O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que, hoje, a temperatura pode chegar a 29;C. O incômodo do calor para os brasilienses chega a ser insuportável para os 600 alunos do Centro de Ensino Fundamental 4 (CEF 4) de Planaltina-DF, onde a temperatura pode ser de até dois graus Celsius acima da registrada na área externa. O recorde foi atingido em 17 de outubro de 2012, quando o termômetro marcou 39,9;C. O que seria só mais um caso entre tantas outras instituições do ensino público, que enfrentam o mesmo problema, surpreende pelo fato de o colégio dispor de 10 equipamentos de ar condicionado estocados no depósito. Os aparelhos foram doados pela Receita Federal em julho do ano passado.
Desde 2012, o professor de português Davi Moreira mantém um projeto que aferiu a temperatura em ambientes de ensino de dois colégios de Planaltina. ;Naquele ano, apliquei uma prova e notei que meus alunos usavam a própria folha de exame e as mãos para se abanar. Achei estranho. Tirei do meu bolso R$ 400 para a compra de um equipamento profissional. Foi então que verifiquei que a diferença de clima chega a uma média de 2;C a mais nas salas de aula em relação à temperatura ambiente;, afirma.
Os problemas não param por aí. Por conta da estrutura das salas, os ruídos emitidos chegam a 87 decibéis. ;Apesar de a escola ficar ao lado de três feiras, um especialista verificou que o barulho é gerado na própria instituição. O excesso de barulho poderia ser resolvido com medidas simples, como mudanças de portas e janelas. Para se ter uma ideia, 90 decibéis é o ronco de uma mota;, conta Moreira.
A altura dos ruídos e a alta temperatura são preocupantes, segundo Rosana Clímaco, pesquisadora especialista em conforto ambiental do Departamento de Tecnologia em Arquitetura e Urbanismo (TEC) da Universidade de Brasília (UnB). ;Existem normas que estabelecem cuidados para essas situações. Estar exposto a muito barulho ou a um clima muito quente atrapalha o rendimento em sala e, mais do que isso, interfere na saúde, tanto do aluno quanto do professor. Casos assim podem causar irritabilidade, sangramento no nariz, falta de atenção, cansaço e estresse;, adverte.
De acordo com a especialista, uma cobertura metálica, ausência de forro de isolamento, cor externa escura que capta muita radiação solar, falta de ventilação adequada e baixa umidade do ar são fatores que pesam para um clima mais intenso. ;As salas são abafadas. Há telhados de zinco, de amianto e de ferro. O calor passa pelo forro de PVC, e esquenta bastante. As paredes dão muita reverberação, então os ruídos que competem com a fala do professor. O ventilador e as conversas paralelas aumentam o barulho em sala;, diz o professor.
Insatisfação
Os problemas levantados atingem principalmente os estudantes. A dona de casa Terezinha Moura da Luz Vieira, 59 anos, avó Luan de Souza Araújo Souto, 12, aluno do 6; ano do CEF 4, diz que ele se queixa muito do calor. ;Já fui chamada por uma professora para conversar sobre a falta de atenção dele, que começou a estudar este ano na escola. Ele tem dificuldade em leitura, e é agitado até em casa. Acho que se houvesse algo que amenizasse o ar, ele conseguiria se concentrar mais. Se for verdade que a escola tem esses aparelhos de ar condicionado, mas ainda não os instalou, isso mostra o descaso total com a educação no DF;, reclama.
A Secretaria de Educação informa que o termo de guarda e responsabilidade sobre os equipamentos doados pela Receita Federal ao CEF 4 de Planaltina foi assinado pela direção da escola em 14 de outubro do ano passado. Após o recebimento dos aparelhos, foi necessário incluir o material no patrimônio da instituição, processo realizado ainda naquele mesmo mês. A direção informou que a vistoria para verificar as condições elétricas e de segurança para a instalação desses equipamentos foi feita no fim de março. Ainda não há previsão de quando o documento ficará pronto.