Jornal Correio Braziliense

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Justiça decide manter pinturas em muro de escola que criticam o governo

Para Ministério Público, limpar os painéis do Caic Unesco de São Sebastião fere o direito à liberdade de expressão

a decisão na íntegra.

Em abril, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) abriu sindicância para avaliar a pintura dos muros do Caic Unesco de São Sebastião.

Segundo a pasta, algumas das 102 obras que compõem a pintura do muro que cerca a unidade apresentam ;cenários controvertidos que desqualificam instituições de forma gratuita e lançam mão de imagens de incontestável mau gosto;. Além disso, a SEDF determinou que a direção da escola retirasse as artes dos painéis cujo conteúdo são críticas a problemas sociais.

Liberdade de expressão
De acordo com a promotora de Justiça Márcia da Rocha, da Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), a decisão de não apagar as pinturas implica respeito aos princípios constitucionais e tratados internacionais voltados à liberdade de expressão e de imprensa.

Para ela, a decisão reforça o direito à manifestação democrática e prepara os alunos da unidade para o exercício legítimo da cidadania, que, na opinião de Márcia, deve ser incentivado pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

A SEDF esclareceu, por meio de nota, que atenderá a decisão da justiça em, por enquanto, não fazer qualquer alteração no muro do Caic Unesco de São Sebastião. Além da ação do Ministério Público, o caso também está sendo analisado juridicamente pela SEDF, que deve aguardar o parecer desse processo para saber como proceder.

Heloísa Moraes, diretora da instituição, respondeu a sindicância por ter autorizado o Instituto Metamorfose, que oferece cursos gratuitos de arte para jovens carentes de São Sebastião, a produzir os painéis que fazem críticas à administração pública do DF e aos políticos do país.

O objetivo inicial era apagar as pichações que tomavam conta do muro, e revitalizá-lo por meio da grafitagem feita por jovens atendidos pelo instituto.

Na época, a diretora foi acusada de ter usado recursos públicos para fazer a pintura, de saber previamente o que seria ilustrado nos muros e de ridicularização do patrimônio público. No entanto, ela garantiu que a decisão foi tomada no conselho que reúne pais, alunos e professores e que as obras seriam de livre expressão, ou seja, a escola não foi informada antes sobre o teor dos painéis.

"Isso que querem fazer é censura. Em pleno século 21, não posso permitir esse tipo de imposição, que mensagem estaria passando para os meus alunos?", argumentou Heloísa na ocasião.

[SAIBAMAIS]