Professores e outros trabalhadores da educação responsáveis por setores administrativos de escolas públicas do DF resolveram paralisar suas atividades parcial ou totalmente neste início de ano. Visando pressionar o Governo do Distrito Federal (GDF), eles se uniram a outras categorias profissinais com pendências financeiras junto ao poder público local. A iniciativa atinge processos de matrícula, transferências e outras rotinas escolares, o que pode afetar o início das aulas na rede pública, previstas para 23 de fevereiro.
"Muitos funcionários de setores administrativos das escolas estão parados ou realizando apenas serviços burocráticos internos, sem atender à comunidade", disse Denivaldo Nascimento, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Escolas Públicas do Distrito Federal (SAE-DF). A situação afeta diretamente a inclusão dos alunos nos quadros dos centros de ensino. "Os secretários, que realizam as matrículas, não pretendem voltar ao trabalho até a quitação das dívidas e melhoria nas condições de trabalho", explica, citando problemas no sistema virtual da Secretaria de Educação e na infraestrtura dos colégios.
Desde a última sexta-feira (9) entidades de classe dos professores e integram um movimento organizado pela seção local da Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF) que protesta contra a falta de remuneração acampando na praça do Buriti. Diversos valores estão em atraso no vencimentos dos educadores. "O último salário recebido pelos professores foi relativo a novembro; dezembro, o décimo-terceiro de quem recebe em dezembro e parte das férias estão atrasados", conta Cléber Soares, diretor de comunicação do Sindicado dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF).
"O potencial de postergação do início do semestre é grande, porque esse transtorno ocorre justamente no período de efetivação das matrículas", completa Cléber Soares, ressaltando que além da documentação de alunos e professores, serviços burocráticos e administrativos estão prejudicados, o que compromete o andamento normal das atividades letivas.
Atritos
Outro ponto de divergência entre o GDF e a categoria diz respeito a modificações no calendário escolar. "Desde 2008, o calendário escolar é discutido democraticamente entre o governo, os professores e a comunidade. A proposta para este ano já havia sido debatida com a gestão anterior e em momento algum a equipe de transição sinalizou que faria alterações. Agora, romperam unilateralmente o acordo", expõe o diretor de comunicação. As críticas ao novo cronograma são de que o calendário é extenuante e terá consequências na saúde e no bem-estar de alunos e professores ao longo de 2015.
O clima de receio entre os docentes aumenta quando se trata da possibilidade de o GDF argumentar que a falta de caixa inviabilizará o aumento previsto para a categoria em março e setembro deste ano. "O governo sinaliza apenas o pagamento dos salários no dia próximo dia 14, mas não fala sobre o restante ou sobre o reajuste que temos direito segundo o plano de carreira", diz Cléber Soares. Assinalado com o governo anterior, o acordo escalonou a progressão salarial em três anos e garantiu aumento médio de 7,25% aos educadores.
O secretário-geral do SAE-DF reclama de falta de transparência nas negociações e rejeita a proposta de equalização dos débitos proposta pelo governo. "É uma situação muito grave. O governador não coloca os números claramente na mesa. Falam que não há dinheiro para pagar, mas saíram notícias de que há mais de R$ 1 bilhão em caixa", aponta Denivaldo Nascimento. "Querem pagar só os salários e dezembro e fazer um cronograma para parcelar o resto. Não aceitamos, nossas contas não esperam e os juros de quem tem adiantamento com o BRB continuam sendo cobrados".
Os professores temporários estão em situação ainda mais delicada, pois não receberam o salário de dezembro, décimo-terceiro e a rescisão dos contratos finalizados. O movimento prossegue com uma manifestação sexta-feira (16) no Buriti. Novas propostas do governo serão analisadas em reunião das categorias paradas e, em falta de acordo, os professores pretendem realizar assembleia geral com paralisação já no primeiro dia letivo.