No Colégio Marista da 609 Sul, 98% dos estudantes do 6; ao 9; ano têm celular. Embora manusear o telefone seja proibido por lei distrital (leia O que diz a lei), alguns o mantêm sempre ao alcance. Pesquisa realizada pela instituição de ensino mostrou que 50% das suspensões da insituição ocorrem por causa do uso indevido do aparelho. Na semana passada, a direção lançou uma campanha, não a fim de coibir, como prega a legislação, mas disciplinar a prática em proveito da comunidade escolar. ;A ideia não é radicalizar, mas, sim, mostrar que, de forma orientada, o celular pode trazer benefícios;, ressaltou o assistente psicopedagógico da escola, Ricardo Timm.
Entre as estratégias aparecem informativos, cartazes, banners, vídeos e e-mails para as famílias. Afinal, os pais e outros parentes são os responsáveis pela maioria das interrupções em sala de aula. Muitos optam por ligar no celular, na hora da aula. ;É preciso desenvolver a consciência coletiva, a consciência cidadã. São 40 alunos por turma, imagina todos falando ao telefone?;, questionou Timm, ao lembrar que, nas salas de cinema, as campanhas funcionaram bem.
Os alunos do 9; ano Daniel Ramos e Thaise Mello, ambos de 14 anos, levam o telefone para a escola, mas não o utilizam em sala. ;Provoca muita dispersão, principalmente quando alguém se esquece de colocar no silencioso. Quando o professor expulsa alguém, todos perdem a atenção e fica difícil voltar a focar na matéria;, reclamou Thaise. Daniel, no entanto, às vezes, usa os chats em benefício dos estudos. ;Existem os prós e os contras. Sou um pouco lento para copiar a matéria. Às vezes, os amigos tiram foto do conteúdo no celular e encaminham no grupo montado por nós. Isso facilita na hora de estudar;, contou.
Segundo professores, nem todos têm a mesma consciência de Daniel. ;Eles não prestam atenção, porque sabem que terão o recurso da foto depois. Se combinado com o docente para uma tabela ou dever de casa, é outra coisa. Além disso, copiar a matéria do quadro é um recurso de aprendizagem;, atestou o assistente psicopedagógico do Maristinha.
Na rede pública, o problema se repete. A coordenadora do ensino fundamental da Secretaria de Educação, Kátia Franca, ressalta que não há como a escola ficar de fora do contexto das tecnologias. ;Todo começo de semestre, os professores firmam um contrato didático com os alunos. Eles delimitam o que é permitido. Não vamos abolir o telefone, mas o que não pode é enviar mensagem, bater papo.; Ontem, no retorno às aulas, as especificações foram reafirmadas entre mestres e aprendizes.
Tablets
Nas instituições privadas, algumas de ensino médio começaram a explorar os tablets no ano passado. O Sigma trocou o material em papel pelo digital e mudou toda a metodologia. Um ano e meio depois, pôde ser realizada uma avaliação prévia. ;Os primeiros dados que temos são muito positivos. Houve melhora no desempenho. Os alunos estão mais participativos e empenhados na resolução de exercícios;, analisou o coordenador de Redação do colégio, Eli Guimarães.
Falhas comuns
; Acessar redes sociais no horário da aula
; Tirar fotos para postar em aplicativos específicos
; Tirar foto da matéria escrita no quadro pelo professor em vez de copiar no caderno
; Manter diálogos em bate-papos
; Acessar jogos
; Atender ligações durante a aula
Palavra de especialista
Formas de abordagem
;A introdução das novas tecnologias na sala de aula é inevitável, pois elas fazem parte do dia a dia da maioria da população. O desafio da escola é saber como proceder. As novas tecnologias demandam novas pedagogias. Isso significa formas diferentes de abordar o conteúdo e de avaliar e de interagir com os alunos. A maior parte das instituições que trabalham com tablets têm transformado livros em PDF, uma utilização limitada da tecnologia, que permite muito mais do que isso. Pode-se trabalhar com a interatividade e na construção coletiva do conhecimento. A dispersão existe, porque professores e alunos estão à deriva, não sabem como utilizar as ferramentas do modo correto. Se os estudantes levam o celular para a sala de aula somente para conversar, estão no lugar errado. Mas se o aparelho serve para interagir e atrair ainda mais a atenção do aluno, pode funcionar bem. Tudo vai depender da capacitação dos professores. É preciso que toda a cadeia de formação seja reinventada, desde a universidade. Acredito que ainda demandará algum tempo para que essa integração ocorra de forma minimamente satisfatória.;
Gilberto Lacerda é professor da Faculdade de Educação da UnB, especialista em tecnologias da educação
O que diz a lei
A Lei Distrital n; 4.131, de 2008, proíbe o uso de celulares e de aparelhos eletrônicos capazes de armazenar e reproduzir arquivos de áudio do tipo MP3, CDs e jogos, pelos alunos de escolas públicas e privadas do DF. Permite o uso desses aparelhos somente nos intervalos e fora da sala de aula. Segundo norma, cabe ao professor encaminhar à direção quem descumprir o exigido.