Jornal Correio Braziliense

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O mundo encantado de Anna Rubi

Menina de 7 anos mostra desde cedo talento para escrever histórias infantis. Criativa e determinada, a moradora da Estrutural recebe da família incentivo para criar personagens engraçados e inusitados

O calango Tango tinha uma mania engraçada: dormia com os olhos abertos e passava o dia de olhos fechados. Isso rendeu a ele várias trapalhadas. Ainda assim, o jovem réptil não conseguiu se livrar do problema, mas, no fim, foi feliz porque soube aceitar a própria condição. A lição, tirada de uma história infantil, surgiu em uma noite de insônia. Anna Rubi Leal Rodrigues Ribeiro, inquieta na cama, criou a história de uma vez só. Depois, adicionou um ou outro detalhe. A artista em questão surpreende: tem apenas 7 anos e mora na Estrutural (leia Perfil). Com ajuda da mãe, as peripécias de Tango ganharam um livro, As aventuras do calango Tango, lançado em 21 de abril na Bienal do Livro de Brasília.

Quando o simpático bicho veio à cabeça da autora-mirim, ela estava deitada ao lado da mãe. E perguntou por que não conseguia fechar os olhos e descansar. Maristela, professora substituta na rede pública de ensino, também não dormia, pois a filha não parava de falar. A menina contava, empolgada, que tinha conhecido um calango no quintal. Em seguida, desenrolou a narrativa. No dia seguinte, Tango virou goleiro e passou a usar as redes sociais. ;Eu perguntei a ela por que ele tinha escolhido aquela posição no futebol. Ela respondeu que foi porque ele quis. Para mim, foi uma lição de vida. Não existem sonhos impossíveis. Temos de batalhar para realizá-los;, avalia a mãe.

Maristela escreveu tudo. A menina deu continuidade ao trabalho e, depois, as duas mandaram o texto para o artista plástico Manoel Ribeiro, pai de Anna, que vive no Rio de Janeiro. Ele fez as ilustrações. Por um ano, a mãe economizou dinheiro. Depois, bancou o sonho da filha. ;Na bienal, vendemos 143 livros. Fiquei muito feliz. Escrever é muito importante para mim. Eu acho que o Tango fala sobre aceitarmos as diferenças. Eu vejo isso na minha escola. Muitos meninos não aceitam os outros porque usam óculos ou até por causa da raça. Isso me incomoda;, contou a autora. A publicação ainda convida os leitores a colorir as páginas e resolver passatempos.

As histórias continuam a fervilhar na cabeça da pequena Anna. A menina tem outros projetos em mente. Entre eles, o do pato Leo e da pata Léia, além da fábula sobre uma menina que nunca tinha visto uma borboleta nascer. ;Essa garota sou eu. Quando comecei a escrever, não tinha medo de borboletas, mas, hoje, eu tenho;, conta.

Um dos motivos que levou Maristela a incentivar a filha a escrever foi o próprio amor às letras. Quando criança, a professora encontrava nelas um refúgio para escapar da realidade. Era a caçula de oito irmãos. Aos 13, criou uma história. ;Em vez de me incentivarem, riram. Eu fiquei sem escrever muito tempo por causa disso. Quando a Anna se interessou, resolvi apoiá-la. Para lançar o livro na bienal, tivemos a ajuda da Banca do Poeta, que abriu as portas gratuitamente para nós. O retorno do meu investimento é a felicidade e a realização da minha filha.;

A família, composta pela mãe e os três filhos, vive em uma casa pequena e divide um quarto. Mas as dificuldades não afetam as prioridades de Maristela. A cultura é regra. O mais velho, Leonardo, 14 anos, ganhou um concurso de redação do Correio aos 6 anos, em 2006. O jovem fala francês e estuda alemão. Pedro, 12, comunica-se também em espanhol. ;Livro, literatura, Feira do Livro, Bienal, sempre exploramos as oportunidades;, ensina Maristela.

Perfil

Apaixonada por leitura

Aluna do 2; ano do ensino fundamental, Anna Rubi Leal Rodrigues Ribeiro, 7 anos, quer continuar a escrever. ;Quero ser uma grande escritora;, diz a menina. A paixão pela escrita começou com o interesse pela leitura e com as histórias infantis contadas pela mãe dela, Maristela. A iniciativa permitiu que a garota tivesse contato com diversos autores. Logo, Anna despertou para a narrativa de fábulas populares. Mas, em vez de reproduzi-las, a pequena as recontava, com personagens e locais diferentes e novas características. A partir de então, a criança passou a inventar as próprias histórias. Há um ano, criou o Calango Tango e deu início a outro projeto, sobre uma fábrica de borboletas.

À venda

Os interessados em comprar o livro Calango Tango devem entrar em contato com a escritora pelo perfil dela em uma rede social, mas gerenciado pela mãe. O endereço é www.facebook.com/annarubi.rubi. Basta mandar uma mensagem no bate-papo da página pedindo o produto e acertar o pagamento e a entrega.