Jornal Correio Braziliense

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Desempenho bom, mas longe do ideal

O rendimento dos alunos de escolas públicas e privadas do DF em português e em matemática aparece nas primeiras colocações em levantamento nacional feito por ONG. Ainda assim, os brasilienses estão distantes das metas para 2022

O Distrito Federal divide com o Rio de Janeiro a liderança entre as unidades da Federação com melhor desempenho em língua portuguesa e em matemática ao fim do ensino médio. A capital do país se destaca na primeiro colocação no rendimento com as letras, e o Rio, com os números. Os dois aparecem bem acima da média nacional. Em língua portuguesa, enquanto no Brasil quase 30% dos estudantes aprendem o adequado à série, no DF, o índice chega a 40%. Já em matemática, apenas 10,3% dos brasileiros concluem o ensino médio com conhecimentos mínimos. No Distrito Federal, a taxa é de 15,8%.

Mesmo assim, os brasilienses estão longe das metas parciais estabelecidas para que, em 2022, o Brasil esteja no mesmo patamar alcançado pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda em 2006 (entre eles França, Alemanha, Espanha e Reino Unido e Estados Unidos). Para 2011, em matemática, o esperado era que o índice fosse de 33,9%, quase 18 pontos percentuais acima do apresentado pelo DF. Em leitura, gramática e interpretação de texto, faltaram 8,2 pontos percentuais. Os dados foram divulgados ontem pela ONG Todos pela educação no relatório anual De Olho nas Metas 2012.

Para muitos alunos, o resultado do levantamento reflete a realidade. Ao ouvir sobre a pesquisa, a estudante de odontologia Beatriz de Sousa Mendes, 18 anos, foi logo dizendo: ;Eu sou péssima em matemática. Até chegar ao ensino médio, eu tirava notas boas. Depois, foi um desastre. Não conseguia entender geometria, e o meu professor não tinha paciência para me explicar;, conta a jovem, que desistiu de engenharia civil por causa de matemática.

[SAIBAMAIS]A principal preocupação da entidade responsável pelo estudo é exatamente criar iniciativas para melhorar o aprendizado de alunos como Beatriz. ;Não há nenhuma política realmente grande para resolver a questão. Tem a Olimpíada da Matemática, que premia, mas não serve para alavancar ninguém. Esse resultado me indignou;, critica a diretora executiva da Todos pela educação, Priscila Cruz.

O brasileiro pode até se embaralhar mais com os números, mas as letras também são um problema. Os amigos Eduardo Rodrigues, 17 anos, e Bárbara Souza, 18, se preparam para o vestibular de medicina e de arquitetura, respectivamente. Ele afirma ser bom em matemática, e ela, em português. ;Nunca consegui gostar da matéria. Acho o método equivocado. Já a matemática sempre fez sentido para mim;, compara Eduardo. ;Eu tenho aversão a matemática. O professor exerce uma grande influência para o aluno gostar e aprender uma disciplina. Tive bons e maus educadores, mas nunca consegui aprender bem a matemática;, reconhece Bárbara.

Acima da média
Para Priscila Cruz, se investimento fosse garantia de resultado, a realidade brasiliense seria ainda melhor. ;O DF já esteve melhor em outros levantamentos. Hoje, é uma prova de que investimento sem gestão adequada não é um bom casamento para conseguir qualidade. Não adianta ter bons planos no gabinete e não concretizar em educação boa nas escolas;, alertou. Ao todo, a ONG Todos pela educação acompanha cinco metas. A de análise do desempenho dos alunos é a terceira.

O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, explica que a avaliação da rede de ensino do DF precisa levar em conta uma particularidade. ;É um dos maiores custos de aluno do Brasil e, por isso, deveria estar bem acima da média;, pontua. Na análise de Daniel, ainda é preciso pagar melhor os professores, embora esteja próximo disso. ;Acredito que a melhoria também seja estrutural, resultado de uma rede mais organizada;, avalia.

Particulares fazem a diferença

Quando o ranking da ONG Todos pela educação trata apenas de escola pública, o Distrito Federal perde algumas posições no estudo. Nesse caso, ao fim do 3; ano do ensino médio, por exemplo, enquanto o DF aparece, no geral, como a unidade da Federação com o maior índice de alunos com conhecimentos em língua portuguesa acima do adequado, o DF sai da liderança e fica em terceiro lugar.

Em matemática, ao fim do mesmo período, a situação é ainda pior. A capital cai do segundo para o quinto lugar. E o índice praticamente é derrubado pela metade, de 15,8% para 7,9%. O cenário também se repete na conclusão do ensino fundamental. Sai do segundo para o terceiro lugar em língua portuguesa, e do segundo para o quarto em matemática.

A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Fátima Mello Franco, atribui o melhor desempenho das escolas particulares a dois fatores: agilidade na gestão focada em metas e projeto pedagógico diferenciado. ;Cada escola trabalha com um programa e tem a meta de sucesso dos seus alunos, o que faz com que o processo de aprendizado seja mais eficaz;, avalia.

Ela destaca ainda que essas instituições puxaram os índices para cima por ter a possibilidade de trabalhar a partir de um esquema mais bem definido. ;Não só para atingir esses índices, mas também porque queremos que todos tenham um bom rendimento;, explica.

Por outro lado, o coordenador de Ensino Médio da Secretaria de Educação do DF, Gilmar de Souza Ribeiro, explica que o principal problema das escolas públicas é a situação dos estudantes no primeiro ano. ;A taxa de reprovação é muito alta;, explica. Apesar de considerar o rendimento dos alunos ao fim dessa etapa do ensino positivo, Gilmar reconhece que tem muito a avançar. ;Vamos fazer ações para melhorar cada vez mais e chegar à meta. Estamos reestruturando o nosso currículo, o que vai facilitar o aprendizado do aluno, pois ele terá mais tempo de aula e menos disciplinas por semestre;, revela.