Como Pedro, cerca de 460 alunos das três unidades do Colégio Leonardo da Vinci se encontram na sede da instituição em Taguatinga para participar da 7; Simulação das Nações Unidas ; OnuVinci. A atividade, complementar às aulas tradicionais da escola, busca estimular os alunos do 8; ano do fundamental ao 3; ano do ensino médio a se aprofundarem em assuntos importantes da agenda mundial.
Eles simulam debates que reproduzem discussões de organismos nacionais e internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, a Organização Mundial da Saúde e até o Supremo Tribunal Federal, corte máxima da justiça no Brasil. Além desses, há uma agência de comunicação, um comitê voltado para estudantes interessados na área de jornalismo, que fazem a cobertura jornalística de todo o evento.
Mesmo que na brincadeira, os estudantes se tornam por alguns dias ministros, delegados, advogados, diplomatas e presidentes, cuja tarefa é decidir questões que podem modificar a vida de pessoas ao redor do mundo todo. O uso de armas biológicas ou os desafios do desenvolvimento sustentável, a crise financeira atual e os problemas da saúde pública no mundo são algumas das questões em debate.
Como é de costume nesse tipo de atividade, o figurino deve ser impecával para manter o ar de reunião oficial. Os participantes entram de verdade no espírito da simulação: amigos de longa data se tratam de maneira formal e com o máximo de decoro; delegados de países muçulmanos, por exemplo, usam indumentárias que marcam a posição religiosa e política da nação que representam. Ao final do evento, os alunos, voluntários nesta atividade, devem entregar um documento apresentando soluções para o problema discutido.
Rotina de líder
De manhã tem aula normal, mas, durante três tardes, até amanhã (27), Pedro deixará de lado os cadernos e a mochila para pensar como o 35; presidente americano fez na vida real durante a crise dos mísseis de Cuba, em 1962. O conflito foi o momento de maior tensão da Guerra Fria, mas tem estimulado a curiosidade de Pedro, do 8; ano, há mais de duas semanas.
;Estudei tudo o que pude sobre o assunto para me sentir preparado e discutir com argumentos de gente grande. Aqui é como se fosse tudo de verdade, e dentro da reunião fica todo mundo meio tenso;, confessa.
O jovem conta que, apesar da pouca idade, sempre se interessou pelo trabalho da ONU, e encontrou na simulação uma forma de se aproximar das atividades que, um dia, pretende exercer profissionalmente. ;Ainda não sei o que quero fazer, mas simular é muito legal. Acho que vou acabar escolhendo alguma profissão parecida com o que fazemos aqui. Além de eu aprender um monte de coisa, perdi a timidez de falar em público e agora organizo melhor minhas ideias quando falo;, enumera.
Pedro precisou voltar correndo para a reunião no comitê da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), do qual participa: ;acabei de emitir uma ordem militar bloqueando os mísseis. Quero ver o que vai acontecer.;
Educação sem fronteiras
Para o coordenador do projeto na escola, o professor de geografia Farid Aguiar, utilizar modelos da ONU é uma forma eficiente de estimular os jovens a se interessarem por assuntos de interesse global. ;Eles se envolvem de verdade com o tema, assumem o papel que representam, e aprendem muito mais em três dias de debates do que durante um bimestre de aulas.;
Simulações como essa são muito tradicionais em escolas americanas e europeias, e existem desde os anos 1920, inspiradas pela antiga Liga das Nações. Modelos de organizações são considerados verdadeiros laboratórios de ciências sociais, onde estudantes podem desenvolver técnicas de oratória, política e diplomacia, além de aprender sobre temas específicos.
Na OnuVinci, por exemplo, enquanto o Comitê de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento discute o problema das guerras biológicas, o fictício STF julga autorização para a venda de um medicamento que tem como composto ativo o principal componente da maconha.
;Desenvolvemos habilidades que não conhecíamos antes, e que são fundamentais para qualquer formação de qualidade.; Saber ouvir, falar na hora certa, usar o vocabulário adequado e aprender a negociar são apenas alguns dos aprendizados do rapaz. ;Sem contar os amigos que fazemos nessas atividades. Entramos em contato com pessoas de outras turmas, de outras séries, e discutimos todos de forma igual.;
Como a simulação interna do colégio capacita os melhores a participarem de modelos intercolegiais, Pedro aproveita modelos para fazer amigos além dos muros da própria escola. ;Já participei de algumas em Brasília, e conheci muita gente nova, o que é ótimo para mim. Ajuda a sair um pouco da bolha;, revela.