O socorro demorou cerca de meia hora para chegar e, segundo a avó do garoto, a auxiliar de serviços gerais Maria de Fátima Quirino, o chamado foi iniciativa dos próprios colegas. ;Pelo que me contaram, quem chamou a ambulância foram os outros estudantes, que estavam na quadra. O Samu não queria vir, porque não era caso de ataque cardíaco. Então, quem levou o Adriano para o hospital foi o Corpo de Bombeiros;, reclama.
O aluno recebeu os primeiros atendimentos no Hospital Regional de Samambaia e, depois, acabou transferido para o Hospital de Base do DF. ;No Base, o médico disse que pode haver rejeição dos dentes reimplantados porque demorou muito para ele ser levado para lá e passar pelo procedimento. Ele só foi chegar no fim da noite de sexta-feira;, queixou-se Maria de Fátima.
A avó, que cuida de mais sete netos e três filhos, não sabe como vai dar continuidade ao tratamento do garoto. ;Os remédios são caros, e ele vai refazer todo o acompanhamento com a dentista agora. Ganho R$ 800 por mês, não sei como vou pagar isso.;
O acidente aconteceu a poucos meses de Adriano retirar o aparelho ortodôntico, usado há dois anos e meio. Por sorte, um amigo guardou os incisivos e o canino esquerdo arrancados pelo peso da pilastra de concreto. Eles foram imersos em água e, posteriormente, reimplantados na boca do garoto, em procedimento feito no Hospital de Base. ;Na hora, eu senti muita dor, principalmente na boca e nas pernas. Achei que fosse morrer;, contou Adriano (leia Depoimento).
No CED 619, há tempos, a direção do colégio solicitava reparos no local. ;A gente manda o pedido para a Secretaria de Educação, mas ela demora demais para responder e fazer algo;, afirma o diretor da escola, Tomaz Edson. ;Eles chegam para fazer pequenos reparos e, há três semanas, vistoriaram as partes elétrica e hidráulica nas salas, mas, na quadra, nunca fizeram nada. Teve uma vez que eu tive que fazer com recursos próprios a troca da tubulação de gás, que estava danificada, deixando vazar o produto.;
Perícia realizada no fim de semana pela Polícia Civil encontrou pequenas rachaduras na tabela, o que pode ter facilitado a infiltração da estrutura. Como o bloco caiu por inteiro sobre o corpo de Adriano, acredita-se que seja um problema antigo. Depois disso, a Secretaria de Educação se comprometeu a reformar a quadra de esportes, segundo a subsecretária de Logística, Reuza Sousa Durço. ;A quadra é antiga, tem mais de 18 anos. Nós vamos reconstruí-la, até porque uma escola em que estudam cerca de mil alunos não pode ficar nesse estado;, garantiu Reuza.
;Eu estava jogando futebol, aí eu segurei lá (na tabela), mas não imaginava que ia cair, não. Aí, a hora em que eu segurei, o negócio caiu em cima das minhas costas. Não desmaiei, mas sentia muita dor na boca e nas pernas. Lembro que demorou uma meia hora para a ambulância chegar. Tinha uma professora e um funcionário da cantina ao meu lado, e eles falavam para eu não me mexer, porque o problema poderia ficar mais grave. No hospital, demorou um pouco, mas eu fui bem atendido. Eu recebi alta por volta da meia-noite de sábado e vim pra casa. A maioria dos meus amigos já veio me visitar, e alguns professores também. Já da Secretaria de Educação, ninguém veio até agora. Eu queria que o governador reagisse e se preocupasse com a manutenção das escolas. Acho que o meu caso foi um aviso para a falta de cuidados que existem em todas as escolas, acredito eu.;
Adriano Medeiros de Almeida, 17 anos, estudante do CED 619
Memória
O ala-pivô do time sub-22 do UniCeub/BRB David Meira, então com 19 anos, foi atingido por uma tabela durante um treino, no Ginásio da Associação dos Empregados da CEB (Asceb) (foto). O acidente aconteceu em 12 de julho, quando o jogador fazia enterradas. A estrutura cedeu e o feriu no pescoço e no ombro esquerdo. Meira sofreu duas paradas cardiorrespiratórias, foi internado no Hospital de Base do DF e morreu 10 dias depois por falência de múltiplos órgãos. A perícia feita pela 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) concluiu que a causa foi um ;aperto inadequado dos parafusos de fixação do mancal direito do cavalete traseiro;. No dia da avaliação policial, faltava um dos parafusos no local. O ex-supervisor do UniCeub/BRB Luiz Henrique da Silva foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar). Ele foi responsabilizado porque a atribuição dele era justamente cuidar da manutenção da tabela.