No primeiro dia de greve das merendeiras, ontem, alunos de sete regiões administrativas ficaram sem comida e precisaram ser dispensados antes do horário normal de saída das escolas. O motivo da paralisação, mais uma vez, é o atraso no pagamento de benefícios. Oitocentos servidores da Empresa G & E aguardam o acerto do valor referente às férias, ao tíquete-alimentação e ao vale-transporte de janeiro e fevereiro. E, segundo o Sindiserviços, sindicato que representa a categoria, hoje a situação poderá ser pior. As cerca de 500 empregadas da Empresa Planalto, que contavam com o pagamento de atrasados até ontem para não cruzarem os braços, não tinham recebido até o fechamento desta edição. A previsão é de que se unam à paralisação. O movimento das merendeiras se junta a outros problemas da rede pública do DF, como o atraso no início do ano letivo por conta de reparos nas escolas e a paralisação de professores motivada pelo não pagamento de benefícios.
A aposentada Leonarda Ferreira de Carvalho, 57, precisou reorganizar o dia e buscar o neto de 4 anos mais cedo no colégio, o Centro de Ensino Infantil 1 do Paranoá. Com a falta de merendeiras, as cerca de 600 crianças ; entre o período matutino e o vespertino ; foram liberadas duas horas e meia antes do horário correto. Leonarda conta que, às vezes, o neto sai de casa às pressas e não consegue tomar o café da manhã, sendo a refeição servida na escola o que sustenta a criança. ;Não há dúvida de que ficar sem a comida prejudica o aluno. O ideal era que as coisas funcionassem direito, mas ultimamente não temos o direito de ter nada conforme deveríamos;, criticou a avó.
Segundo Pedro Coelho Rodrigues, que trabalha na unidade, de três a quatro vezes por semana, é servida uma refeição completa para os alunos: arroz, feijão, salada e carne. Ontem, só foi possível dar biscoito e suco de uva. ;Não temos condições de fazer a comida. A direção e os auxiliares ajudaram a servir as bolachas;, contou. A unidade de ensino infantil também tem carência de cinco professores.
O subsecretário de Administração-Geral da Secretaria de Educação do DF, Antônio José Rodrigues Neto, afirmou que não existem dívidas de 2015 em aberto. Segundo ele, as contas no vermelho são do governo anterior e parte do valor devido às empresas foi repassado em janeiro deste ano. ;As empresas receberam quase 50% do dívida, foram R$ 35 milhões para que elas repartissem. Mas como vão pagar os débitos aos funcionários, cabe às próprias empresas;, observou Antônio. O subsecretário disse que o restante dos débitos serão negociados. ;Nós já passamos uma metade (do dinheiro), o governo precisa de um fôlego, para ver como vai acertar o que falta;, explicou. A reportagem não conseguiu contato com o sindicato que representa as empresas terceirizadas.
Condições
Aproximadamente 800 dos 3.072 terceirizados cruzaram os braços. Lázara Aparecida Matheus, 51 anos, é merendeira do colégio Pompilho Marques, em Planaltina. A servidora acumula uma dívida de R$ 2 mil em empréstimos feitos para conseguir arcar com as contas de fim de ano. ;Estou toda endividada. A gente conta com o que ganha, se planeja em cima disso, e tem o hábito de não atrasar nada, pagar tudo em dia, mas agora está tudo bagunçado;, contou.
Assim como Lázara, o cozinheiro Lourivan Carlos da Silva, 45 anos, aguarda o pagamento das férias, que deveria ter recebido em janeiro, e o tíquete-alimentação do mês de fevereiro. Com três filhos e para cuidar, ele não sabe mais o que fazer. ;Tenho família, aluguel para pagar e, apesar de serem benefícios, nós nos organizamos de acordo com o que recebemos. E não dá para continuar trabalhando dessa forma;, lamentou Lourivan, que trabalha na Escola Estela dos Querubins, também em Planaltina.
Segundo a secretária-geral do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário, Prestação e Serviços Terceirizáveis no Distrito Federal (Sindiserviços-DF), Andrea Cristina da Silva, os servidores estão desde novembro enfrentando problemas para receber salários e benefícios. Agora, a maior reivindicação é pelo pagamento das férias. ;Isso tem que parar. Os funcionários vão pagar para prestar um serviço?;, questionou a secretária.
Adiamento
O ano letivo estava previsto para começar em 9 de fevereiro, mas o governo alegou problemas estruturais nas escolas para adiar o retorno às aulas para o dia 23. Ao todo, a Secretaria de Educação separou R$ 3,5 milhões para os reparos. Segundo o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), algumas instituições receberam apenas R$ 1 mil, vindos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira do DF (Pdaf). O governo garante que ;as intervenções prosseguem até que as empresas contratadas para a ação finalizem os serviços;.
Negociações
A reposição das aulas perdidas durante a paralisação dos professores, na semana passada, será discutida entre governo e o sindicato que representa a categoria. Os docentes encerraram o movimento na última sexta-feira, após assembleia na Praça do Buriti. Mas ficou acertado que, em 9 de abril, voltarão a se reunir para avaliar o andamento das negociações com o GDF sobre o pagamento dos atrasados referentes às férias, aos 13; e à rescisão contratual dos temporários.