Com as portas fechadas há 10 dias, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília recebe hoje um abraço da comunidade, a partir das 12h. O protesto, organizado por frequentadores e funcionários, é em defesa do tradicional ponto de estudos do Plano Piloto, que foi interditado pela Defesa Civil após a constatação de problemas na estrutura do prédio, na entrequadra 506/507 Sul. Antes de fechar, o espaço recebia em média cerca de 700 pessoas por dia. Responsável pela administração do local, a Fundação Biblioteca Nacional informou que já está recuperando o prédio, mas não deu nenhuma previsão de conclusão das obras.
Na entrada, a marquise da edificação, inaugurada em 1970, está comprometida e pode desabar. De acordo com a Defesa Civil, as instalações elétricas estavam sobrecarregadas, com risco de curto-circuito. ;Em muitas tomadas, existiam vários aparelhos ligados. Isso representa um grande risco de incêndio;, explicou o subsecretário do órgão, Sérgio Bezerra. Já a caixa d;água, com corrosão interna, fornece água imprópria para consumo.
Desde a interdição, o acervo de livros, a gibiteca e as áreas de estudos estão inacessíveis aos usuários. De acordo com Mauro Mandele, presidente da Sociedade dos Amigos da Biblioteca Demonstrativa, o fechamento do espaço era uma tragédia anunciada. ;As autoridades nunca tiveram interesse em ajudar e recuperar o local;, comentou. Para ele, a comunidade perde muito com a decisão. ;Além do acesso a livros, a Demonstrativa desenvolvia projetos, como o tira-dúvidas, em que as pessoas se prepararam para o vestibular e para concursos públicos gratuitamente. Havia também os projetos musicais, exposições de artes, lançamento de livros e palestras. Um monte de informações eram disseminadas;, citou Mandele.
Perda cultural
A antiga diretoria da biblioteca havia alertado para os problemas estruturais, que datam de mais de cinco anos. Internamente, alguns espaços já estavam com os acessos fechados para os usuários. O tempo agravou a situação. A sala de informática também não funcionava e o antigo sistema de ar-condicionado estava desativado. O público, que antes era de 1.500 pessoas por dia, passou para 700 diárias. O aposentado Maurício Gomes de Oliveira, 66 anos, frequentava o espaço. Para ele, o fechamento é péssimo para a comunidade. ;Essa é uma perda enorme em termos culturais para Brasília. Chegou num nível trágico;, lamentou Oliveira.
A servidora pública Cristina Jacobson Jacomó, 47 anos, freguenta a demonstrativa há mais de três décadas. Ela torce pela reabertura. ;Quando jovem, estudei para o vestibular lá, fazia uso do acervo. Depois, também utilizei no período de estudo para um concurso público. Mais tarde, fiz uso dela com as minhas filhas, com livros literários do espaço;, contou Cristina. ;É triste vê-la fechada. Acho uma pena fechar sem aos menos uma previsão de reforma;, acrescentou.
Em protesto contra o abandono, cartazes foram pregados na porta do prédio. Entre eles, estão frases como: ;Biblioteca não é lixo; e ;Queremos uma biblioteca padrão Fifa;. Desde o fechamento, a Demostrativa continuou apenas com o serviço de recolhimento de livros, que são entregues pela lateral do edifício.
Por meio da assessoria de imprensa, a Fundação Biblioteca Nacional informou que estão em andamento os processos de recuperação, como obras nas instalações elétricas e de substituição do reservatório de água; elaboração de projeto básico para reformas e de laudo técnico de ar-condicionado para o prédio.
Homenagem
O espaço foi rebatizado em 2012 como Biblioteca Demonstrativa de Brasília Maria da Conceição Moreira Salles, em homenagem à ex-diretora da instituição, que morreu em 2012 aos 65 anos. Ela trabalhou na biblioteca por 28 anos. Entre os projetos que encabeçou, estão o Grupo de Atualização da Mulher, com palestras semanais sobre temas variados e atuais; o Quinta Sonora, de concertos musicais didáticos; o Tira Dúvidas, que colocou professores voluntários à disposição de quem estuda na biblioteca; e o Tele Idoso, que levava obras às pessoas com dificuldade de locomoção.