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É preciso aprender a usar

Experiência com tablet em escola particular do DF ajuda o aluno a assimilar melhor o conteúdo de disciplinas consideradas difíceis, como no caso da física. Mas professores alertam que o bom uso do aparelho depende de conscientização por parte dos estudantes

Um dos maiores argumentos contra os tablets em sala de aula é a perda de foco nas atividades. Mesmo entre os alunos, as reações com a novidade são variadas. Alguns acham desnecessário. Outros, caro demais. Uma parcela se encanta e defende o recurso com afinco. A questão levantada por professores que trabalham diariamente com o computador portátil nas escolas é que a facilidade dos adolescentes com os equipamentos não se traduz em saber usá-los para os estudos.

A estudante Cecília Rauber, 17 anos, cursa o 3; ano no Colégio Marista e teve acesso ao equipamento apenas duas vezes neste ano. Em uma delas, o professor passou um trabalho em grupo e, no entendimento da aluna, o aparelho ajudou a envolver todos os integrantes. ;Nesse caso, tínhamos uma situação-problema para resolver. Todos participaram, o que não acontece normalmente nesse tipo de atividade;, contou. Cecília acredita que, em vez de copiar a matéria em um caderno, poderia usar o tablet para prestar mais atenção ao professor ao fotografar a lousa.

A facilidade de encontrar distrações é um receio da estudante Bruna Lyra, 15 anos. ;Na escola, tem bastante monitoramento nos trabalhos com o tablet, mas, em casa, eu fico bem distraída;, admite a também aluna do Marista. A adolescente considera ter à mão um atrativo para o bem e para o mal. Marina Pimenta, 15 anos, está no 2; ano. Em 2012, fez parte do grupo escolhido para as primeiras aulas com tablet no Maristão. ;Nós poderíamos sair da turma, mas eu gostei da ideia. Só fiquei preocupada com as possibilidades de desviar a atenção. E, realmente, vi vários colegas acessando páginas, além das indicadas pelos professores;, diz. O colégio libera a internet para todos.

No Leonardo da Vinci, a inserção dos computadores portáteis na rotina escolar partiu da iniciativa de um grupo de professores de física. Como a disciplina é temida por muitos alunos, em alguns casos, a responsabilidade de inovar para melhorar o desempenho caía sobre os tutores. ;Desenvolvemos um livro digital com texto, imagem, áudio, vídeo e computação gráfica. Notamos que o aluno passou a compreender em um dia um assunto que levávamos até uma semana para ensinar;, comparou o professor Robert Cunha, idealizador do projeto. A versão para o iPad foi vendida por R$ 170. O estudante também precisaria ter o próprio aparelho.

No início, apenas 10% dos alunos compraram o material. Mas os resultados foram satisfatórios de tal forma que a direção criou um departamento a fim de elaborar os livros didáticos em formato digital para todas as disciplinas. ;O mercado editorial não acompanhou essa evolução. Eles transformam o papel em arquivo para dispositivo móvel. Nós precisamos usar os recursos disponíveis e harmonizá-los para a aula;, sugere Cunha.

Além do treinamento para as novas tecnologias, outra barreira indicada pelo educador é o próprio aluno. ;Eles são conectados, mas usam celular e tablet como ferramentas de comunicação, não de estudo. Levá-los para a sala de aula muda o perfil do instrumento;, alerta. O Leonardo da Vinci espera ter livros do modelo do professor para todas as disciplinas até 2014.

O valor e a real funcionalidade do equipamento, por exemplo, foram motivo de resistência por parte da estudante do 3; ano Isabela Akaishi Padula, 17 anos, do Leonardo. ;O meu pai brigou comigo para comprar. Eu achava que não valia a pena, era caro;, disse. Vencida, ela garante que usa o iPad para estudar. Baixou aplicativos de provas do vestibular, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de vários outros com exercícios. ;Hoje, eu aprendi a usar. Estudo em qualquer lugar;, revela.

Não é o caso do colega Gabriel Maran, 17. ;Eu ganhei um em 2010 e ficava nas redes sociais, vendo sites. Muita gente não está preparada. Eu mesmo já olhei rápido o Facebook e voltei para a aula;, reconhece. Mas Gabriel assegura que aprende física mais fácil com a nova tecnologia.

Segurança
Outra mudança que acompanha o uso frequente do tablet é a atenção com a segurança. O estudante do 3; ano Gustavo Drummond, 17 anos, redobrou os cuidados no caminho da escola. Ele estuda na 914 Norte e mora na 214. Quando carrega o equipamento, prefere usar o ônibus. Sem o aparelho na mochila, segue a pé. ;O número de alunos com o livro digital pode ter sido pequeno por medo de ser assaltado. É caro e você coloca muita informação lá. Não dá para descuidar por nenhum momento;, explica. Quando possível, os pais buscam o garoto no colégio e sempre fazem recomendações de segurança.


3 mil
Total de tablets entregues aos professores de ensino médio das escolas do governo


"Desenvolvemos um livro digital com texto, imagem, áudio, vídeo e computação gráfica. Notamos que o aluno passou a compreender em um dia um assunto que levávamos até uma semana para ensinar;
Robert Cunha, professor de física do Leonardo da Vinci, com os alunos Gabriel (E), Isabela e Gustavo


Sucesso
O iPad foi o primeiro modelo de tablet a ser apresentado no mercado, lançado pela Apple. em janeiro de 2010. Em 2011, 400 mil aparelhos foram adquiridos no país. No ano passado, o número passou para 580 mil.