627 escolas públicas do DF, menos de 10 usam a mediação. ;A violência é um ato egoísta. Quem pratica não está pensando no outro. A pessoa pode até se vitimizar, dizer que foi para se defender, mas é incapaz de estabelecer um diálogo. E a mediação é uma das formas de mudar isso. Não é a única, mas já surte grandes resultados", ponderou Márcia.
A Secretaria de Educação também estuda a contratação de profissionais para o posto de inspetor: um profissional que fará o monitoramento dos intervalos, do horário de entrada e saída da escola e das salas de aula e vigiará o comportamento dos estudantes. A licitação, segundo o secretário Júlio Gregório, está encaminhada. ;Ainda não temos definição da quantidade de profissionais, mas será algo que atenda às escolas maiores do DF, onde existem os conflitos de violência;, adiantou. A longo prazo, o plano do governo é alterar a estrutura curricular e criar atividades estimulantes, que mantenham os alunos mais conectados com o estudo e menos dispersos. ;Eles precisam estar ocupados com coisas mais interessantes para não terem tempo de outras coisas;, justificou o secretário.
Carlos Mota
Há seis anos, o diretor Carlos Mota dá nome ao Centro de Ensino Fundamental do Lago Oeste. A homenagem, infelizmente, veio após ele ser assassinado por alunos e ex-estudantes, em casa. O motivo: ele atuava fortemente no combate às drogas na instituição de ensino. Em 20 de junho de 2008, quatro rapazes foram flagrados tentando entrar no colégio com entorpecentes, mas o educador os impediu. Criminosos foram até a chácara onde o professor morava com a mulher e dois dos três filhos, e atiraram contra Carlos. A viúva, Rita Pereira, 45 anos, socorreu o marido até o hospital, mas era tarde. O professor trabalhava em projetos para implementar o ensino de tempo integral na escola, criar uma biblioteca virtual, levar o cinema à instituição e estimular atividades culturais.
Mesmo pais de alunos recém-chegados conhecem a história do professor. O jardineiro Ronaldo Rocha Siqueira, 30 anos, busca o filho Erick Feitosa Siqueira, 7, todos os dias no colégio. A escola fica a cerca de 100m de um posto da Polícia Militar ; que não funciona. Ronaldo tem medo da insegurança. ;Você pode passar 24 horas aqui e nunca ver a polícia. Fico com medo, principalmente depois do caso da Estrutural. Aqui entra gente que nem é estudante ou funcionário. À noite, a venda de droga na porta da instituição ocorre sem ninguém fazer nada. Entrego meu filho na sala de aula e o busco com a professora;, destacou.
Vulnerabilidade no CED 6
Quase um mês depois da morte de Diego Henrique Vicente Silva, 20 anos, assassinado com três tiros no Centro Educacional 6 de Taguatinga (CED 6), as recordações violentas imperam. Na última quinta-feira, a reportagem visitou o colégio. Em um painel logo na entrada da instituição, uma pomba da paz recebe alunos, professores e funcionários. Com ela, a frase: ;Tem tanta coisa errada que não cabe no cartaz;. O desabafo é dos alunos e expõe a realidade do colégio.
O CED 6 atende, entre outros, a adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas em unidades de internação. Desde a morte de Diego, policiais do Batalhão Escolar estão no local, mas a presença não inibe os mal-intencionados. No dia em que o Correio esteve no colégio, um aluno foi flagrado com droga. Em 2013, professores encontraram um revólver dentro de um vaso sanitário masculino.
Aluna do 3; ano, Rosângela Carolina dos Santos, 20, reclamou da insegurança. ;Aqui nunca teve policiamento. Estão aqui esses dias por causa do que aconteceu. Vejo constantemente gente entrando na escola com o que não pode. Eu fico com medo, porque é um risco que a gente corre;, lamentou. A amiga Keylla Alves, 19, também aluna do 3; ano, tem a mesma sensação. ;O colégio era para ser um lugar seguro, mas viemos para cá apreensivos. Tenho receio, inclusive, de ser confundida com alguém e sofrer algum tipo de violência.; O diretor do CED 6, Rodrigo de Franco Filgueira, reconhece que o colégio ainda está em fase de recuperação. ;Temos uma atenção com a segurança para que os alunos não sintam receio em estar aqui. O que nos preocupa é a `drogadição; que gera violência. Depois do ocorrido, muitos falaram em deixar de estudar no colégio, pelo impacto do susto;, revelou.
Depoimento
;A violência na escola é reflexo de uma sociedade violenta. Faltam estrutura nos colégios e valorização do professor. E sobra uma série de situações que faz com que a onda de insegurança no ambiente de ensino seja evidenciada. Faltam policiamento do Batalhão Escolar e vigilância nas escolas. Transformar uma pátria em educadora é difícil;
Rita Pereira, viúva do diretor Carlos Mota